As 2.731 secções de voto do Chile abriram este sábado, para as eleições mais importantes da história recente do país, em que será eleita a assembleia que irá redigir nova Constituição, para substituir a atual, em vigor desde a ditadura. A Assembleia Constituinte, formada por 155 cidadãos, terá 17 assentos reservados aos povos indígenas e será igualitária, algo inédito no mundo e que, em poucos meses, fará do Chile o primeiro país a ter uma Constituição escrita em partes iguais, por homens e mulheres.

Também será a primeira vez que, nos seus 200 anos de independência, o Chile terá uma Lei Fundamental redigida por uma convenção de cidadãos eleitos, uma vez que os três textos constitucionais que teve até agora foram escritos por órgãos não eleitos pelo voto popular, em 1833, 1925 e 1980.

As eleições, que foram adiadas em abril por causa da pandemia de covid-19, são realizadas em dois dias para evitar aglomerações, num momento em que a pandemia abranda na maior parte do país e o processo de vacinação avança, com quase 50% da população-alvo (15 milhões) vacinados com as duas doses.

“Vão votar, terão toda a segurança para não se infetarem. Vacinámos mais de nove milhões de pessoas com, pelo menos, uma dose. (…) Este é um processo sem precedentes no Chile”, disse o ministro da Saúde, Enrique Paris.

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As secções eleitorais ficarão abertas nos dois dias, até às 18:00, hora local (23:00 em Portugal continental), com horários especiais para a população mais velha, e as urnas serão lacradas e guardadas por mais de 23.000 efetivos das Forças Armadas, na noite de sábado.

A revogação da atual Constituição, alvo de críticas por causa da origem ditatorial e da perspetiva neoliberal, foi decidida num histórico plebiscito em outubro passado, resultando de uma das principais exigências dos protestos de 2019 – os mais graves desde a ditadura militar, com cerca de 30 mortos e milhares de feridos.

Os partidos de direita que formam a coligação governamental vão a eleições numa única lista, o que poderá beneficiá-los devido ao sistema de distribuição/ponderação de resultados, enquanto a oposição de esquerda não chegou a acordo e inscreveu várias listas. Há também uma grande presença de candidatos independentes como advogados, pensionistas, sindicalistas, feministas e académicos o que, no entender de especialistas, prova a existência de descontentamento com os políticos.

Paralelamente aos constituintes, os mais de 14,9 milhões de eleitores elegerão os 354 presidentes de Câmara, 2.252 vereadores e 16 governadores regionais, uma figura que até agora era designada pelo Governo, fazendo avançar a descentralização do país.

O Chile era um dos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE), juntamente com a Turquia, que não elegia as suas autoridades regionais como fazem os países vizinhos da Argentina e Peru.