Os dois principais partidos independentistas da Catalunha chegaram a um pré-acordo, esta segunda-feira, para formar um governo regional de coligação. Desbloqueando o impasse que vigorava desde as eleições autonómicas de 14 de fevereiro, evitam a repetição de eleições naquela região de Espanha.
A Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), o partido independentista mais votado nas regionais, informou ter chegado a um acordo de princípio com o Juntos pela Catalunha (JxC, independentista e ligado ao ex-presidente Carles Puigdemont) para viabilziar a investidura de Pere Aragonès, da ERC, como presidente do novo governo regional.
As equipas negociadoras dos dois partidos continuam a trabalhar para finalizar o acordo. O anúncio é feito a nove dias do prazo para investir um novo presidente do governo regional e evitar a repetição das eleições.
Segundo o comunicado de imprensa da ERC, as duas partes pedem desculpa por terem levado tanto tempo a fechar o acordo e afirmam estar empenhadas em “construir um governo que procure reconstruir a confiança com os cidadãos da Catalunha, a máxima confiança entre parceiros”. Incluem nesse pacto a “colaboração e trabalho conjunto com a CUP”, isto é, a Candidatura de Unidade Popular, outra força política independentista de extrema-esquerda.
O objetivo não é outro senão servir o país e o seu povo da melhor maneira possível, governar para todos e, ao mesmo tempo, avançar para o objetivo comum da independência sob a forma da República Catalã”, sublinha ainda o comunicado.
Três anos e meio após a tentativa fracassada de secessão, em outubro de 2017, os partidos pró-independência reforçaram a maioria absoluta nas eleições regionais de fevereiro, com 74 dos 135 assentos do parlamento regional. No entanto a ERC (33 deputados) não pode sozinha fazer eleger o seu candidato, um advogado de 38 anos. Precisa do apoio do JxC (32 lugares) e da CUP (9).
As relações entre a ERC e o JxC, que governam a região em conjunto desde 2015, deterioraram-se em 2017. Depois do referendo ilegal, da declaração unilateral de independência (logo revogada) e da suspensão da autonomia pelo Governo espanhol, a ERC abandonou a estratégia de rutura unilateral com Madrid e optou pelo diálogo com o executivo de esquerda liderado pelo socialista Pedro Sánchez.
Puigdemont, fugido para a Bélgica, exige a continuação da via unilateral. Evitou o destino de outros nove políticos que foram presos, incluindo o presidente da ERC, Oriol Junqueras, que fora seu vice-presidente entre 2016 e 2017.
Um acordo entre os partidos separatistas assegurou a eleição como presidente do parlamento regional de Laura Borràs, do JxC. Isto apesar de o PSC (Partido Socialista da Catalunha, associado ao PSOE) ter sido a formação mais votada e ter o mesmo número de deputados regionais (33) que a ERC, a qual ficou em segundo lugar.
O PSC ganhou as regionais (23,0% e 33 deputados), mas a soma dos partidos separatistas reúne maioria absoluta de votos e de lugares no parlamento regional. A ERC (21,3%, 33 deputados) substituiu o JxC (20,0%, 32 lugares) como maior formação independentista.
As eleições de 14 de fevereiro também foram marcadas pela subida do Vox (extrema-direita), que ficou em quarto lugar com 7,6% e 11 deputados, seguido da CUP com 6,7% e nove deputados e da frente esquerdista Em Comum Podemos (associado ao Podemos) com 6,9% e oito deputados.
O grande perdedor das eleições foi o Cidadãos (direita liberal). Nas eleições de 2017 concentrou o voto útil dos constitucionalistas (pela união de Espanha) que agora fugiu para o PSC. O partido caiu de 25,3% para 5,5% e de 36 para apenas seis deputados. Por último, o Partido Popular (PP, direita) obteve 3,8% e três lugares no novo parlamento regional.