O conflito israelo-palestiniano, o mais longo conflito armado da história contemporânea, atravessa esta semana um dos períodos mais violentos dos últimos anos. Só nos ataques de domingo terão morrido pelo menos 42 pessoas na faixa de Gaza, enclave palestiniano entre Israel e o Egipto, controlado pelo Hamas (considerado um grupo terrorista pela UE, por Israel e pelos EUA), onde as tensões se agudizaram nos últimos dias e deixaram evidente o enorme desequilíbrio entre o poderio militar dos dois lados.
Depois de semanas de tensão em Jerusalém oriental, o conflito voltou a eclodir. A partir de Gaza, o Hamas tem atacado Israel com recurso a rockets. Já Israel tem respondido com grandes bombardeamentos, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu promete continuar com “força total” enquanto “for necessário”. É do lado de Gaza que o número de vítimas tem sido mais significativo: só no domingo terão morrido pelo menos 10 crianças entre as quase cinco dezenas de vítimas. Em Israel já morreram 12 pessoas devido aos rockets lançados pelo Hamas.
Do conflito têm chegado imagens impressionantes, sobretudo dos bombardeamentos israelitas em Gaza que têm provocado enorme destruição na região — mas também da Iron Dome, ou Cúpula de Ferro, o imponente sistema de defesa anti-míssil de Israel que até agora conseguiu neutralizar cerca de 90% dos mais de 2 mil rockets lançados a partir de Gaza nos últimos dias.
Como explica a BBC, a Iron Dome é um dos sistemas de defesa militar mais avançados do mundo e foi desenhada especialmente para proteger a complexa posição geográfica de Israel, cercado de países árabes com os quais mantém conflitos armados ativos ou latentes. Devido às especificidades do território israelita, a principal ameaça são os ataques de curto alcance — para os quais a Iron Dome foi pensada.
É preciso recuar até ao verão de 2006 para encontrar as raízes deste sistema de defesa. Na guerra do Líbano de 2006, um dos capítulos do já longo conflito israelo-árabe, o grupo armado Hezbollah lançou milhares de rockets contra Israel, matando dezenas de pessoas e causando enormes danos materiais no território israelita. Na sequência desse período de violência, Israel decidiu investir num novo sistema de defesa contra rockets, que foi encomendado à empresa de segurança israelita Rafael Advanced Defense Systems e à empresa de aeronáutica Israel Aerospace Industries. O sistema foi desenvolvido com apoio dos Estados Unidos.
The skies of Tel Aviv tonight as the Iron Dome missiles are shot into the sky to blowup the incoming rockets from Gaza. Just surreal. pic.twitter.com/zXgAaU5tF6
— Louis Fishman لوي فيشمان לואי פישמן (@Istanbultelaviv) May 11, 2021
Capaz de funcionar em quaisquer condições atmosféricas, a Iron Dome baseia-se num sistema de deteção de ameaças por radar. Assim que a rede de radares deteta o lançamento de um rocket, envia toda a informação em tempo real para o centro de controlo, onde são feitos os cálculos que determinam automaticamente o local estimado para o impacto do rocket. Com essa informação, o sistema avalia também o risco para a população e, em poucos segundos, determina se o rocket vai cair numa zona povoada ou não.
Caso a previsão aponte para o impacto numa região habitada, o sistema dispara de modo automático um míssil de interceção a partir de um dos dez locais de lançamento espalhados por todo o país. A missão do míssil de interceção é simples: vai, de modo teleguiado, atrás do rocket e explode junto a ele ainda a grande altitude, inutilizando-o e transformando-o em detritos — que depois caem em terra. Por esse motivo, os sistemas de alerta israelitas mantêm as sirenes ligadas durante um período depois das explosões, para evitar que os cidadãos andem na rua durante a queda dos detritos.
O porta-voz das forças armadas israelitas, Jonathan Conricus, disse esta semana que a Iron Dome tem sido um “salva-vidas” e que “o número de israelitas mortos ou feridos seria muito maior se não tivesse sido a Iron Dome“. Todavia, como lembra também a BBC, alguns analistas militares notam que o avançado sistema israelita possa estar a chegar ao seu limite — e que o Hamas já o tenha percebido. Com dez estações de lançamento por todo o país, cada uma com três ou quatro lançadores de mísseis que têm capacidade para 20 mísseis cada um, o sistema tem um limite numérico. Nas últimas semanas, têm sido lançados centenas de rockets a partir de Gaza, o que pode indiciar que o Hamas está a tentar testar os limites do sistema de defesa de Israel.