Quando há três anos foi eleita com mais de 85% dos votos dos delegados, Catarina Martins não tinha números que lhe permitissem perceber o peso efetivo da oposição interna. Os mais críticos não se apresentaram a votos, optaram por subscrever a moção da direção, e a contestação interna não tinha como ser medida nos órgãos nacionais do partido.

Esta é a primeira vez que os críticos se apresentam efetivamente a votos e os resultados estão longe de ter sido maus. A oposição fez-se ouvir em Matosinhos mas, desta vez, não se ficou por aí e teve força suficiente para baixar em 20 pontos percentuais o resultado da direção do Bloco, pela qual Catarina Martins dá a cara há sete anos. Saem de Matosinhos com um terço dos mandatos da Mesa Nacional e ainda representação na Comissão de Direitos do partido.

Contas feitas, dos 80 mandatos para a Mesa Nacional, 26 ficam para os críticos. 17 cadeiras ficaram para a moção E, de Mário Tomé e do ex-deputado Pedro Soares (por exemplo), com algumas das vozes que mais efusivamente apontaram críticas à direção e ao caminho escolhido pelo Bloco, como Bruno Candeias, a conquistar um dos mandatos da Mesa Nacional, tal como o militar de Abril Mário Tomé. A moção N (que resulta de uma divisão da E) consegue cinco mandatos na Mesa Nacional e aos críticos da C ficam com quatro.

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É certo que não serão todos caras novas na Mesa Nacional, já que alguns dos críticos em 2018 optaram por, ainda assim, subscrever a Moção A, como Pedro Soares por exemplo, mas ganham maior peso sem qualquer sombra de dúvida.

Além dos mandatos na Mesa Nacional do Partido, a moção E e Q conseguem ainda dois dos sete mandatos para a Comissão de Direitos.

Catarina Martins sai reeleita, mas com 20 vezes menos motivos para estar tranquila. Ouviu acusações de que a moção que apresentou à Convenção se furtou ao debate e que veio apenas “fazer um comício para a comunicação social”, de que internamente há pouco quem esteja preocupado com as estruturas locais do partido e que também já é tempo de acabar com o “parlamentarismo” que tem guiado o partido e, acusam, sufoca os aderentes nas bases.

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Catarina Martins diz que “não há nenhum outro partido que cumpra regras de debate plural” como o Bloco de Esquerda e que assim continuará, mas será forçada a fazer a esse debate. Os críticos vieram até Matosinhos já avisaram ao que vão: se não forem ouvidos internamente não terão problemas “em levar para fora” o que for abafado pela direção.

O que disseram os críticos? Esquerda “murcha” e esgotada

Apesar de minoritários, os críticos apontaram duras críticas a Catarina Martins. Alexandre Frias, um dos subscritores da moção Q — “Quebrar Correntes, Lutar Pelo Socialismo” —, referiu-se ao Bloco como parte de uma “esquerda social-democrata murcha e fraca”

“Acho que estamos fracos, que nos tornamos fracos, que somos incapazes de dirigir as discussões, que reagimos e respondemos em vez de marcamos a discussão a nível nacional”, afirmou Alexandre Frias.

Bruno Candeias, da moção E, por exemplo, acusou a direção de ter “enfiado a cabeça na areia” e de não reconhecer os erros.

“A moção A não quis vir ao debate, preferiu vir ao debate tentando transferir a atual convenção num comício. Sabe que errou quando não desafiou o PS a um novo acordo a meio da legislatura. Continuará a errar enquanto do alto da sua sobranceria fizer da linha a disputa por migalhas do PS“, disse.

“Insistimos em reformar não abdicando do programa revolucionário e socialista que nos caracteriza. Falhar com isto é falhar a nós próprios, ao povo e aos trabalhadores”, rematou.