O BE quer muito ser parte nas negociações do próximo Orçamento do Estado, mas aquilo que quer pouco (ou nada difere) do que reclamou no ano passado, quando ficou de fora. Havia essencialmente quatro exigências — sobre a banca, o SNS, o emprego e a proteção social — e a tónica por estes dias vai ficando do lado das leis laborais.

Em entrevista ao Observador, o deputado José Soeiro deixou um recado claro aos socialistas: “O PS não pode querer o apoio da esquerda para que valide a manutenção das regras laborais da direita”. As alterações às leis laborais são necessárias, a líder parlamentar do PS já admitiu essa hipótese e se os socialistas estiverem interessados em dialogar com o Bloco terá mesmo que haver mudanças nessas regras que, lembra o BE, também não agradavam ao PS quando foram impostas pelo governo do PSD/CDS. Ainda assim, o BE não quer ser o parceiro inquebrável e Soeiro justifica: “não estamos a dizer que o Bloco só negoceia a totalidade do seu programa, estamos a falar de algumas questões fundamentais”.

Já depois de José Gusmão ter pedido no palco para que o PCP dê a mão ao BE para que a pressão à esquerda seja maior, Soeiro sublinha a ideia e diz que “se a esquerda falar mais entre si, se for mais exigente tem mais condições para obrigar o PS a infletir a sua posição” nomeadamente nas áreas do trabalho.

Mas há uma diferença entre PCP e BE. É que depois do chumbo no Orçamento, o Bloco assiste agora no sofá à pressão que o PCP tem legitimidade em fazer para que o Orçamento seja executado, reunindo outros argumentos para conquistar um lugar à mesa das negociações.

Quase um ano depois, ainda há tempo para justificar o voto contra, também com a velha máxima do “nós avisámos”. O deputado José Soeiro lembra as discrepâncias “entre o que foi anunciado e o que estava no detalhe técnico do Orçamento” e frisa que a solução não é “ficar por anúncios ou acordos de princípio”.

“A nossa estratégia tem sido a de que quando discutimos o orçamento estamos a discutir a resposta global, do ponto de vista da política económica e social. Nessa resposta, ainda que o código do trabalho não seja Orçamento puro e duro, também deve estar integrado no debate orçamental, por isso é que insistimos”, afirmou.

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