O Novo Banco fez uma proposta ao Fundo de Resolução para vender a dívida do antigo grupo Lena, na sequência de uma proposta feita aos três maiores credores bancários por parte de gestores do grupo de Leiria. A decisão de avançar com a operação está nas mãos do Fundo de Resolução, confirmou esta terça-feira o diretor de recuperação de créditos de empresas da instituição bancária.

A oferta foi feita aos três bancos. Um deles (o BCP) terá já vendido, mas a Caixa Geral de Depósitos não, indicou Daniel Santos na comissão parlamentar de inquérito às perdas do Novo Banco. O preço não foi revelado, mas deverá implicar um desconto significativo face ao valor das dívidas. Ainda assim, defendeu Daniel Santos, será mais favorável do que uma execução judicial que traria apenas 2 a 3 milhões de euros para o Novo Banco. Mas não especificou se a dívida de 210 milhões de euros do antigo grupo Lena (atual Nov) era aos três bancos ou apenas à instituição liderada por António Ramalho.

O responsável foi questionado sobre esta operação relacionada com um grande devedor do Novo Banco que até agora tem estado de fora dos radares desta comissão de inquérito. O antigo presidente do grupo Lena, Joaquim Barroca, chegou a ser ouvido como grande devedor no inquérito parlamentar à Caixa Geral de Depósitos.

O deputado do PSD Hugo Carneiro quis saber se o Fundo de Resolução já tinha dado o OK a esta proposta de venda, uma vez que a dívida do grupo Lena (atual Nov) fará parte dos ativos protegidos pelo mecanismo de capital contingente. O diretor do Novo Banco começou por sublinhar que a dívida do grupo tinha sido reduzida de 320 milhões de euros para pouco mais de 200 milhões de euros, graças à recuperação de ativos no valor de mais de 100 milhões de euros. Um desses ativos, noticiado pelo Observador, foi a participação no consórcio ELOS que reclama uma indemnização ao Estado pela anulação do contrato da alta velocidade (TGV).

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A situação do Grupo Lena está a ser acompanhada na plataforma de gestão de crédito malparado lançada em 2018 para encontrar as melhores soluções para empresas com dívidas em risco a vários bancos. Em causa está um grupo de grande dimensão e de atividade diversificada (tem negócios em vários setores desde a hotelaria à comunicação social, passando pela construção) e com muitos trabalhadores. Os credores tentaram por isso encontrar investidores, num processo que foi difícil, reconheceu o diretor do departamento de recuperação.

Quem apareceu com uma oferta foi a equipa de gestão que propôs comprar os créditos aos bancos — Daniel Santos não indicou qual será o desconto associado. A proposta prevê apoio financeiro da banca — também não clarificou se serão os três bancos credores a financiar a compra — para injetar dinheiro nas empresas e recuperá-las. O responsável revelou que houve um “grande debate” dentro da plataforma, o que levou à tomada de posições distintas dos três bancos. Um deles (o BCP) terá vendido. O Novo Banco quer vender e aguarda luz verde, enquanto a Caixa não aprovou.

Daniel Santos alertou ainda para o impacto na demora sobre esta decisão (não foi indicado quando é que a proposta de venda foi apresentada ao Fundo de Resolução) considerando o atual estado da empresa que se vai degradando se não forem tomadas medidas.

Questionado sobre a opção do Novo Banco de vender esta dívida, o diretor do departamento de recuperação de crédito às empresas explica que será a melhor solução para o banco face ao estado em que está o grupo. E refere uma auditoria realizada pela PwC  sobre a expetativa de recuperação num cenário de execução judicial que para o Novo Banco daria apenas dois a três milhões de euros. “Seria miserável”, face ao valor da dívida. O valor proposto para comprar a dívida no quadro do MBO (aquisição pelos quadros) é superior, ainda que não o tenha revelado.