“Essencialmente, precisamos de mudar o paradigma urbanístico da cidade e de tentar ter uma autarquia que seja mais resiliente em futuras crises”, começa por explicar Pedro Simas ao Observador, numa espécie de introdução ao plano de doze páginas tornado público esta sexta-feira pelo cientista, no âmbito da candidatura de Carlos Moedas à Câmara Municipal de Lisboa e que já tinha sido anunciado pelo social-democrata — Pedro Simas, virologista, professor universitário e investigador do Instituto de Medicina Molecular, é um dos mais de 50 independentes que estão a apoiá-lo e ajudá-lo na corrida.
Partindo dos problemas identificados nesta — “sobrecarga do sistema de saúde, proteção dos grupos de risco, funcionamento da cidade com os diferentes níveis de confinamento e dificuldade em comunicar ciência” — o especialista elencou uma série de estratégias para preparar Lisboa para uma futura pandemia. “Há duas coisas óbvias: vamos ter de lidar com um grande aumento de pessoas doentes, por isso é essencial perceber na cidade onde se podem montar hospitais de campanha fácil e rapidamente — pode acontecer daqui a 5, a 10, a 50 ou a 100 anos, não podemos criar infraestruturas permanentes; e temos de manter a cidade a funcionar, apesar das restrições de funcionamento, por isso precisamos de ter uma cidade mais inclusiva, que seja um mosaico de freguesias, auto-suficientes e com uma economia mais circular“, resume ao telefone com o Observador.
“Um dos grandes problemas de Lisboa é que 70% dos trabalhadores vem de fora. Se 30% da habitação for de renda acessível e se criarmos a tendência de as pessoas viverem a 15 minutos do trabalho, isso pode deixar de ser um problema“, sugere, fazendo questão de frisar que não é político e que o plano não encerra promessas eleitorais, apenas aponta caminhos a seguir, no sentido de uma Lisboa “mais resiliente, mais justa e mais sustentável”. No e-mail enviado esta sexta-feira para as redações, a dar conta da publicação do plano, Carlos Moedas já tinha entretanto apontado o dedo ao atual presidente da autarquia: “A impreparação e falta de liderança revelada por Fernando Medina nas últimas semanas demonstra bem a necessidade de Lisboa estar mais bem preparada para minimizar os impactos em setores fulcrais na cidade como a hotelaria, a restauração, o comércio local ou a capacidade de resposta das unidades de saúde”.
Dividido em seis pontos — Lisboa “mais saúde”, “mais proteção”, “mais próxima”, “mais resiliência”, “mais natureza”, mais ciência” e “mais azul” —, o plano, desenvolvido pelo cientista com a colaboração de dois consultores e de um sismólogo, defende a necessidade de investimento nas forças de segurança e na proteção civil; e a criação de novos modelos de equipas de apoio domiciliário, para que, sempre que possível, os idosos possam permanecer nas respetivas casas em vez de terem de ser internados em lares. “É também necessário criar um programa público-privado de estímulo à renovação urbana sustentável, de modo a identificar edifícios que possam ser utilizados como lares de residência. Garantindo que os estes ‘lares’ coexistem com os de famílias e jovens — todas as gerações — os mais velhos nunca estariam sozinhos e poderiam contribuir com o seu tempo para apoiar os mais novos”, pode ainda ler-se no documento. O plano defende, ainda no capítulo dos idosos, que “cada freguesia deve assegurar deslocações a casa para primeiras consultas de medicina geral e familiar”.
A descentralização dos serviços públicos da cidade bem como a digitalização dos processos de administração municipal também poderá ajudar a manter a cidade em movimento e a reduzir riscos de transmissão em casos de futuras pandemias, acrescenta o documento. “É também crucial que o acesso à Internet em Lisboa seja grátis e de boa qualidade em toda a cidade“, pode ler-se ainda.