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Já é conhecida a moção estratégica de André Ventura. Num documento com sete páginas, o líder do Chega é taxativo: o partido não fará acordos de incidência parlamentar para viabilizar um eventual governo do PSD. Ventura só admite fazer parte da solução se o partido integrar esse Executivo.
Na moção, a formulação usada por Ventura é cristalina: “Uma solução de mero apoio parlamentar será para o partido ainda mais nociva do que a situação atual.”
“O objetivo do partido deverá ser agora, sem dúvidas ou tibiezas, o Governo de Portugal. As mudanças que temos de efetuar, o combate feroz à corrupção, a reforma da justiça, a dignificação dos polícias, médicas, enfermeiros, professores e de todos os que estão na linha da frente contra esta pandemia, a reforma do sistema fiscal e a reforma global do sistema político”, argumenta Ventura.
De resto, o líder do Chega insiste que o partido “não deverá” abdicar da “participação ministerial num governo eventualmente liderado pelo PSD”, caso contrário não terá “garantias” de que a “governação social-democrata (mesmo com centristas e liberais) será substancialmente diferente daquela que atualmente é conduzida pelo primeiro-ministro António Costa.”
Baralhando e dando de novo: o líder do Chega não quer replicar o que aconteceu nos Açores na Assembleia da República.
Chegar aos 15% e preparar luta na clandestinidade
Noutra passagem, André Ventura define os três grandes objetivos imediatos do partido.
- “Conseguir forte implementação autárquica, conseguindo representação ao nível das assembleias de freguesia, assembleias municipais e câmaras municipais do país todo”;
- “Alcançar o terceiro lugar em termos de número de votos nacionais nas eleições autárquicas deste ano”;
- “Consolidar e preparar o Partido para alcançar 10% – 15% dos votos nas próximas eleições legislativas e tornar-se assim indispensável à formação e viabilização de qualquer Governo.”
Noutro ponto, Ventura entende que este congresso deverá “definir os termos e os modos de luta e resistência caso o sistema remeta o partido para a ilegalidade e para a clandestinidade“.
A recusa da moderação e a resposta aos críticos internos
Ainda que nunca concretize exatamente quem são os críticos internos, André Ventura mais do que uma vez — e já o fez neste Congresso — fala para os seus adversários que existem no partido e que vão exigindo que o partido deixe cair uma parte da agenda mais radical e se modere.
Ora, tal como no arranque dos trabalhos, o líder do Chega deixa claro na moção que o partido, enquanto for ele o líder, jamais inverterá o rumo.
“Em termos internos, este Congresso deverá deixar claro que o caminho seguido até agora é o correto, afastando apelos de moderação ou de menor intensidade de ação, quer devido aos clamores dos restantes partidos de direita, quer devido a um eventual receio de ilegalização”, argumenta Ventura. “Foi a assertividade e a desinibição política que nos trouxeram até ao patamar em que estamos hoje. Não devemos, nesta ótica, mudar de rumo.”
“Lavar de roupa suja” preocupa
O líder do Chega assume, mais uma vez, que os problemas internos no partido são uma questão que preocupam a atual direção e que as discussões nas redes sociais são prejudiciais ao Chega.
“A minha proposta é que a firme aplicação de regras de ética e disciplina se mantenha, mesmo com as conhecidas dificuldades de aplicação”, começa por reconhecer Ventura, antes de acrescentar:
“É fundamental não voltar ao tempo em que as redes sociais serviam quase exclusivamente para lavar roupa suja e perturbar o crescimento externo do partido e a sua boa imagem.”