Várias dezenas de emails enviados e recebidos por Anthony Fauci durante o início da pandemia do novo coronavírus foram divulgados na íntegra esta terça-feira pelo The Washington Post e o Buzzfeed, que tiveram acesso a centenas de mensagens ao abrigo da Lei da Liberdade de Informação. Os emails, de março e abril do ano passado, revelam um pouco dos bastidores da luta contra a Covid-19 nos EUA e como, apesar da relação tensa com Donald Trump, Fauci não deixou de ser considerado e consultado para todo o tipo de decisões.
De acordo com as contas do Washington Post, a certa altura, o diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas recebia cerca de mil emails por dia de colegas, administradores de hospitais, governos estrangeiros e até de desconhecidos, que lhe escreviam pedindo conselhos, ajuda ou para agradecer a Fauci pelo trabalho realizado. Foi isso que fez Freddie Barnes, um veterano militar da Carolina do Norte que escreveu ao imunologista a 26 de março de 2020 para expressar a sua “profunda apreciação” pelo trabalho desenvolvido em resposta à pandemia.
Anthony Fauci procurava responder a todas as mensagens o mais rapidamente possível e algumas respostas foram enviadas já bem depois da meia-noite. O ritmo de trabalho era a certa altura tão elevado que, num email de 18 de fevereiro citado pelo Buzzfeed, o imunologista revelou que, nos últimos dez dias, só tinha visto a mulher, Christine Grady, durante 45 minutos. Numa outra mensagem, admitiu que estava “realmente esgotado” e que andava a dormir pouco.
A situação levou a que Emilio Emini, da Fundação Bill & Melinda Gates, se mostrasse preocupado com o estado de saúde do diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas. Num email de 3 de abril, na sequência de uma conversa telefónica entre Fauci e Gates relacionada com um esforço global de vacinação contra a Covid-19, dois dias antes, Emini disse: “Vejo-o na televisão quase todos os dias e, apesar de continuar a ter uma energia considerável, estou seriamente preocupado consigo. A nação e o mundo precisam absolutamente da sua liderança”.
Durante este período, Fauci recebeu vários emails de George Gao, diretor do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças chinês. Gao, um amigo de longa data do imunologista norte-americano, escreveu a Fauci manifestando preocupação também e procurando dar-lhe apoio no meio dos ataques dos apoiantes de Trump. A 8 de abril, o cientista chinês comunicou ao especialista norte-americano que “tinha visto algumas notícias”, que esperava serem falsas, sobre certos “ataques feitos por algumas pessoas”. “Espero que estejas bem, numa situação tão irracional”, desejou.
Três dias depois, Fauci respondeu: “Obrigado pela tua nota gentil. Está tudo bem apesar de algumas pessoas malucas neste mundo”.