O jornalista e ativista bielorrussa Roman Protasevich, detido há quase duas semanas depois de o avião da Ryanair em que seguia ter sido desviado para Minsk por ordem do Presidente Alexander Lukashenko, apareceu num novo vídeo a “confessar” os crimes de que está acusado e a elogiar o chefe de Estado bielorrusso.
Numa entrevista transmitida pela televisão estatal bielorrussa na quinta-feira, Protasevich, de 26 anos, surge, tal como no vídeo em que apareceu no dia seguinte a ser detido, visivelmente perturbado e nervoso, e volta a dizer que é responsável por organizar protestos contra Lukashenko, apelando ainda aos seus aliados para não voltarem a sair às ruas e para se distanciarem de Svetlana Tikhanovskaia.
Really uncomfortable to watch this. A battered Roman Protasevich appears on Belarusian state TV to praise autocrat Aleksandr Lukashenko, 10 days after the dissident blogger was taken off the Ryanair flight that was forced to land in Minsk. A volte-face that’s very hard to believe pic.twitter.com/escJriEtfX
— Matthew Luxmoore (@mjluxmoore) June 3, 2021
Além de admitir os alegados crimes, o antigo editor do Nexta, um canal do Telegram — que transmitiu em direto os protestos contra Lukashenko e é considerado como uma das principais fontes de informação da oposição, — elogia Lukashenko e faz acusações à Polónia e à Lituânia, afirmando que os dois países em que esteve exilado apenas são assertivos nas críticas ao regime de Lukashenko por desejarem a “aprovação” do Ocidente.
Na primeira vez que apareceu num vídeo sob custódia do regime, a família de Roman Protasevich e os seus aliados políticos não tiveram dúvidas em afirmar que o jornalista foi forçado a “confessar” os crimes de que é acusado, provavelmente sob tortura. No vídeo transmitido pela televisão estatal bielorrussa, as críticas repetem-se.
It’s painful to see “confessions” of Raman Pratasevich. His parents believe he was tortured. This is not Raman I know. This man on Goebbels’ TV is the hostage of the regime, and we must make all possible to release him and the other 460 political prisoners. pic.twitter.com/a0Ts833hZk
— Franak Viačorka (@franakviacorka) June 3, 2021
“É doloroso ver as ‘confissões’ de Roman Protasevich. Os seus pais acreditam que ele foi torturado. Este não é o Roman que eu conheço. Este homem na televisão de Goebbels é refém do regime e devemos fazer todo o possível para o libertar, tal com aos outros 460 presos políticos”, afirmou no Twitter Franak Viacorka, conselheiro de Svetlana Tikhanovskaia.
Roman Protasevich foi detido no passado dia 23 de maio, quando seguia num voo de Atenas com destino a Vilnius. Quando o avião da Ryanair entrou em espaço aéreo bielorrusso, uma suposta ameaça de bomba levou a que o avião fosse desviado para o aeroporto de Minsk, com o jornalista, juntamente com a sua namorada Sofia Sapega, a ser detido pelas autoridades bielorrussas. Está acusado de organizar protestos contra o regime de Lukashenko e pode enfrentar 15 anos de prisão.
Em resposta à detenção de Roman Protasevich e ao desvio de um avião de uma companhia área europeia num voo entre duas capitais europeias, a União Europeia, tal como os Estados Unidos, anunciaram que vão impor novas sanções ao regime de Lukashenko.