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Svetlana Tikhanovskaia em visita oficial a Portugal
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Svetlana Tikhanovskaia em visita oficial a Portugal

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Svetlana Tikhanovskaia em visita oficial a Portugal

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Svetlana Tikhanovskaia: “Portugal pode ser decisivo nas sanções à Bielorrússia”

Líder da oposição bielorrussa veio a Portugal pedir à UE para impor mais sanções ao regime de Lukashenko. Quer urgência na resposta à violência e acredita ser uma questão de tempo até novas eleições.

Svetlana Tikhanovskaia exilou-se na Lituânia depois de ter desafiado Alexander Lukashenko nas eleições presidenciais de agosto do ano passado, cujo desfecho foi a reeleição do autocrata que tem liderado a Bielorrússia com punho de ferro nos últimos 26 anos. Os resultados, no entanto, foram considerados fraudulentos no Ocidente, mas Lukashenko mantém a  intransigência e recusa abandonar o poder ou dialogar com a oposição, respondendo com violência a protestos e manifestações pacíficas.

Tendo a presidência portuguesa do Conselho da União Europeu em mente, a líder da oposição da bielorrussa aterrou em Portugal e esta sexta-feira reúne-se com o primeiro-ministro, António Costa, e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, esperando que o governo português mantenha a Bielorrússia na agenda e que Portugal assuma um “papel crucial” no desbloquear do que um quarto pacote de sanções ao regime.

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Em entrevista ao Observador, horas depois de ter chegado a Lisboa, Svetlana Tikhanovskaia diz que se sente “grata” pelo apoio dado pela União Europeia à oposição bielorrussa, mas lamenta a “ máquina lenta” de Bruxelas e alerta que a situação política na Bielorrússia continua a ser marcada pela violência e repressão por parte das autoridades. “O tempo é crítico para o povo bielorrusso”, avisa, mas mantém o otimismo e acredita que a “Bielorrússia pode ser uma história de sucesso da União Europeia”.

Tikhanovskaia garante ainda que o regime de Lukashenko “está a abanar”, que as forças de segurança acabarão por ir para o lado da oposição democrática e que a realização de novas eleições, desta vez livres e justas, é uma questão de tempo. Se voltará a concorrer à presidência? Neste momento, afirma que não. “Mas a situação pode mudar. Quem sabe?” Certo é que uma das urgências é resolver o problema dos presos políticos, para quem pede aos portugueses que “enviem cartas”: “Isso é importante para quem lá está”.

"Aguardamos pela quarta lista de sanções e Portugal pode ser decisivo nesta questão"

Qual é o principal motivo para a sua visita a Portugal?
A situação na Bielorrússia. Em primeiro lugar, viemos aqui para procurar amigos e renovar as ligações que tivemos há alguns anos com Portugal. Porque durante 26 anos de presidência, Lukashenko perdeu todas as ligações que tinha com os países ocidentais. Estamos a tentar renovar essas relações. E Portugal preside ao Conselho da União Europeia e pode desempenhar um papel crucial no apoio à Bielorrússia.

Que tipo de papel?
Ao presidir ao Conselho da União Europeia, Portugal pode manter a questão bielorrussa na agenda. Porque precisamos de atenção e de ajuda.

O que espera ouvir do primeiro-ministro, António Costa, e do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva? Concretamente, o que espera conseguir com esta visita?
Em primeiro lugar, queremos discutir a situação na Bielorrússia. Como Portugal pode olhar para o seu papel na resolução da questão da violação dos direitos humanos na Bielorrússia. Além disso, também pensamos no futuro da Bielorrússia e podemos discutir um plano abrangente para o futuro do país.

"O povo bielorrusso sempre pensou na União Europeia como uma grande e poderosa organização. Mas a União Europeia também é uma máquina lenta, e o tempo é crítico para o povo bielorrusso que está preso, que sofre diariamente"

Mais do que palavras, a oposição bielorrussa quer ações, calculo.
Sanções. As sanções direcionadas são muito importantes. Aguardamos pela quarta lista de sanções e Portugal pode ser decisivo nesta questão. As três listas anteriores são muito curtas. Precisamos de uma lista maior. E acho que a Bielorrússia pode ser uma história de sucesso da União Europeia no restabelecer da lei e dos direitos humanos no nosso país. Por isso, talvez recebamos alguns conselhos do primeiro-ministro e do ministro dos Negócios Estrangeiros. Queremos saber como veem a situação. Como Portugal fica longe da Bielorrússia, talvez tenham os olhos frescos.

Um dos partidos da oposição em Portugal, a Iniciativa Liberal, pediu ao Governo português para lhe dar respostas concretas nesta visita. Recebeu mensagens de outros partidos políticos? Que importância atribui a estas demonstrações de solidariedade?
Para a Bielorrússia, é muito importante receber solidariedade por parte dos partidos e do Parlamento, porque qualquer mensagem do exterior, qualquer declaração, é muito importante. Os membros do Parlamento, por exemplo, podem organizar qualquer tipo de assistência, escrever cartas aos presos políticos, ajudar financeiramente as famílias dos prisioneiros. Qualquer voz é importante.

Sente-se desiludida com a resposta da União Europeia à situação política na Bielorrússia?
Estamos gratos pelo que já foi feito, mas claro que as ações podem mais corajosas e mais fortes. A questão bielorrussa é muito importante. O povo bielorrusso sempre pensou na União Europeia como uma grande e poderosa organização. Mas a União Europeia também é uma máquina lenta, e o tempo é crítico para o povo bielorrusso que está preso, que sofre diariamente. Todos os dias há pessoas que são raptadas nas ruas, e a situação está a agravar-se. Os países da União Europeia também são membros da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e podem tentar mediar a situação novamente e tentar organizar o diálogo entre o povo e o regime.

Svetlana Tikhanovskaia foi forçada a abandonar a Bielorrússia depois das eleições do ano passado

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Quem devem ser os alvos de um quarto pacote de sanções da União Europeia?
Penso que, além dos cargos próximos de Lukashenko, todos os juízes que sentenciaram pessoas a penas de prisão, todos os polícias envolvidos nas atrocidades e na violência, e todos aqueles que participaram na falsificação dos resultados. Para estas pessoas é importante ir ao exterior comprar coisas, por isso  [as sanções] podem ser dolorosas. Um juiz, por exemplo, vai pensar duas vezes antes de sentenciar alguém.

Cinco perguntas e respostas para entender o que se passa na Bielorrússia — e a razão do nervosismo de Lukashenko

Além da questão burocrática que já referiu, acha que a hesitação da União Europeia também se explica pelo receio de provocar a Rússia?
Não quero pensar que seja essa a razão, mas claro que pode ser uma espécie de tomada de consciência em relação à Rússia e ao Kremlin, porque a Rússia é um país poderoso. No entanto, nós sempre sublinhámos que o nosso caso não é a Rússia, é a Bielorrússia. Os países da União Europeia têm de seguir os seus valores de direitos humanos e da lei. Isso é o que deve estar na sua agenda, não a sua relação com a Rússia.

Tem defendido que a Bielorrússia deve aproximar-se da União Europeia, mas também quer manter boas relações com a Rússia. Acredita que, em termos geopolíticos, é possível?
É realmente possível, e temos exemplos de tais países na União Europeia, como a Finlândia. Estamos a tentar e queremos ser um país neutro, que faz amigos e não inimigos.

"Não vou ser mais uma vítima do regime. Tenho a certeza de que posso fazer muito mais se estiver livre e não na prisão"

Já teve algum contacto oficial com o Kremlin?
Não. Já lhes enviámos mensagens a dizer que estamos abertos ao diálogo. Somos vizinhos e temos de falar. Mas, oficialmente, ainda não houve contactos.

Mas espera que tal aconteça?
Penso que é necessário falar com os todos os países.

E com a administração de Joe Biden, já teve algum contacto?
Estamos em contacto com políticos de Washington. Penso que esta relação se vai desenvolver e esperamos uma visita oficial a Washington, que ainda não foi possível devido às restrições da Covid-19.

No início desta semana, Lukashenko pediu a sua extradição da Lituânia. Como reagiu?
Não tive qualquer reação, porque todos estes casos criminais impostos ao povo bielorrusso, e também a mim, não significam nada. Ele compreende que ninguém me vai extraditar. Mas isto mostra que ele está consciente da situação, que tem medo do povo bielorrusso e que sabe que é fraco. Pessoalmente, para mim, não significa nada.

Porque em agosto do ano passado, logo após as eleições, Lukashenko forçou-a a abandonar o país.
Sim, e agora está à minha procura [risos].

Presidência da UE. Líder da oposição bielorrussa inicia esta quinta-feira visita a Portugal

Já passaram seis meses desde que se exilou na Lituânia. Tem uma data prevista para regressar à Bielorrússia?
Estou pronta a voltar para a Bielorrússia sob garantias de segurança. Quando as negociações começarem, sob a alçada dos membros da OSCE ou algo assim. Mas não vou ser mais uma vítima do regime. Tenho a certeza de que posso fazer muito mais se estiver em liberdade e não na prisão.

Líder da oposição bielorrussa está confiante de que o regime de Lukashenko vai ceder

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Depois de vários meses de intensos protestos nas ruas, violentamente reprimidos pelas autoridades [mais de 33 mil pessoas detidas desde as eleições presidenciais de Agosto], as manifestações têm vindo a perder força nos últimos meses. Acredita que os protestos com dezenas de milhares de pessoas nas ruas vão regressar em breve?
Existe uma diferença entre manifestações e protestos. Os protestos não estão a diminuir, estão no mesmo nível, mas as pessoas têm de procurar outras formas de protestarem, por causa das armas e bastões, o mais alto nível de violência usado por Lukashenko para reprimir. Mas as pessoas não vão desistir certamente e sabem que em breve estas negociações vão começar e que novas eleições vão ser organizadas.

Teme que a violência por parte das forças de segurança possa aumentar caso as grandes manifestações voltem às ruas?
Claro que sim. Lukashenko não se quer afastar, quer manter o seu poder. Nós estamos a trabalhar com a polícia antimotim. Eles têm medo de vir para o nosso lado abertamente, mas sabemos que estão connosco. Enviam-nos diferentes informações de dentro, vídeos das atrocidades, gravações áudio. Eles já não acreditam em Lukashenko e estão com o povo bielorrusso. Mas Lukashenko pode fazer tudo para manter o seu poder.

"Neste momento, não estou preparada para concorrer à presidência em novas eleições. Mas, a situação pode mudar"

Mas os serviços secretos, a nomenklatura e a polícia ainda mantêm a lealdade a Lukashenko. Alterar esta situação pode ser um ponto de viragem para derrubar o regime?
O regime está a abanar. Estamos a trabalhar com a nomenklatura, e tudo é feito secretamente, porque o nível de medo das pessoas é tremendo. Sabemos que a divisão nas elites está próxima. Já lá está, mas ainda não é evidente.

Mas ainda não são a maioria.
Eu diria que são a maioria. A nomenklatura e a polícia são mais escravos deste regime do que as pessoas normais. Eles ainda têm mais medo.

Acha que Lukashenko deveria ser julgado, talvez até em tribunais internacionais, pela repressão do povo bielorrusso?
Lukashenko cometeu muitos crimes contra a humanidade e contra o povo bielorrusso. Mas essa situação tem de ser discutida durante as negociações na fase de diálogo. As pessoas não o podem perdoar, mas podem libertá-lo. Deixá-lo para ir para algum lado, viver numa pequena casa com guarda-costas. Não sabemos. Mas para parar o terror, penso que é possível.

Mantém-se, por isso, disponível para dialogar com Lukashenko.
Estamos abertos ao diálogo com qualquer representante do regime.

Bielorrússia. Lukashenko propõe referendo em 2022 e anuncia leis contra os protestos

E admite um perdão a Lukashenko quando ele abandonar o poder?
Não estou preparada para o perdoar. Definitivamente que não. Ele cometeu demasiada violência e tortura contra o povo bielorrusso. Não pode ser perdoado, certamente.

Ou seja, terá de ser julgado nos tribunais pelo que fez?
Essa é uma questão para discussão.

Afirmou várias vezes que apenas se vê como uma líder de transição, que quer novas eleições livres e justas, e que não pretende concorrer novamente para presidente. Essa é uma posição definitiva ou certas circunstâncias podem fazer com que mude de ideias?
Neste momento, não estou preparada para concorrer à presidência em novas eleições. Mas a situação pode mudar. Tenho a certeza de que posso ser útil para o meu país, mas não necessariamente enquanto presidente.

Mas, devido ao papel que tem assumido nestes meses enquanto líder da oposição, é natural que uma parte significativa do povo bielorrusso a considere a líder do país e que a queria na presidência.
Prometi ser uma líder eleita pelo povo bielorrusso até novas eleições. Quanto à participação nessas eleições… não estou a pensar nisso. Mas, quem sabe?

O seu marido, Serguei Tikhanovski, está detido há nove meses. Tem conseguido falar com ele regularmente?
No nosso país, não podemos nem visitar nem telefonar aos nossos prisioneiros. Falei com ele apenas uma vez [em outubro], quando Lukashenko o visitou na prisão. Foi uma conversa de dez minutos. Estamos a comunicar apenas através do advogado.

"Gostaria de mandar uma mensagem ao povo de Portugal e pedir que enviem cartas aos presos políticos, porque isso é importante para quem lá está"

Como é que ele está?
Pessoas que estão há tempo na prisão sem qualquer motivo… não quero dizer que estão em depressão, mas querem ser libertadas o mais rapidamente possível. Mas mantêm-se fortes e acreditam no povo bielorrusso e na nossa vitória, e isso dá-lhes força para continuar.

Estará, certamente, orgulhoso de si.
Está. Escreve-me regularmente através do advogado e recebe centenas de cartas de pessoas que falam sobre mim e lhe agradecem por ter esta mulher [risos]. Sim, acho que ele está orgulhoso.

Tem dois filhos [de dez e cinco anos]. Como é que eles reagem a toda esta situação?
Eles têm a sua infância. É claro que não quero que se preocupem demasiado com esta situação. O meu filho mais velho sabe que pai está na prisão, mas a minha filha não, e lembra-se do pai a toda a hora. É uma difícil ouvir o seu choro, a dizer “quero meu pai”.

Acredita que, quando for libertado, Serguei Tikhanovski terá força para concorrer à presidência? Ele seria um bom presidente?
Ele ama o seu país e quer torná-lo próspero. Penso que poderia ser um bom presidente, se quisesse.

Melhor presidente do que a Svetlana?
[Risos] Uma provocação! Acho que poderíamos trabalhar em coligação [risos]. Estou a brincar, mas se ele concorresse, de certeza que eu votava nele.

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