“Sou cidadã russa, vivo em Vilnius, no dia 23 de maio apanhei o mesmo voo que Roman Protasevich. Sou também editora do canal de Telegram Chernaya Kniga, que publica informação privada sobre agentes da autoridade”.

A alegada confissão é feita por Sofia Sapega, a estudante de 23 anos que namora com o jornalista bielorusso Roman Protasevich e que, tal como ele, foi detida após o avião da Ryanair em que seguia no domingo, com destino a Vilnius (Lituânia), ter sido desviado para Minsk, capital da Bielorrússia. Mas tanto a família da jovem como a oposição política ao presidente da Bielorrúsia, Alexander Lukashenko, defendem que as declarações terão sido feitas e gravadas à força.

No vídeo, partilhado num canal de Telegram afeto ao regime de Lukashenko — considerado a última ditadura da Europa — e entretanto divulgado em várias redes sociais e canais de Youtube, a estudante aparece no centro de detenção onde estará em prisão preventiva durante dois meses, sentada, a falar apressadamente.

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Quem é Roman Protasevich, “o primeiro jornalista terrorista” detido no avião que Lukashenko sequestrou?

Em entrevista à BBC, a mãe de Sapega já veio notar que a filha “fala de forma pouco habitual nela”, “balança, olha para cima, como se estivesse com medo de se esquecer de alguma coisa”, defendendo que as confissões — que na Bielorrúsia podem valer condenações por crimes de organização de motins e de desordem pública — são falsas. O mesmo afirmou, no Twitter, a líder da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya, que disse ver no vídeo uma jovem “sob pressão psicológica”.

O vídeo aparece dois dias depois de Protasevich, que também está preso em Minsk, ter aparecido numa outra gravação divulgada pelas estações de televisão estatais do país em que confessava ter cometido crimes ao organizar “manifestações em massa”.

Jornalista detido na Bielorrússia, que viajava em avião desviado, aparece em vídeo a confessar crimes

Roman Protasevich, de 26 anos, é o ex-chefe de redação do influente canal Nexta, que se tornou a principal fonte de informação nas primeiras semanas de protestos antigovernamentais após as eleições presidenciais de agosto de 2020.  Tal como a líder da oposição, escolheu a Lituânia como refúgio para lutar contra o regime de Lukashenko.

Perante a indignação internacional — e as sanções já decididas pela União Europeia, das económicas à exclusão das companhias aéreas daquele país –, o presidente da Bielorrússia veio dizer esta quarta-feira que o país está a ser alvo de “ataques” que passaram os limites do bom senso e da moralidade humana”. Tanto António Costa como Marcelo Rebelo de Sousa já vieram a público concordar com as sanções impostas pela UE contra aquilo que Costa classificou como “terrorismo de Estado”.