As críticas da líder parlamentar do PS ao ministro da Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, foram mal recebidas na cúpula do partido, com vários dirigentes a considerarem excessiva, precipitada e desadequada as recomendações de “recato e sensatez” da presidente da bancada socialista a um ministro em funções.
Ao Observador, foram vários os socialistas que se mostraram incomodados com o momento da líder parlamentar no programa a Circulatura do Quadrado. O comentário da socialista foi visto como “inusitado” e fruto de alguma precipitação — que não devia existir nesta fase.
“É muito fora“, comenta outro alto dirigente. “Não percebo o objetivo“, lamenta outro. “Ela é mais analista” nestes comentários, critica outro dirigente socialista de topo que entende que Ana Catarina Mendes comenta mais o que se passou do que avança questões novas.
De resto, numa entrevista ao Observador, publicada na sexta-feira passada, a própria ministra da Presidência e coordenadora da moção estratégia de António Costa, Mariana Vieira da Silva, disse que não lhe parecia o mais útil discutir “estilos”.
Não tenho nada a comentar, O que importa é que possamos fazer o nosso trabalho, cumprir os nosso objetivos, concretizar um intensíssimo plano nas infraestruturas e a habitação. Não me parece um caminho prendermo-nos à questão dos estilos. Isso não é o fundamental, mas sim as políticas e a nossa capacidade de as concretizar”, rematou Mariana Vieira da Silva.
Mariana Vieira da Silva. “Assumo totalmente erros de comunicação sobre a bolha” da Champions
Ainda não houve reunião da bancada socialista (que costuma juntar-se todas as semanas) desde essas declarações e a que estava marcada para esta quarta-feira foi desmarcada no domingo passado, por motivos de agenda.
Entretanto, foram vários socialistas que fizeram mesmo chegar ao ministro o desconforto com o que disse a líder parlamentar do partido no seu comentário televisivo, criticando a falta de solidariedade inerente àquelas palavras, segundo apurou o Observador. E foram também muitos os comentários feitos em grupos de Whatsapp dos socialistas a afirmarem que a líder parlamentar “esteve mal” no comentário que fez.
Uma tensão com história
A tensão entre os dois socialistas lançados por António Costa como geração seguinte no PS é vista como fruto de outra guerra paralela, precisamente a da sucessão do atual líder no PS — aconteça ela quando acontecer. Tanto Pedro Nuno Santos como Ana Catarina Santos têm vindo a posicionar-se para esse dia e não são propriamente próximos dentro do partido. Antes pelo contrário: pertencem a fações diferentes e críticas entre si.
Depois de a líder parlamentar ter comentado a sua conduta na guerra com a Ryanair, Pedro Nuno Santos veio dizer que é “incapaz de criticar em público um camarada“. Nessas declarações, o ministro justificou ainda a sua posição frente à empresa de aviação com a necessidade de defesa da posição nacional.
Eu não gosto de deixar ofensas ao Estado português e ao Governo sem resposta. Nem todos compreendem que um Estado e um Governo também têm de se dar ao respeito. Mas isso é a forma como cada um de nós encara a vida política”, argumentou quando confrontado com as declarações da sua rival interna
Na bancada parlamentar houve uma única voz que se ouviu publicamente sobre o tema, a do deputado Ascenso Simões que enviou um e-mail aos restantes deputados a indignar-se contra as declarações da líder parlamentar que classificou de “truculento” o ataque do ministro Pedro Nuno à Ryanair, recomendando-lhe “maior recato ou sensatez. Bom senso nessas relações”.