O 6G está a ser pensado para consumir menos energia e pôr os telemóveis a “saber o que os rodeia”. “O telemóvel vai ser uma espécie de radar”, diz ao Observador Manuel Ricardo, coordenador no INESC TEC e um dos responsáveis da conferência “2021 Joint EuCNC”, que este ano junta o “6G Summit”. Mesmo sem 5G em Portugal, o investigador prevê que teremos esta próxima tecnologia de telecomunicações daqui a nove anos.

Especialistas reúnem-se online para discutir implementação do 5G e definir visão do 6G

“O 6G internacionalmente está pensado para ser lançado em 2030”, diz o coordenador. Para já, as promessas do 6G são semelhantes às que o 5G promete: “Mais rápido, mais eficiente” e pensado para “pôr os aparelhos a comunicarem entre si”. No entanto, isto não é igual às promessas do 5G? “Aqui é uma questão de escala, a disponibilização deste tipo de experiências de forma massiva”, explica o investigador.

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Na prática, e como Manuel Ricardo já tinha referido no arranque do evento, o 6G quer fazer com “hologramas” aquilo que “fazemos hoje em dia com as sessões de Zoom”. “O 6G define um ecossistema no qual vai ser necessário juntar valências de comunicações e visão computacional”, continua.

O responsável refere ainda que “estas competências vão ser tratadas de forma conjunta”, estando tudo aliado a “técnicas de inteligência artificial” que vão começar “a ser combinadas” para interligar os aparelhos de forma mais eficiente. Ou seja, os telemóveis, e outros aparelhos dos quais “ainda nem sabemos a natureza”, vão saber “aquilo que os rodeia”. “Como um radar”, adianta.

“Estamos a perceber o futuro do 5G e a começar definir bases do 6G”, menciona também Manuel Ricardo. Na prática, ao acolher esta conferência, juntamente com o apoio da Comissão Europeia, o INESC TEC está a ajudar a delinear aquilo que poderá ser o futuro das telecomunicações. “O 6G potencia-se aqui e pode trazer-nos mais uma revolução”, refere, adiantando que “o caminho que vai ser feito ainda é longo”.

A criação de uma nova geração [de telecomunicações] é algo que demora uma década a ser feita. É um processo complexo”, explica Manuel Ricardo.

Já Jorge Filipe Graça, administrador da NOS, uma das empresas que patrocina o evento, diz ao Observador que um dos grandes objetivos para o 6G é a “eficiência energética” e encontrar uma forma de “baixar de forma objetiva a pegada de carbono”. “Este é o foco que está em cima da mesa para o 6G”. Um foco que só pode ser alcançado “de forma colaborativa”, afirma.

Este é um processo para se chegar a um consenso para características que devem existir na próxima tecnologia”, explica Jorge Filipe Graça.

O facto de esta conferência, devido à pandemia da Covid-19, ter de ser online — era para ser presencial –, mostra o avanço que as rede de telecomunicações têm tido, referem os dois responsáveis. “Houve um tempo em que, quando íamos de um país para o outro, o próprio telemóvel não funcionava“, lembra Jorge Filipe Graça. É com estes encontros que se definem padrões que permitiram, quase sem nos apercebermos, que os aparelhos que utilizamos funcionem praticamente em todo o mundo, refere o administrador da NOS. “Isto acaba por ser uma conferência de networking que também é científica”, refere Manuel Ricardo.

O 6G endereça problemas que são de todos nós. O 6G vem para dramaticamente baixar as emissões de carbono, os problema da edificação urbana. São problemas que não são passíveis de ser discutidos. É merecedor de um debate e consciencialização que não houve com o 5G”, diz Jorge Filipe Graça.

Quanto a falar-se do 6G numa altura em que o lançamento do 5G em Portugal continua a ser uma incógnita, os dois responsáveis não adiantam muitos pormenores. Contudo, Jorge Filipe Graça refere que “o 5G demorou muito tempo a ser preparado”. Não falando diretamente do atraso na implementação da tecnologia devido ao leilão de frequências de rede que ainda está a decorrer, referiu também que “o 6G é merecedor de uma discussão mais completa”.

Já quanto ao atraso do 5G, o investigador Manuel Ricardo lembra que “o 4G foi lançado em 2010”, referindo que os ciclos destas gerações de telecomunicações são, normalmente, “de 10 em 10 anos”. O coordenador do INESC TEC afirma o 5G esteve pensado para 2020 e que o que temos neste momento no país é um “atraso pequeno” que não tem a ver com este ciclo de gerações.

A “European Conference on Networks and Communications” e o “6G Summit” começou a 8 de junho e decorrerá até sexta-feira.