Não existem rodeios: esta terça-feira, no Puskás Arena, Portugal vai jogar dentro do covil do adversário. Num estádio praticamente lotado, com mais de 50 mil adeptos húngaros nas bancadas, a Seleção Nacional irá contar com cerca de cinco mil portugueses que têm o objetivo de ser o 12.º jogador. E a duas horas do apito inicial, essa discrepância era visível numa das principais artérias de Budapeste.

A polícia húngara cortou a Dózsa György út, uma das avenidas mais conhecidas da cidade que vai desembocar exatamente no Puskás Arena e passa pela Praça dos Heróis. Foi aí, junto ao memorial com sete estátuas que homenageia as sete tribos fundadoras de Budapeste, que milhares de adeptos húngaros decidiram juntar-se e prolongar os festejos que haviam começado logo de manhã nas ruas, nos cafés e nos restaurantes. Sem carros na estrada e apenas com veículos policiais, os portugueses e os restantes húngaros seguiram essa avenida a pé enquanto nas costas se ouviam petardos, cânticos e gritos.

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A enorme multidão húngara que caminhou desde a Praça dos Heróis até ao Puskás Arena

Pelo caminho, vários grupos de adeptos da Seleção, quase todos identificados com camisolas mais ou menos atuais, cruzavam-se e cumprimentavam-se, prometendo sempre “beber uma” no estádio — por instantes, entre gritos e conversas em português de um lado para o outro da rua, percebia-se que não era só uma equipa que iria jogar. Um conjunto específico, formado por quatro portugueses com sotaque do Norte, aproveitaram as trotinetes elétricas que estão espalhadas pela cidade e iam cumprindo o percurso a maior velocidade. Um deles tinha a camisola 7, com “Ronaldo” escrito nas costas; quando passou por um grupo de jovens húngaros, ouviu “Ronaldo, homossexual!”, em inglês. Os quatro amigos pararam mais à frente, tentaram perceber o motivo de um insulto que não o é, riram-se e seguiram em frente. O ambiente estava calmo mas existia a ideia de que, a qualquer momento, poderia aparecer um confronto despropositado.

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À chegada ao estádio, existia um mar vermelho e verde: afinal, de forma curiosa, estas são as duas cores tanto da Hungria como de Portugal e era preciso uma atenção redobrada aos símbolos, aos nomes e aos pormenores para distinguir uns e outros. Provavelmente devido às contingências associadas à pandemia, a maioria dos adeptos caminhou em direção ao Puskás Arena com muita antecedência e os voluntários iam organizando as entradas — feitas por setores, com meia-hora de diferença entre cada grupo — com placas e megafones.

Hungary v Portugal - UEFA Euro 2020: Group F

A mais de uma hora do apito inicial, as bancadas do Puskás Arena já estava bem compostas

A Seleção Nacional chegou ao estádio a mais de hora e meia do apito inicial e o autocarro português foi recebido pela multidão húngara que entretanto já tinha saído da Praça dos Heróis com assobios, insultos e até algumas garrafas. Portugal vai então contar com cerca de cinco mil adeptos nas bancadas, incluindo portugueses que vivem em Budapeste e portugueses que viajaram desde casa para a Hungria, mas dois deles serão ainda mais especiais: a Federação Portuguesa de Futebol convidou oficialmente os pais de Miklós Fehér, o jogador húngaro que morreu em 2004, ao serviço do Benfica, depois de sofrer uma paragem cardiorrespiratória durante uma partida contra o V. Guimarães.