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"Os direitos humanos vão estar sempre em cima da mesa", garantiu Biden a Putin

Este artigo tem mais de 3 anos

Putin disse que encontro com Joe Biden foi "bastante construtivo" e anunciou o regresso de embaixadores à capitais dos dois países. Biden prometeu "consequências" caso Rússia viole linhas vermelhas.

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Em atualização 

Quase quatro horas depois do aperto de mãos, a cimeira entre Vladimir Putin e Joe Biden chegou ao fim. Os dois presidentes optaram por conferências de imprensa em separado, e o primeiro a falar foi o Presidente russo, que anunciou que os embaixadores norte-americano e russo, John Sullivan e Anatoly Antonov, vão regressar às capitais dos respetivos países, depois de terem sido chamados no início do ano, em plena escalada de tensão.

O Presidente Joe Biden, que falou cerca de meia hora depois do seu homólogo, fez um balanço positivo da cimeira. “Devo dizer-vos, o tom de todo o encontro, que acho que teve um total de quatro horas, foi bom. Foi positivo.”

Além disso, considerou que um encontro presencial foi fundamental. “Foi importante encontrar-me pessoalmente [com Putin], para que não houvesse erros ou deturpações sobre aquilo que queria comunicar. Fiz aquilo que vim fazer”, sublinhou.

Biden garantiu que levou a questão dos direitos humanos para o encontro, referindo, particularamente o caso de Alexei Navalny. “Os direitos humanos vão estar sempre em cima da mesa. Eu disse-lhe isso”, afirmou Biden. “Deixei claro que as consequências [de uma eventual morte de Navalny na prisão] serão devastadoras para a Rússia”.

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“Acho que há uma perspetiva genuína para melhorar significativamente as relações entre os dois países", sublinhou Biden

AFP via Getty Images

Biden sublinhou ainda que os dois presidentes “partilham uma responsabilidade única para gerir a relação entre dois países poderosos e orgulhosos, uma relação que deve ser estável e previsível”, reforçou. “Eu disse a Putin que a nossa agenda não é contra a Rússia, mas sim pelo povo americano.”

O Presidente norte-americano elencou alguns dos tópicos que falou com o seu homólogo russo, entre eles questões de cibersegurança, a situação na Bielorrússia e na Ucrânia. Sobre a Ucrânia, Biden realçou que o problema só poderá ser resolvido através de diplomacia, com o cumprimento dos Acordos de Minsk, reforçando o “compromisso inabalável [dos EUA] com a soberania e integridade territorial da Ucrânia”.

Nesse sentido, o chefe de Estado norte-americano considerou que os próximos meses vão ser um “teste” para a relação entre os dois países, mantendo algum otimismo. “Acho que há uma perspetiva genuína para melhorar significativamente as relações entre os dois países, sem abrirmos mão dos nossos princípios e valores”, afirmou Biden, garantindo que, durante a cimeira, “não houve ameaças”, mas sim discussões sobre “questões básicas fundamentais”.

Questionado sobre a possibilidade de Putin violar as linhas vermelhas estabelecidas por Washington, nomeadamente no que diz respeito a ciberataques ou interferência em eleições, Biden foi assertivo: “Ele [Putin] sabe que haverá consequências. Ele sabe que vou agir.”

Putin, por seu lado, sobre o tom da conversa da Biden, disse que o encontro foi “bastante construtivo” e “sem hostilidades”, com “ambos os lados a mostrarem vontade para se entenderem um ao outro”, numa relação “pragmática”, considerando o seu homólogo como um “estadista experiente”, “muito diferente de Trump”.

Sobre a Ucrânia, um dos tópicos quentes desta cimeira, o chefe de Estado russo disse que o assunto foi abordado de “passagem” e que ambos concordaram  que a solução para o conflito na região do Donbass passa pelo cumprimento dos Acordos de Minsk, assinados em 2015, um ano após a anexação russa da Crimeia. “Não há nada para discutir”sobre a entrada da Ucrânia na NATO, acrescentou Putin.

Tal como tem vindo a ser habitual, quando questionado sobre Alexei Navalny, Putin não referiu o nome do opositor russo, tratando-o simplesmente por “essa pessoa”, acusando o seu principal adversário político na Rússia de violar “deliberadamente” a lei. “Essa pessoa sabia que tinha violada a lei que existe na Rússia, e é um criminoso reincidente”, afirmou. “Ele [Navalny] sabia muito bem que era procurado, mas mesmo assim voltou para a Rússia, porque deliberadamente queria ser preso”, acrescentou.

US-Russia Summit 2021 In Geneva

"Essa pessoa [Navalny] sabia que tinha violada a lei que existe na Rússia, e é um criminoso reincidente", afirmou Putin em conferência de imprensa

Getty Images

Putin confirmou que o Presidente dos EUA levantou a questão dos direitos humanos durante a cimeira, e, questionado pelos jornalistas sobre a repressão dos seus opositores em território russo, passou ao ataque, falando na invasão do Capitólio, referindo que as pessoas que participaram no ataque tinham “exigências políticas” e que foram detidas por isso. Mais tarde, Biden responderia a esta comparação, considerando-a “ridícula”.

O Presidente russo falou ainda nas mortes de cidadãos americanos às mãos da polícia. “Olhem para as ruas nas cidades americanas. Há pessoas a serem assassinadas lá. Podem levar com uma bala no pescoço”, atirou, invocando ainda os casos de Guantanamo e do Afeganistão.”Quem é o assassino?”, questionou.

O Presidente russo falou ainda sobre a questão da cibersegurança, tendo como pano de fundo os recentes ataques informáticos atribuídos a hackers russos, e afirmou que os dois presidentes concordaram em “iniciar consultas” sobre o tema. Putin acrescentou que a Rússia “forneceu informação exaustiva” sobre cibersegurança aos Estados Unidos.

Putin reforçou que a Rússia e os Estados Unidos são as principais potências nucleares no mundo e que ambos concordaram em negociar um novo tratado para o controlo do armamento. Quanto à troca de prisioneiros entre os dois países, esteve em discussão, mas não houve conclusões.

Uma cimeira em busca de uma relação “estável e previsível”

A cimeira foi divida em duas partes. Na primeira, que durou cerca de hora e meia, estiveram apenas presentes Biden e Putin, acompanhados pelos responsáveis pela política externa de cada um dos países: Antony Blinken e Serguei Lavrov. Após um intervalo de 45 minutos, começou a segunda sessão, com um grupo mais abrangente de conselheiros, que durou pouco mais de uma hora.

A expetativa inicial é que a cimeira durasse entre quatro a cinco horas, pelo que a mesma terá durado um pouco menos do que o previsto. O antigo embaixador norte-americano na Rússia durante a Administração Obama, Michael McFaul, considera que uma cimeira “curta” pode ser sinal de que, como esperado, Biden e Putin não tentaram negociar as questões onde há grandes divergências.

Antes do início da cimeira, que decorreu os dois presidentes  apertaram as mãos à entrada da mansão Villa La Grange, em Genebra, na Suíça. “Bem-vindos à cidade da paz”, disse Guy Parmelin, referindo-se à capital suíça onde, em 1985, Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev se encontraram pela primeira vez.

Após as fotografias iniciais, Biden e Putin entraram para a mansão, antes de os jornalistas serem convidados a sair da sala, trocaram algumas palavras. O Presidente russo agradeceu ao seu homólogo norte-americano pelo convite, e admitiu que Washington e Moscovo “têm muitos problemas acumulados”, esperando, por isso, que o encontro “possa ser produtivo”. Biden, por seu turno, insistiu na necessidade de relações “previsíveis”, manifestando disponibilidade para que os dois países cooperem nos seus “interesses mútuos”, reforçando que “é sempre melhorar um encontro cara a cara”.

Tensão entre repórteres dos EUA e Rússia no início da cimeira Biden-Putin

No interior da sala, o caos instalou-se durante alguns momentos, com os jornalistas presentes no local a falarem ao mesmo tempo na tentativa de colocar questões aos dois presidentes, que se apresentavam com um ar sério, mas também relaxado. A agitação na sala, com gritos e empurrões entre jornalistas norte-americanos e russos, levou mesmo a responsável pela comunicação da Casa Branca, Kate Bedingfield, a vir apresentar esclarecimentos, garantindo que Biden não acenou afirmativamente a uma questão sobre se Putin era ou não de confiança.

A cimeira divide-se em dois momentos. A primeira sessão, que durou cerca hora e meia, decorreu com um grupo mais restrito, com os presidentes a serem acompanhados pelo secretário de Estado Antony Blinken e pelo ministros dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov. Depois, seguiu-se uma segunda sessão, mais abrangente, com conselheiros de ambos os lados.

Vladimir Putin, conhecido por já ter chegado várias vezes atrasado a cimeiras (incluindo com Barack Obama e Donald Trump), chegou primeiro à Villa La, uma mansão do século XVIII, junto ao lago de Genebra. Cerca de 15 minutos depois, chegou Joe Biden. Ambos foram recebidos pelo Presidente suíço Guy Presidente da Suíça, que que desejou que os dois líderes sejam capazes de levar a cabo um “diálogo frutífero para o interesse dos dois países e do mundo”.

A cimeira desta quarta-feira marca o primeiro encontro entre Joe Biden e Vladimir Putin desde que o Presidente norte-americano tomou posse, em janeiro. A cimeira acontece após meses de grande tensão entre Estados Unidos e Rússia, que levaram a que as relações entre os dois países atingissem o nível mais baixo dos últimos anos.

Na véspera do encontro, Putin e Biden deram alguns sinais de que pretendem aliviar as tensões entre os seus países, e o principal objetivo da cimeira é alcançar uma relação “estável e previsível”, afastando um cenário de escalada de tensão que possa levar a um conflito mais grave.

O que esperar da cimeira entre Biden e Putin? Divergências profundas e pouca margem para entendimentos

https://twitter.com/Andrew__Roth/status/1405026327216934912

Horas antes de a cimeira começar, Dmitry Peskov, afirmava que os tópicos em cima da mesa são “muito problemáticos” , pelo que “este dia pode não se tornar histórico e não devemos esperar avanços”, devido à situação “muito difícil” na relação entres os dois países. A Casa Branca não se alongou em antevisões, com oficiais norte-americanos, citado pela Reuters, a sublinharem que os Estados querem encontrar” áreas nas quais o trabalho conjunto possa promover os nossos interesses nacionais e tornar o mundo mais seguro”. As expectativas em Washington, tal como em Moscovo, são baixas.

Ao contrário do que aconteceu na cimeira entre Donald Trump e Vladimir Putin em 2018, desta vez os dois presidentes não vão estiveram a sós em nenhum momento.

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