Um vídeo de pouco mais de um minuto ditou a queda do ministro da Saúde britânico, Matt Hancock. Tudo porque o curto vídeo mostra Hancock a beijar uma mulher descrita como uma das suas conselheiras mais próximas no seu escritório, numa altura em que no Reino Unido era proibido, segundo as regras sanitárias, ter contacto próximo com pessoas que não fizessem parte do agregado familiar. Hancock será agora substituído por Sajid David, que chegou a desempenhar o cargo de ministro das Finanças neste mesmo Governo.

Na sua carta de demissão, que foi publicada este sábado na íntegra nas redes sociais, Hancock diz que deve “honestidade” às pessoas que “sacrificaram tanto nesta pandemia”, admitindo que as “desapontou” ao quebrar as regras impostas pelo seu próprio ministério. O vídeo foi gravado a 3 de maio e no Reino Unido só foi possível ter contacto com pessoas fora do círculo familiar a partir de 17 maio, na terceira fase de desconfinamento.

Num vídeo, também publicado nas redes, acrescenta que “quem faz as regras tem de as seguir”.

Hancock diz ainda estar orgulhoso por o Reino Unido ter conseguido “ter evitado a catástrofe que seria um SNS sobrecarregado” e por “liderar o esforço de vacinação” — é um dos países com um número de vacinas administrado mais alto –, assegurando que desempenhar o cargo de ministro da Saúde foi “a honra” da sua vida.

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Numa carta de resposta, o primeiro-ministro, Boris Johnson, elogia Hancock e diz que este deve estar “orgulhoso do que conseguiu enfrentar”, tanto na pandemia como no exercício do cargo, no geral.

Apesar de na sexta-feira, depois de a notícia do beijo ter feito manchete no tablóide The Sun, Hancock ter assumido o erro mas sem avançar com a demissão, a consequência já era pedida pelos partidos da oposição. Até porque o caso toca noutro aspeto delicado: o agora ex-governante é casado, pelo que a notícia gerou críticas ao seu comportamento. “A última coisa que quero é que a minha vida privada distraia as atenções do foco em sairmos desta crise”, escreveu Hancock, logo antes de pedir desculpas à família.

Ora a oposição já tinha criticado o comportamento de Hancock em relação à sua conselheira, Gina Coladangelo, uma vez que esta é uma amiga dos tempos da universidade que começou por ser contratada para um cargo não remunerado e passou depois a diretora não executiva do Departamento de Saúde e Segurança Social, o que provocou acusações de clientelismo e favorecimento.

Ministro da Saúde britânico pede desculpa por ter violado distanciamento social em relação extraconjugal

Além disso, Hancock foi também acusado de hipocrisia uma vez que, no ano passado, dirigiu duras críticas a um conselheiro do Governo na área da Saúde, Neil Ferguson, que acabou por se demitir depois de ter quebrado as regras precisamente para estar com uma mulher com quem mantinha uma relação amorosa. Na altura, Hancock disse ter ficado “sem palavras” ao saber do comportamento de Ferguson.

Apesar de Johnson ter, na hora da despedida, deixado elogios ao seu ministro demissionário, Hancock já tinha sido criticado pela gestão da pandemia pelo próprio primeiro-ministro. Segundo mensagens reveladas por um antigo conselheiro de Johnson que acusa Hancock de ter cometido erros fatais, por exemplo, provocando falhas no sistema de testes, Hancock terá sido descrito pelo primeiro-ministro como “totalmente inútil”.

Antigo ministro volta ao governo

Já na noite deste sábado, o gabinete de Boris Johnson confirmou que Hancock será agora substituído por Sajid David, que já foi ministro do Interior e que liderou a pasta das Finanças deste mesmo governo durante um ano, entre julho de 2019 e fevereiro de 2020.

Como a Reuters lembra, David saiu do executivo britânico no ano passado depois de ter recusado despedir os seus conselheiros políticos, exigência feita pelo primeiro-ministro.

Artigo atualizado às 21h55 com a informação sobre a substituição de Matt Hancock por Sajid David.