Menos de dois meses antes de ser detido pela Polícia Judiciária, esta terça-feira, Joe Berardo inaugurou em Lisboa, na zona de Alcântara, mais um museu com o seu nome – o Berardo Museu Arte Deco (B-MAD). É mais um negócio a juntar aos vários que tem no país, onde tem uma fundação, duas associações e mais de duas mãos-cheias de empresas ou sociedades em empresas. Berardo tem empresas sediadas na Zona Franca da Madeira e em Malta mas em seu nome tem apenas uma garagem no Funchal.

Este novo museu é formalmente propriedade da chamada Associação de Coleções, uma entidade criada em 2005 para concentrar os investimentos de Berardo no mundo da arte. O espólio agora colocado em Alcântara já tinha estado em exposição em locais como a Fundação de Serralves, no Porto, no Sintra Museu de Arte Moderna – Coleção Berardo, no Museu Berardo, em Belém, no Centro das Artes Casa das Mudas, na ilha da Madeira, no Bacalhôa Adega Museu, em Azeitão, e em vários museus no estrangeiro.

O B-MAD junta-se à extensa lista de museus privados que Berardo tem distribuídos pelo país – que não inclui as obras de arte moderna e contemporânea que estão expostas no Museu Coleção Berardo, instalado desde 2007 no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, no âmbito de um acordo com o Estado português, celebrado durante a governação de José Sócrates.

O empresário madeirense também é dono do Buddha Eden Garden, que ocupa cerca de 35 hectares, instalado na Quinta dos Loridos, no Bombarral. Nesse local encontram-se centenas de figuras orientais como budas, pagodes, estátuas de terracota e outras esculturas.

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Ainda mais a norte, em 2010 Berardo inaugurou o Underground Museum em Sangalhos, Anadia. Esse é um museu ligado à enologia, num espaço subterrâneo onde exibe coleções de arte africana, fósseis, cerâmica, minerais e azulejos antigos. No Alentejo, em Estremoz, em parceria com a autarquia local, abriu em 2020 um museu dedicado à coleção de azulejos, com exemplares do século XV até à atualidade. A sua coleção de arte foi avaliada em cerca de 571 milhões de euros em 2019.

Apenas uma garagem como património (mas vários imóveis na Associação de Coleções)

Joe Berardo, que celebra 77 anos de idade no próximo domingo, 4 de julho, apenas terá no seu património pessoal uma garagem no Funchal. Na comissão de inquérito parlamentar, em 2019, disse que vivia num (espaçoso) apartamento na avenida Infante Santo, em Lisboa, mas esse é um apartamento arrendado cuja renda mensal Berardo não soube quantificar (além disso, não se recordava se a sua mulher também pagava parte da renda).

E quem é o senhorio a quem se paga a renda relacionada com esse apartamento avaliado em 1,85 milhões? É a Atram, uma empresa onde Berardo é presidente mas não acionista. É uma empresa imobiliária sem empregados, sem vendas, e com resultados negativos anuais (na ordem dos 50 mil euros) desde pelo menos 2014, segundo o Informa D&B.

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Segundo uma investigação da revista Sábado, porém, Berardo terá colocado na Associação de Coleções um vasto conjunto de imóveis avaliado em mais de um milhão de euros. Os valores de permuta apontam para um valor de 200 mil euros para a Quinta dos Loridos, no Bombarral, 300 mil no Palácio da Tocha, em Estremoz, 71.500 euros em três prédios rústicos em Porto Santo, 350 mil euros num apartamento nas Amoreiras, em Lisboa e 400 mil euros na Fábrica Antiga, em Estremoz.

Estes valores somam cerca de 1,3 milhões de euros, mas o valor real deste património será largas vezes superior: só a Quinta dos Loridos, uma quinta do século XV comprada pela Bacalhoa Vinhos de Portugal em 1980 (transferida depois para uma imobiliária madeirense e repassada para a Associação de Coleções em 2008), representa “vários milhões dada a sua dimensão e qualidade”, dizia a investigação da revista Sábado.

As empresas (e as marcas) associadas ao empresário

Além do ramo imobiliário, na área empresarial Berardo, que está a ser alvo de ações executivas lançadas pelos bancos (a maior das quais movida pela CGD), tem na Metalgest a sua holding histórica, fundada em 1984 e sediada na Zona Franca da Madeira. Com uma situação patrimonial negativa, tinha 25 milhões em capital próprio e participações em várias empresas, incluindo 18% na Bacalhôa, empresa que é dona de marcas de vinho como a Aliança e o JP e está avaliada em 88 milhões.

É através da Fundação José Berardo, criada no final da década de 80, que o empresário tem a posição na Metalgest mas, também, uma empresa centenária (e saudável) que é a Empresa Madeirense de Tabacos, uma empresa comprada por Berardo e o Horário Roque (fundador do Banif) também perto do final dos anos 80. A Fundação tem 48% dessa entidade.

A estas juntam-se várias empresas no setor imobiliário, entre as quais a Matiz Sociedade Imobiliária (dona dos imóveis da Bacalhôa) e uma outra, deficitária, chamada Delicious Dialogue (sim, também é uma gestora imobiliária). Em Malta, Berardo tem duas empresas: a Armide Holdings e a Armada Limited, ambas criadas já em 2015.

A sua jóia da coroa, porém, é a Associação Coleção Berardo (não confundir com a Associação de Coleções), que concentra a maior parte das obras de arte do empresário e que está juridicamente separada dos outros negócios.

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