A Associação dos Profissionais de Proteção e Segurança de Dados entregou esta manhã à Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) uma queixa contra a exoneração do encarregado de proteção de dados da autarquia de Lisboa.

Em declarações à Lusa, a presidente da Associação dos Profissionais de Proteção e Segurança de Dados (APPSD), Inês Oliveira, disse que a exoneração, aprovada na sexta-feira, é “ilegal”, pelo que exige a readmissão do encarregado de proteção de dados da Câmara de Lisboa.

“Ainda acalentámos alguma esperança que a exoneração não acontecesse. Estamos convictos que a exoneração é mais uma infração, a juntar às 225 detetadas pela CNPD, pois viola o artigo 38 n.º3 do RGPD que diz que ‘o encarregado não pode ser destituído nem penalizado pelo facto de exercer as suas funções”, justificou Inês Oliveira.

A presidente da APPSD espera que a CNPD “sancione” a Câmara de Lisboa, porque “esta violação é sancionável com uma coima” e que o “encarregado recupere a sua função e o seu lugar”.

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Para Inês Oliveira, esta decisão deve ser “célere”, até para “tranquilizar os profissionais, que estão com medo” e existem “3.620 por todo o país”.

“A exoneração é desastrosa para toda a classe, que já receia tomar decisões nas suas funções”, reforçou.

Inês Oliveira salientou que a lei não impede um encarregado de proteção de dados de ser responsabilizado nas suas funções. “Existem medidas disciplinares e tem de cumprir com tudo o que exige a sua função, como cumprimento de horário e assiduidade”, acrescentou.

A responsável considerou ainda que o funcionário não cometeu nenhuma ilegalidade e lembrou as declarações da presidente da CNPD no Parlamento, que “deixou muito claro que não lhe podem ser assacadas responsabilidades”.

“Até me choca que a Câmara de Lisboa não tenha aconselhamento jurídico”, disse ainda.

A Câmara Municipal de Lisboa aprovou, na sexta-feira, por maioria, a exoneração do encarregado de proteção de dados do município e coordenador da equipa de projeto de proteção de dados pessoais, Luís Feliciano.

Segundo adiantou à agência Lusa fonte do executivo municipal, a proposta de exoneração, que foi discutida e votada em reunião extraordinária privada, foi aprovada por oito votos a favor, seis contra e três abstenções.

A decisão de rever a equipa de projeto de proteção de dados surge na sequência dos casos de divulgação de dados pessoais de ativistas enviados às embaixadas dos países visados.

Comissão de Dados acusa Câmara de Lisboa de 225 infrações por ter divulgados dados pessoais de manifestantes

Já a presidente da CNPD defendeu, na quinta-feira, que o encarregado de proteção de dados da Câmara de Lisboa não deve ser destituído, sublinhando que a responsabilidade deve ser imputada apenas ao município.

Filipa Calvão foi ouvida no parlamento pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias a propósito da transmissão por parte da Câmara Municipal de Lisboa de dados pessoais de manifestantes a entidades terceiras, nomeadamente embaixadas.

“Uma questão a saber é se em algumas circunstâncias podem os encarregados ter aqui alguma falha que justifique a sua destituição ou afastamento das suas funções. Desse ponto de vista, o RGPD é bastante claro a determinar que não pode ser destituído, nem prejudicado ou penalizado pelo exercício das suas funções”, afirmou.

Ainda a este propósito, a presidente da CNPD criticou a Câmara de Lisboa por ter permitido que Luís Feliciano acumulasse as funções de encarregado e coordenador de projeto, considerando que “não ficou salvaguardada uma prevenção de conflito de interesses”.

“Quando muito, aquilo que se pode perguntar é se neste contexto terá cumprido a sua função. Na relação entre o encarregado de proteção de dados e o topo do município de Lisboa a interação era com o vice-presidente, mas reitero que a responsabilidade do tratamento só pode ser imputada ao município de Lisboa”, insistiu.

A CNPD identificou 225 contraordenações nas comunicações feitas pela Câmara de Lisboa no âmbito de manifestações, ficando a autarquia sujeita a coimas, por cada uma, até 10 a 20 milhões de euros.