António Costa foi o vacinado em isolamento profilático mais falado dos últimos tempos. A situação do primeiro-ministro levantou dúvidas até do Presidente da República. Afinal de que vale ter a vacinação completa? No caso de Costa valeu, desta vez, um isolamento mais curto, embora até sexta-feira viva numa espécie de liberdade condicional. As autoridades de saúde aconselharam o primeiro-ministro a manter algumas regras, depois de sair do isolamento: distância de dois metros das outras pessoas, deve usar uma máscara de proteção FFP2 e duas máscaras caso esteja em locais com muita gente. Esta avaliação tem sido feita caso a caso, mas está para breve uma nova norma para as situações em que um vacinado teve um contacto de alto risco.

A situação de Costa foi notória esta semana quando esteve, por exemplo, na apresentação de candidatura de Fernando Medina à Câmara de Lisboa. Os seguranças do primeiro-ministro (que o acompanham obrigatoriamente mesmo quando o evento é partidário) não deixaram repórteres de imagem aproximarem-se para lá dos dois metros e o socialista esteve com duas máscaras (uma FFP2, outra comunitária), como também já tinha feito na iniciativa anterior, de balanço da Presidência Portuguesa da União Europeia. Apesar de ter visto levantada a quarentena a que tinha sido forçado depois de um contacto com um membro do seu gabinete que testou positivo à Covid-19, António Costa tem mais um dia de condicionamentos, até à próxima quarta-feira, porque é quando se cumprem 14 dias desde a última vez que esteve com uma pessoa infetada.

Regras até ao 14º dia do contacto é um “reforço de medidas”

Mas o primeiro-ministro não é caso único: medidas desta natureza estão a ser aconselhadas a outras pessoas em situações semelhantes (totalmente vacinadas ou não), sobretudo em concelhos em que a incidência de casos de infeção pelo SARS-CoV-2 é maior, como Lisboa e Vale do Tejo. As recomendações são dadas no seguimento de uma avaliação “caso a caso”, conforme o tipo de contactos que os utentes estabelecem no quotidiano e até da incidência de infetados pelo coronavírus no sítio onde vivem e trabalham, confirmou Gustavo Tato Borges, vice-presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública e coordenador da resposta à Covid-19 nos Açores, ao Observador.

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O médico de saúde pública explicou que “só as pessoas que tenham baixo risco potencial de desenvolver surtos ou contagiar pessoas vulneráveis” é que podem ser dispensadas ao fim de 10 dias de isolamento com base num teste PCR negativo, uma vez que a grande probabilidade é não estarem contagiosos. Ainda assim, e por uma questão de precaução, as autoridades de saúde recomendam um reforço dessas medidas, que será tanto maior quanto maior for o número de contactos que a pessoa em causa tiver, o risco de socializar com pessoas mais suscetíveis e a incidência do local onde ela vive e trabalha.

Usar máscaras de melhor qualidade ou duas máscaras em locais mais lotados são recomendações comuns nestes contextos: “Há uma noção científica generalizada de que utilizar duas máscaras aumenta a capacidade de evitar o contágio. É uma opção especialmente interessante em locais com incidências mais elevadas, como Lisboa e Vale do Tejo”, explicou Gustavo Tato Borges.

O reforço das medidas é um procedimento previsto numa das normas da Direção-Geral da Saúde (DGS), que aponta que, ao fim de 10 dias de isolamento, uma pessoa que tenha contactado com um caso positivo pode ser dispensada da quarentena se realizar um teste PCR que resulte negativo. No entanto, nos quatro dias seguintes — ou seja, até se cumprirem 14 dias desde o contacto com o indivíduo infetado —, deve “reforçar o cumprimento das medidas de prevenção e controlo de infeção”. E isso implica limitar os contactos com outras pessoas e ser mais cauteloso na utilização de máscara.

Norma específica para vacinados disponível “muito rapidamente”

Mas não foi dada nenhuma indicação transversal por parte das autoridades de saúde para que esse reforço nas medidas de prevenção passasse especificamente pela utilização de máscara FFP2, aliada a uma segunda máscara em locais com muita gente. Noémia Gonçalves, delegada de saúde do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) Sintra, informou o Observador de que não chegou àquela unidade qualquer determinação superior para se recomendar aos utentes a utilização de duas máscaras, uma das quais do tipo FFP2.

Rui Nogueira, médico de medicina geral e familiar, também confirmou que este conjunto de regras não foi estabelecido oficialmente pelas autoridades de saúde. A norma em causa, publicada originalmente há um ano e atualizada em fevereiro, menciona a possibilidade de dispensar o isolamento de um contacto assintomático após um teste negativo ao 10º dia; e até faça de um reforço de medidas, mas nada diz sobre a necessidade de utilizar máscaras diferentes. 

Além disso, considera o médico, o documento “precisa de ser atualizado” por não tomar em conta os pacientes que estão totalmente vacinados. Nesses casos, “um vacinado que tenha um contacto de risco, se estiver negativo cinco dias depois, deveria ser dispensado do isolamento”: “A vacina não evita a infeção, daí sugerir o período de cinco dias”. Mas será necessário usar máscaras FFP2 ou até duas máscaras depois desse tempo? O médico considera que não: “Se a pessoa estiver assintomática e com teste negativo, isso é o expectável”, concluiu Rui Nogueira.

De facto, a norma em causa não menciona um tratamento diferente para quem, embora tenha estado em contacto com um caso positivo, já esteja completamente vacinado contra a Covid-19 — como é o caso de António Costa. Por enquanto, quer se esteja imunizado ou não, as regras são as mesmas. Mas António Carlos da Silva, delegado de saúde de Lisboa e Vale do Tejo, avançou ao Observador que uma nova norma, dedicada especialmente às pessoas totalmente vacinadas que contactam com casos positivos, vai ser publicada “muito rapidamente”. A DGS já reuniu com a Comissão Técnica de Vacinação e com as autoridades de saúde regionais para trabalhar nas novas regras.