Luís Filipe Vieira e os restantes três arguidos vão passar mais uma noite na prisão, confirmou o Observador. Os interrogatórios no âmbito do processo ‘cartão vermelho’, não ficarão concluídos esta sexta-feira porque ainda falta ouvir o presidente do Benfica que se auto-suspendeu do exercício do cargo.

Ao que o Observador apurou, o procurador Rosário Teixeira está preparado para promover as medidas de coação que entende que são adequadas este sábado, sendo certo que o juiz Carlos Alexandre tomará a sua decisão no mesmo dia. Logo, a expetativa é que a diligência fique concluída amanhã.

Magalhães e Silva diz que Vieira “vai prestar declarações. Não há nenhuma razão para que não responda, a não ser que seja alguma coisa de inconveniente lhe seja perguntada. Agora, à matéria da indiciação vai responder a todas as questões”.

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O advogado acrescentou ainda que “reagiu muito bem” à notícia de que terá de passar mais uma noite detido, uma vez que percebeu que “os interrogatórios demoraram o tempo que teriam de demorar. Representaria uma enorme violência prestar as declarações que teria de prestar com o juiz cansado, o procurador da República cansado, eu cansado, ele cansado”.

Luís Filipe Vieira será ouvido este sábado pelas 9h00 e “tudo indica” que as medidas de coação serão conhecidas nesse dia, acrescenta o advogado.

Por sua vez, Castanheira Neves, advogado de José António dos Santos, afirmou que o seu cliente, interrogado esta manhã, “respondeu a todas as questões”. “Com toda a tranquilidade e, do nosso ponto de vista, com toda a transparência”.

Consulta dos autos recomeçou esta 5.ª feira

A consulta dos autos pelos advogados começou ainda na última quinta-feira, por volta das 16h30, mas foi interrompida pelas 22h. Recomeçou esta manhã, pelas 9h.

Os arguidos chegaram no interior de duas carrinhas com vidros fumados, ladeadas por agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) que seguiam em várias motas e em viaturas que abriam caminho para a passagem dos suspeitos.

O Conselho Superior da Magistratura confirmou em comunicado que o primeiro interrogatório foi retimado às 9h25, com a audição de José António dos Santos, seguindo-se o arguido Bruno Macedo, que terminou às 14h16 horas.

Esperava-se que Luís Filipe Vieira fosse o terceiro a ser interrogado, mas Carlos Alexandre decidiu trocar a ordem das audições. É antes o filho do presidente do Benfica suspenso do cargo, Tiago Vieira, que está desde as 17h15 a responder às perguntas do juiz.

Estes interrogatórios são feitos em separado, mas os detidos podem escolher não se pronunciar. No fim, o Ministério Público promove as medidas de coação e as defesas alegam, anunciado se concordam ou discordam com o pedido. Só depois é que o juiz toma a decisão sobre as medidas de coação a que os arguidos ficam sujeitos.

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Os interrogatórios de Vieira e dos restantes arguidos ficaram marcados para as nove da manhã desta sexta-feira, após uma segunda noite passada nas celas da PSP de Moscavide. Todos se podem remeter ao silêncio, mas Tiago Bastos Rodrigues, advogado do filho de Luís Filipe Vieira, confirmou que Tiago Vieira tenciona prestar declarações para esclarecer algumas das informações que constam nos autos.

À chegada à Polícia Judiciária, onde funciona o tribunal, Manuel Magalhães e Silva, advogado de Luís Filipe Vieira no processo Cartão Vermelho, confirmou que vai “continuar a consultar as autos”, mas que não está preocupado com os indícios que recaem sobre o cliente: “Nada, rigorosamente nada”, disse aos jornalistas. Sobre o estado de espírito do seu cliente, o advogado afirma que “ontem estava na mais completa serenidade”.

Vieira suspende mandato na presidência do Benfica

Luís Filipe Vieira suspendeu o mandato de presidência do Sport Lisboa e Benfica “enquanto o exercício de funções puder prejudicar o processo que está em curso”, comunicou o advogado Magalhães e Silva à porta do tribunal. A decisão do presidente benfiquista já está a ser comunicada à direção do clube, garantiu o advogado depois de ler uma nota escrita pelo próprio arguido.

“O Benfica está primeiro. Perante os eventos dos últimos dias, do âmbito da operação Cartão Vermelho, em que sou diretamente visado, e enquanto inquérito em curso puder constituir um fator de perturbação, suspendo com efeitos imediatos o exercício das minhas funções como presidente do Sport Lisboa e Benfica, bem como todas as participadas do clube. Apelo a todos os benfiquistas para que se mantenham serenos na defesa do bom nome da grande instituição que é o Benfica”, dizia o comunicado.

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Depois de ler o comunicado, Magalhães e Silva reiterou: “O que Luís Filipe Vieira me encarregou de vos transmitir é muito claro. A partir deste momento suspende as funções com presidente do Sport Lisboa e Benfica e das suas participadas”. E acrescentou que esta decisão “não é uma renúncia”, apenas “uma suspensão enquanto o exercício de funções pudesse prejudicar o inquérito que está em curso”.

“[Luís Filipe Vieira] está em completa serenidade, que é revelada exatamente por este comunicado, que revela, como compreendem, um sentido da responsabilidade entre a sua posição pessoal e a posição institucional e a prevalência da posição institucional sobre a posição pessoal”, concluiu Magalhães e Silva em declarações aos jornalistas.

Tendo em conta a suspensão do mandato de Luís Filipe Vieira, o nome mais provável para substituir o dirigente é Rui Costa. Mas também é possível que Domingos Soares Oliveira possa intervir mais publicamente em questões financeiras, uma vez que o antigo médio benfiquista estará interessado em concentrar esforços no ramo futebolístico do clube, trabalhando lado a lado com Rui Pedro Braz.

Uma fonte do clube disse à Agência Lusa que a direção do Benfica vai reunir-se para decidir os “próximos passos”. A reunião da direção vai decorrer “nas próximas horas” para “deliberar os próximos passos”.

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As ações da Benfica SAD estavam esta sexta-feira a cair 3,81% face ao fecho de quinta-feira, depois de 379 ‘papéis’ transacionadas e do empresário Luís Filipe Vieira ter suspendido as funções como presidente do Benfica, deu conta a Agência Lusa. Às 11h50 em Lisboa, as ações da Benfica SAD estavam a cotar-se a 2,78 euros e a transação das 379 ações da Benfica SAD geraram uma receita de 1.085 euros. Na quinta-feira, o título tinha fechado a 2,89 euros cada.

Duas noites em prisão preventiva

O Ministério Público pediu para Luís Filipe Vieira e os outro três arguidos ficaram em prisão preventiva porque, segundo o procurador Rosário Teixeira, existe o perigo de fuga. “Os suspeitos realizam frequentes viagens ao estrangeiro e dispõem de disponibilidades financeiras do exterior”, considerou, pelo que não basta a “simples sujeição a termo de identidade e residência”.

Segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), Luís Filipe Vieira, o filho Tiago Vieira e os empresários Bruno Macedo e José António dos Santos (do império Valouro, também conhecido como “rei dos frangos”) são suspeitos de ter cometido “crimes de abuso de confiança, burla qualificada, falsificação, fraude fiscal e branqueamento de capitais”.

Os quatro suspeitos foram detidos na última quarta-feira pela PSP a ordem da Polícia Judiciária, que está a investigar o caso. No mesmo dia foram cumpridos 44 mandados de busca a sociedades, residências, escritórios de advogados e uma instituição bancária em Lisboa, Torres Vedras e Braga. A SAD do Benfica foi um dos locais sujeitos a buscas pelas autoridades.