O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa justifica a sua constante movimentação e presença nas mais variadas situações, “embora bem menos do que no primeiro mandato”, com a necessidade de “estar junto das pessoas” em tempo de pandemia, mas também para “tentar ‘furar balões’” para evitar potencial crise, admitiu em entrevista ao Público esta sexta-feira. Sobre o pingue-pongue de declarações com António Costa diz que não se pode somar uma crise política à pandémica e económica e, por isso, “não pode haver crises que afetem a execução e aplicação dos fundos europeus”.

As declarações de Marcelo Rebelo de Sousa ditam, no fundo, a sua tentativa de evitar conflitos governamentais. “Quando me apercebo que vai haver um balão que enche, configurando uma potencial crise, entendo que o melhor é intervir enquanto o balão é pequeno, a deixá-lo encher até rebentar”, disse o Presidente à entrevistadora, a jornalista Maria João Avillez, exemplificando com as negociações do Orçamento do Estado. “Por exemplo, a negociação do Orçamento. Voltei a ter intervenções antes das negociações para tentar prevenir…”.

O Presidente fala ainda na necessidade de estar lá para as pessoas que “se afligem e desnorteiam” com pandemia e os efeitos de “abre, fecha, abre, fecha”. Marcelo alertou ainda para a crise social que “está a ser e vai ser” maior que a económica, e que o facto de ser uma crise a nível europeu e mundial acaba por tornar “mais pesado o seu combate”.

Se está cansado, tal como os portugueses de toda a situação vivida no país? Sim, mas o chefe de Estado diz que “o cansaço teve uma explicação física” uma vez que não teve “férias significativas no ano passado” e que logo se deu a campanha presidencial. “Ninguém tira férias numa pandemia…”, disse.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Marcelo Rebelo de Sousa. “Por definição, o Presidente nunca é desautorizado pelo primeiro-ministro”

Questionado sobre se o pingue-pongue de declarações que trocou com o primeiro-ministro quando disse “Quem nomeia o primeiro-ministro é o Presidente, não é o primeiro-ministro que nomeia o Presidente” seria uma espécie de rutura com o chefe do Governo, Marcelo diz que tentou “mostrar o contrário” referindo que “daqui até 2023, não pode haver crises que afetem a execução e aplicação dos fundos europeus”. Essa tarefa, diz, implica “um mínimo de estabilidade”. “Somar uma crise política à crise pandémica e económica?”, remata.

A resposta de Marcelo veio depois de Costa ter garantido que Portugal estaria a avançar bem na vacinação, mas que ninguém, nem mesmo o Presidente da República, poderia assegurar que não seria preciso voltar atrás nas restrições.

Costa responde a Marcelo: “Ninguém pode garantir que não se volta atrás no desconfinamento”

Perante as diferenças entre os dois, o Presidente da República confessou que, ainda assim, o seu primeiro mandato “correu melhor do que o imaginado em Março de 2016”, uma vez que avançou para um cenário de um país acabado de sair de uma crise económica e com “uma incógnita sobre se a fórmula de Governo seria duradoura e se seria respeitado o caminho do reequilíbrio orçamental”, diz.  “A coabitação foi facilitada pela opção governativa de seguir o caminho da redução do défice e pela inesperadamente estável relação na base de sustentação do poder”.