Um homem de 36 anos morreu, esta segunda-feira, durante um confronto entre manifestantes e as forças de segurança na capital cubana, Havana, tendo várias pessoas ficado feridas e outras sido presas, informou a agência de notícias de Cuba (ACN). Segundo a organização não-governamental (ONG) Cuba Decide, o número de vítimas mortais será superior (pelo menos cinco).

Os factos ocorreram numa manifestação em La Guinera, no município de Arroio Naranjo, na zona sul de Havana. De acordo com a ACN, o protesto de segunda-feira, num dos bairros mais pobres da capital, foi veiculado em vários vídeos nas redes sociais, apesar de o Governo manter o acesso à Internet móvel cortado desde domingo. Nas imagens, podem ver-se dezenas de pessoas a avançar pelas ruas a gritar palavras de ordem como: “Liberdade” ou “O povo unido nunca será vencido”.

Segundo a versão da ACN, citada pela agência noticiosa EFE, os manifestantes “provocaram desordem e tentaram dirigir-se à sede da Polícia Nacional Revolucionária (PNR), com o objetivo de atacar as forças de segurança e danificar as instalações”.

Os meios de comunicação pró-governo acusam os manifestantes de atacarem os polícias com pedras e facas, vandalizar casas, atear fogo em contentores e danificar linhas de transmissão. Garantem ainda que a vítima mortal tinha “antecedentes de desacatos, furtos e conduta desordeira” e que as autoridades estão a investigar as circunstâncias do óbito.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

A manifestação de La Guinera ocorreu um dia depois de milhares de pessoas terem saído às ruas para protestar contra o governo de Miguel Díaz-Canel, que culpam pela falta de alimentos e remédios, cortes de energia e o pior surto de Covid-19 desde o início da pandemia. As manifestações que começaram no domingo em Cuba são as maiores naquele país das Caraíbas desde o “Meleconazo”, ocorrido em agosto de 1994, em Havana.

Divulgada lista de 150 detidos na sequência dos protestos. Número real pode ser superior

No domingo, jornalistas da CNN testemunharam várias pessoas a serem detidas à força e atiradas para as traseiras de carrinhas em Havana, mas até ao momento, o governo cubano não disse quantas pessoas foram presas ou ficaram feridas nos protestos. De acordo com a organização internacional Human Rights Watch, mais de 150 pessoas foram detidas ou estão desaparecidas.

Uma lista inicial e em atualização foi divulgada pela Cubalex supera atualmente os 200 detidos. A mesma ONG informou esta quarta-feira que, entre as 9h de 11 junho e 13 de julho, foram detidas 148 pessoas, 12 das quais entretanto libertadas. Segundo o jornal ABC, o meio de comunicação independente cubano 14tmedio informou que o número total de pessoas abordadas pelas autoridades será muito superior, rondando os cinco mil entre detidos e investigados.

Espanha pede libertação de jornalista cubana detida na segunda-feira à porta de casa

Entre os detidos conta-se a jornalista independente cubana Camila Acosta, que escreve para o jornal espanhol ABC, informou esta terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros de Espanha, José Manuel Albares, que pediu a sua libertação. No Twitter, Albares declarou que “Espanha defende o direito à manifestação livre e pacífica e pede às autoridades cubanas que o respeitem” e pediu a “libertação imediata de Camila Acosta”.

Também o primeiro-ministro Pedro Sánchez, em entrevista à Telecinco, apelou à libertação da jornalista, considerando que Cuba “não é uma democracia” e que os cubanos devem ser capazes de se manifestar livremente e ter os “mesmos direitos e liberdades que em Espanha”. “Sem interferência, o país tem de encontrar o seu caminho”, declarou, segundo a Reuters.

Acosta, que tinha noticiado os protestos no domingo, foi detida na segunda-feira quando saía de casa, em Havana. Segundo noticiou o ABC, a sua casa terá sido alvo de buscas e o seu computador apreendido. Não é a primeira vez que a jornalista tem problemas com as autoridades cubanas.

Artigo atualizado às 10h33 de 14/7/2021