A lógica é simples: prevenir em vez de remediar. Sem ter a certeza se os desmaios de 20 jovens, com menos de 30 anos, estão ou não relacionados com a toma da vacina da Janssen, o Infarmed decidiu suspender o uso deste lote do medicamento. No entanto, fonte oficial garantiu ao Observador que o mesmo lote foi usado em centros de vacinação de todo o país, na quarta-feira, e em nenhum outro local do país foram registados problemas. Apenas no Centro de Vacinação de Mafra, onde o número de síncopes foi anormal. No entanto, desmaios, refere fonte oficial, há todos os dias.
Ali, ao que o Observador apurou, só num dos casos houve sintomas para além da palidez, quebra de tensão e desmaio. Um dos vacinados teve uma convulsão tónico-clónica, ou seja, sofreu movimentos involuntários em ambos os lados do corpo e contração súbita dos músculos.
Todos os casos aconteceram num curto espaço de tempo, durante o período da manhã. Neste tipo de situações, a regra é enviar os doentes para o hospital de referência, de modo a que continuem a ser monitorizados, mas apenas o jovem que teve convulsões foi encaminhado para o hospital.
“Este tipo de situações, de reações vagais ou desmaios, são relativamente normais. O que chamou a atenção dos colegas de Mafra foi não ser habitual assistir-se a um número como o de quarta-feira, num curto espaço de tempo, e todos com o mesmo quadro clínico”, explica ao Observador Sérgio Branco, presidente da secção Sul da Ordem dos Enfermeiros.
“Perante uma situação que fugia à normalidade, os colegas avisaram as autoridades de saúde e decidiram, e bem, suspender de imediato a administração daquele lote”, explica o enfermeiro. Essa foi, aliás, a decisão do Infarmed depois de ter conhecimento do caso que está agora a ser investigado. Os 20 casos que lhe foram reportados aconteceram em jovens entre os 20 e os 27 anos, não se sabendo, para já, se eram homens ou mulheres.
No entanto, em Portugal, a vacina da Janssen só é recomendada a mulheres acima dos 50 anos, o que leva crer que todos seriam doentes do sexo masculino.
Investigação segue, Infarmed espera novidades em breve
Neste momento, todas as hipóteses estão em cima da mesa: os desmaios podem ser um efeito adverso à vacinação, uma consequência do calor que se sentia ou uma reação vagal, derivada da ansiedade, entre muitas outras hipóteses.
Por ser um acontecimento pontual e tão peculiar, o Infarmed, em conjunto com a Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, está a investigar todas as possibilidades, para não deixar a situação sem resposta.
A previsão é de que ainda esta quinta-feira haja mais novidades.
Infarmed investiga casos de “reações adversas” à vacina Janssen em Mafra
Durante a manhã, na conferência de imprensa da Agência Europeia do Medicamento (EMA), houve a garantia de que a eventual ligação entre a vacina da Janssen e os desmaios vão ser investigados.
“Não é incomum, em pessoas jovens, haver relatos de efeitos secundários relacionados com síncopes ou desmaios, por isso pode muito bem representar um efeito secundário que [a agência] irá certamente analisar”, disse Georgy Genov.
Casa aberta suspensa, negociações com a Noruega continuam
Depois de suspenso o lote da Janssen, a task force para a vacinação suspendeu também a modalidade casa aberta que permite que pessoas sem marcação, acima dos 40 anos, sejam vacinadas.
Contactada pelo Observador, fonte oficial explicou que esta decisão foi tomada para não pôr em causa o fluxo de vacinação de pessoas com marcação, já que com a retirada de milhares de doses do mercado a disponibilidade de vacinas reduz-se significativamente.
O expectável é que sexta-feira se mantenha a suspensão da modalidade casa aberta, mas, havendo resultados da investigação do Infarmed, e desde que a segurança da vacina esteja assegurada, as portas dos centros voltem a abrir-se para quem não tem agendamento na segunda-feira.
Suspensão de lote de vacinas Janssen obriga a interromper modalidade de vacinação “casa aberta”
Fonte oficial do Infarmed garantiu também que este lote de vacinas nada tem a ver com as negociações de troca de medicamentos que estão a ser negociadas com a Noruega. Para acelerar o processo de vacinação, Portugal está a negociar o envio de vacinas da Janssen, medicamento de toma única, para Lisboa. Em troca, envia vacinas da Pfizer para a Noruega.
No entanto, este acordo ainda não está selado e esses medicamentos ainda não foram enviados para Portugal.