O presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Altice em Portugal disse esta quarta-feira à Lusa que a Anacom “não se sente responsabilizada” pelos despedimentos na operadora e que esta “tem poucas razões de queixa“.

O sindicato reuniu-se esta manhã com a Autoridade Nacional de Comunicações (Anacom), no dia em que decorre uma greve na Altice e em que algumas centenas de trabalhadores se concentraram em Picoas, junto à sede da empresa em Lisboa, para protestar contra o despedimento coletivo de mais de 200 trabalhadores.

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“A Anacom não se sente de forma nenhuma responsabilizada, ao contrário do que afirma a empresa, pela questão do despedimento coletivo”, disse à Lusa Jorge Félix, enquanto decorria a concentração de trabalhadores em Picoas, ao início da tarde.

“A Anacom diz que cumpre com o seu dever e um dos principais deveres da Anacom é respeitar e fazer respeitar (…) os relatórios que favoreçam essencialmente o consumidor, sem naturalmente desprezar aquilo que é rendimento da empresa e é isso que a Anacom tem feito”, prosseguiu o sindicalista.

“Eles [Anacom] consideraram que a nossa empresa tem poucas razões de queixa porque em Portugal, e a Altice concretamente, é das empresas onde se paga mais caro as telecomunicações”, referiu, salientando que em comparação com o Reino Unido é uma “diferença [ganhos] de duas vezes”.

Ou seja, “enquanto no Reino Unido os ganhos das empresas estão em 20%, cá, no caso de empresas como a Altice, ganham 40%”, de acordo com o regulador. “Agora, naturalmente, o que Altice continua a querer é cada vez investir menos” e “tudo o que for regulação que vá no sentido de repartir o mercado”, a empresa liderada por Alexandre Fonseca “está contra”, prosseguiu Jorge Félix.

Agora, “haver motivos efetivos ou pôr em causa que a relação da Anacom obriga a esta reestruturação, a este despedimento, eles negam totalmente e consideram que é uma falsidade”, contou o sindicalista. “Vem claramente mostrar que há de facto aqui uma tentativa de pressão, neste caso da Altice Portugal, relativamente ao regulador e até ao Governo e que os trabalhadores despedidos estão a servir infelizmente de tropa de choque, de arremesso”, acusou.

E isto “era o nosso pensamento e, portanto, nós consideramos que isto é de facto um despedimento essencialmente político, que pouco ou nada tem a ver com a situação concreta da empresa ou da possibilidade de a empresa continuar a poder suportar estes duzentos e tal trabalhadores”, reforçou.

“O Governo deve atuar, principalmente o senhor primeiro-ministro tem que dizer alguma coisa nesta fase”, instou o presidente do sindicato.

Relativamente à concentração de trabalhadores, Jorge Félix disse que esperava “umas centenas”, apesar de mais de 40% estar em teletrabalho e de algumas das pessoas despedidas estarem no período de férias. “Não era fácil, em princípio, conseguir tornar que esta concentração fosse de grande dimensão, de qualquer maneira já é simbolicamente bastante importante e mostra de algum modo o descontentamento” dos trabalhadores, concluiu.

Em 22 de junho, a dona da Meo anunciou que iria avançar com um despedimento coletivo, uma decisão que classificou de “difícil”, mas “indispensável, essencialmente devido ao contexto muito adverso” que se vive no setor das telecomunicações.

A empresa liderada por Alexandre Fonseca elencou então “o ambiente regulatório hostil, a falta de visão estratégica do país, o contínuo, lamentável e profundo atraso do 5G [quinta geração], bem como a má gestão deste dossiê, e ainda as múltiplas decisões unilaterais graves da Anacom e de outras autoridades, sempre com a cobertura da tutela, e que ao longo dos últimos quatro anos destruíram significativamente valor”.