A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) reforça na quarta-feira, Dia Mundial das Hepatites, a campanha para sensibilizar a população sobre a importância do diagnóstico precoce e tratamento das doenças do fígado.
Cerca de 40 mil portugueses sofrem de hepatite, uma doença que provoca inflamação do fígado, que pode desaparecer espontaneamente ou progredir para fibrose (cicatrizes), cirrose ou cancro.
Existem cinco tipos de hepatite sendo que a B, C e D têm maior probabilidade de se tornarem contínuas e crónicas, enquanto a A é sempre uma doença aguda a curto prazo e a E é geralmente aguda e particularmente perigosa em mulheres grávidas.
O presidente da SPG, Guilherme Macedo, explicou à Lusa que não há nenhuma condição que restrinja o tratamento contra a hepatite C e todos os doentes identificados devem ser tratados — desafio para os próximos anos e que considera um “objetivo realista”.
A eliminação da hepatite C em Portugal é possível e desejável. Só não foi concretizada até ao momento por haver embaraços de índole administrativa e organizacional aos quais se acrescentou a pandemia corrente que fez desviar a atenção, mas sobretudo recursos, aspeto que tem impactado qualquer estratégia”, afirmou.
O responsável refere-se a este problema como uma “pandemia esquecida”, que tem solução na proximidade entre doentes e sistema de saúde, e só é possível desenvolver “com a adoção do plano estratégico nacional que tem sido permanentemente adiado e o envolvimento ativo das estruturas de saúde”.
“Não podemos esperar só que sejam os indivíduos a procurar fazer análises. Para a hepatite C não chega. É preciso que o próprio sistema de saúde vá ao encontro de algumas das pessoas infetadas, porque há nichos de populações vulneráveis que são mais difíceis de incorporar no sistema de saúde”, defendeu.
“A única forma de diagnosticar uma hepatite crónica não é pelos aspetos clínicos, é pelos laboratoriais, daí nós insistirmos muito na realização regular de análises para perceber se a pessoa teve contacto com os vírus da hepatite. No caso da Hepatite C isto é particularmente importante, porque é uma infeção curável em relativamente poucas semanas que pode evitar uma situação oncológica gravíssima”, acrescentou.
O presidente da SPG considerou ainda que não podem continuar a existir barreiras administrativas que só atrasam o processo de cura, como a necessidade de autorização do hospital para ser fornecida a medicação aos doentes identificados com hepatite C. Para o responsável a prescrição médica deve ser feita imediatamente, à semelhança do que acontece com os casos de hepatite B.
A campanha da SPG foi lançada no início do mês de julho com um vídeo a recomendar: “Faça análises antes que o seu fígado dê que falar” — um alerta para a realização regular de análises ao fígado, de modo a promover o diagnóstico precoce de doenças como a hepatite crónica, a cirrose e o cancro do fígado, e respetivos tratamentos.
As doenças do fígado têm uma natureza silenciosa, sintomas como o desconforto abdominal, febre, mal-estar, fadiga, perda de apetite, urina escura e fezes claras podem manifestar-se num estado avançado.
Embora a hepatite seja uma doença evitável, tratável e, no caso da hepatite C, curável, afeta 325 milhões de pessoas em todo o mundo, causando 1,4 milhões de mortes por ano, o que levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a assumir o objetivo de erradicar a hepatite B e C até 2030.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) também apelou, em maio de 2021, para a realização dos testes gratuitos e confidenciais de VIH, hepatites e infeções sexualmente transmissíveis, no âmbito da Semana Europeia do Teste de Primavera 2021, após decréscimo no número de testes realizados à escala global.
Em Portugal, segundo os dados Infarmed, foram autorizados, desde 2015 até ao dia 01 de julho de 2020, 27.239 tratamentos para a hepatite C e iniciados 26.006. A taxa de cura mantém-se nos 97%, com 15.909 doentes curados e 572 não curados.