“Esta coisa é demasiado pesada.” Esta foi das primeiras reações de Primož Roglič após a vitória olímpica, ao mesmo tempo que segurava na medalha de ouro que envergava ao peito. “É extremamente fantástico, depois das coisas duras que me aconteceram nos últimos tempos”, prosseguiu o esloveno, que ainda em julho se viu obrigado a abandonar a Volta à França por lesão. Mas o balanço é positivo e “recompensou todo o trabalho” até chegar a Tóquio: “Consegui chegar ao final, era esse o meu trabalho, fi-lo bem, o tempo foi suficiente para a medalha de ouro e estou muito contente com isso.”

Mas o que Primož Roglič alcançou não foi só suficiente — foi mesmo um recorde nos Jogos Olímpicos. Para além de ter derrotado o atual campeão do mundo em contra-relógio Filippo Ganna (que ficou em quinto lugar), o esloveno registou um tempo de 55:04.19, enquanto o segundo classificado, o holandês Tom Dumoulin, contabilizou 1:01.39. Esta diferença de tempos foi mesmo a maior de sempre entre o primeiro e o segundo lugar no contra-relógio olímpico.

Este recorde vem no seguimento da desistência do ciclista na última edição da Volta à França, onde era considerado um dos favoritos à vitória. “Estou muito desapontado”, confessou na altura, dizendo que era “tempo de recuperar e procurar novos objetivos. Continuo otimista”. E, passadas três semanas, havia mesmo motivos para o seu otimismo.

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Vencedor da La Vuelta nas últimas duas edições e após ter vencido a Volta ao Algarve em 2017, Primož Roglič tem sido consecutivamente considerado, desde 2016, o melhor ciclista esloveno da atualidade (mesmo tendo Tadej Pogačar, vencedor das últimas edições da Tour de France, como opositor) e foi mesmo nomeado o melhor desportista do pequeno país dos Balcãs nos últimos dois anos. Sendo uma estrela na Eslovénia, várias pessoas acompanharam a sua vitória na sua terra natal (Loke pri Zagorju) e celebraram-na com champanhe, mesmo que o relógio marcasse as 10h em Liubliana.

Aos 31 anos, Primož Roglič tornou-se campeão olímpico e reforçou o papel de estrela no país de origem. Mas a carreira do esloveno não começou no ciclismo — as primeiras experiências no desporto foram no salto de ski e chegou até a ter sucesso. Em 2006, Roglič conquistou uma medalha de prata no Campeonato do Mundo Júnior da modalidade e, um ano depois, conquista mesmo a de ouro. No entanto, em 2007, sofre um traumatismo craniano após uma aparatosa lesão, o que o afastou algum tempo do desporto e o levou a repensar os planos. “Comecei muito novo a praticar salto de ski, até era bom, mas no final, por falta de motivação e por problemas com lesões, decidi mudar de desporto”, disse Primož Roglič em entrevista ao portal inCycle.

O ciclismo sempre havia sido um dos seus hobbys, mas transformou-se na sua ocupação a tempo inteiro oficialmente em 2012, no ano em que abandona oficialmente o salto de ski. “Vendi a minha mota para comprar pela primeira vez uma world bike”recorda. Começou a treinar, entrou na alta competição e estreou-se em competições internacionais em 2016, no Giro d’Italia. Um percurso acidentado, mas que o levou, esta quarta-feira, à medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio.