Em quatro anos, entre 1984 e 1988 e Los Angeles e Seul, Alexandre Yokochi alcançou um 7.º e um 9.º lugar em Jogos Olímpicos e tornou-se o primeiro português a nadar numa final olímpica. O que nem Yokochi, nem a natação portuguesa nem o próprio país sabiam era que, mais de 30 anos depois, o feito continuava a estar totalmente isolado. Ainda assim, esta quarta-feira, Ana Catarina Monteiro deu o primeiro passo rumo ao futuro: a nadadora portuguesa tornou-se a primeira a competir numa meia-final, onde acabou em 5.º, e terminou a participação nos 200 metros mariposa na 11.º posição, fora da final mas com o terceiro melhor resultado de sempre da natação nacional.
A atleta do Clube Fluvial Vilacondense sabia antecipadamente que iria qualificar-se para as meias-finais devido à desistência da húngara Katinka Hosszu, poupou-se na terceira e última eliminatória mas passou o apuramento com o 14.º melhor tempo. Na meia-final, onde nadou na pista 1, realizou uma segunda metade de prova abaixo do expectável e não conseguiu bater o recorde nacional, aquele que era o principal objetivo de Ana Catarina Monteiro, terminando com 2.09.82. Numa prova que foi ganha pela norte-americana Hali Flickinger, seguida de Regan Smith e Svetlana Chimrova, a atleta natural de Vila do Conde acabou no quinto lugar e à frente das representantes da Dinamarca, da Turquia e das Honduras.
Ana Catarina Monteiro teve então de esperar alguns instantes para perceber se alcançava o milagre, já que participou na primeira meia-final e teve de aguardar pelos tempos da segunda, mas acabou por conformar-se com um 11.º lugar geral que não garante uma presença na final mas assegura o terceiro melhor resultado olímpico de sempre da natação nacional, apenas atrás dos registos de Yokochi nos anos 80, e o melhor no setor feminino.
Horas mais tarde, em declarações à Agência Lusa, Ana Catarina Monteiro revelou estar a viver “um misto de emoções”. “Fui 11.ª nuns Jogos Olímpicos, a mais de um segundo e meio do meu melhor tempo, e isso mostra o nível de exigência dos mínimos e dos 200 metros mariposa. Claro que chegar à final era um sonho e ficou aqui mesmo ao lado, mas só posso estar orgulhosa do que fiz”, começou por dizer a nadadora.
[Ouça aqui a entrevista de Ana Catarina Monteiro à Rádio Observador:]
“O meu recorde pessoal [02.08,03] chegava, mas o das outras também. Eu cheguei com o 13.º tempo e saio daqui com o 11.º. Claro que fica sempre essa sensação mas fiz o meu melhor tempo de uma época tão atípica em que senti muita, muita falta de competições internacionais. Isso, para mim, faz bastante diferença, porque nos 200 mariposa em Portugal nado praticamente sozinha e sentia muita falta de competir e conseguir competir com as adversárias. Hoje, sinto que consegui fazê-lo e, portanto, foi mais um passo em frente. O trabalho vai continuar, porque continuo com muitos sonhos e muitos objetivos pela frente”, acrescentou Ana Catarina Monteiro.
A nadadora do Clube Naval Vilacondense, natural de Vila do Conde, sublinhou ainda o apoio “muito grande” que sentiu por parte “da família, dos amigos”, do treinador Fábio Pereira e ainda da equipa portuguesa da natação, que foi um “suporte fundamental”. “Este resultado é para eles, somos todos 11.º dos Jogos Olímpicos”, atirou. “Depois de chegar a este patamar, o objetivo não é andar para trás. Eu sou do tipo de pessoas que quer sempre mais. Os meus indicadores de treino estavam a ser os melhores de sempre mas, lá está, faltava o ritmo competitivo e é nesse aspeto que tenho três anos para trabalhar. Se calhar, aumentar a competição internacional, estar mais vezes lado a lado com as melhores do mundo e chegar mais à vontade a este tipo de competição”, concluiu a atleta de 27 anos.