Enviado especial do Observador, em Tóquio

Em Londres foi a desilusão, depois de uma medalha de prata com recorde nacional dos Europeus (14,52), com um 13.º lugar na qualificação que deixou a presença na final de 2012 adiada apenas por um par de centímetros. No Rio de Janeiro foi a confirmação, após ter sido campeã europeia com 14,56 (recorde nacional), com um sexto lugar consistente na final de 2016 e um novo recorde nacional de 14,65. Patrícia Mamona é uma atleta que foi ganhando a tendência para se superiorizar nos momentos chave e em Tóquio voltou a não ser exceção.

Inserida no grupo B de qualificação para o triplo salto, a atleta portuguesa necessitou apenas de um salto bem calculado para resolver a questão do apuramento, fazendo um 14,54 que lhe valeu presença direta na final. Na primeira tentativa, e apenas na sua série, foram mais três as apuradas diretas entre Thea Lafond (14,60, recorde nacional), Liadagmis Povea (14,50) e Shanieka Ricketts (14,43), ao contrário do que se passou no grupo A onde apenas a super favorita venezuelana Yulimar Rojas começou com um 14,77 sem esforço. Só mesmo a espanhola Ana Peleteiro, com a melhor marca pessoal do ano à segunda tentativa, chegaria à marca direta (14,62).

Na altura em que a espanhola tinha saltado mas estava a passar a repetição das televisões que se encontram na zona mista, Patrícia Mamona passava pelo espaço do triplo salto com Yulimar Rojas. A venezuelana, que vive e treina em Guadalajara com a espanhola, festejou com saltos e aplausos a marca de Ana Peleteiro, a portuguesa, que também a conhece bem, preocupou-se apenas em ver como tinha saltado, onde tinha feito a chamada e que marca tinha feito. Todos os pormenores contam numa “guerra” mais aberta e com mais qualidade do que nunca, sendo que foi por aí que começou a conversa na zona mista com a atleta nacional após o apuramento.

– Vocês viram como é que foi o meu salto, a quanto ficou?

A pergunta lançada assim teria uma resposta mais imediata – não, não vimos porque a bancada de imprensa é demasiado baixa no que ainda havia, o triplo salto realiza-se no lado oposto e o máximo que se consegue ver fica resumido à corrida das atletas até à chamada. Vindo a pergunta de Patrícia Mamona, a resposta que esperava era mesmo outra porque como teve de fazer um movimento quase à última para acertar a corrida e não fazer nulo queria saber a quanto tinha ficado da plasticina (13 centímetros). Ou seja, os 14,54 vão valer bem mais.

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“Esta qualificação para mim é já fruto de alguma experiência, se há alguma coisa que me deixa às vezes um pouco nervosa são as qualificações porque temos tendência a tentar estar nas duas primeiras mas quando a marca de qualificação são 14,40 e sabes que tens aquilo nos pés é uma questão de pensar em saltar muito. Foi isso que eu pensei, basicamente, porque sabia que se saltasse muito ia fazer a qualificação. Por vezes há nulos que nos deixam nervosos mas tive a felicidade de conseguir ajustar mesmo no fim porque ia dar nulo. Saí daqui feliz e já estou a pensar na recuperação porque esta final olímpica vai ser dura…”, começou por dizer, antes de fugir às simples contas de matemática de juntar os 14,54 aos 13 centímetros de distância da tábua.

“Não sei mesmo a quanto estou a saltar, quando vou para uma final vou para dar tudo. Eu pessoalmente não penso em marcas, vou para fazer o melhor. A marca é a consequência daquilo que eu faço. Por isso, não vou dizer… Não sei mesmo… Recorde nacional nas pernas [14,66]? Eu penso que sim e esta é a altura ideal para fazer recorde nacional. O nível do triplo salto está alto, houve 35 raparigas com marca de qualificação… Acho que temos de focar naquilo que controlamos, no meu caso é em saltar muito e tudo o resto é consequência. Toda a gente sonha com uma medalha, o jogo está muito aberto e é uma questão de sermos felizes”, destacou, sem dar a medalha de ouro a Rojas: “É competição, nunca se sabe. E se faz três nulos? O importante é focar”.

“Se vi os saltos de qualificação das outras concorrentes? Não, nem faz parte do que costumo fazer. Não foco nas outras, tenho de me focar em mim. Sensações? Felizmente vim com algum tempo de antecedência, já tinha a experiência de vir ao Japão que correu mal e foi isso que fez com que percebesse que tinha de vir mais cedo para me conseguir habituar. Precisamos de estar atentos ao sinal do corpo, à desidratação. Ainda por cima eu, que quando vou para as competições tenho tendência para libertar tudo o mais rápido possível. Nesta prova é muito importante estar sempre a repor com água e com sais minerais. Ter vindo mais cedo deixou-me habituar às condições. Adaptei-me bem. E se chover? Não, não me preocupa porque é igual para todas”, concluiu.

Já Evelise Veiga, a outra portuguesa que participou na qualificação para a final do triplo salto, até começou com um bom salto de 13,93 que foi a melhor marca pessoal do ano mas não conseguiu melhorar depois o registo nos dois saltos seguintes (13,63 e 13,57), acabando com a 19.ª marca de apuramento a 28 centímetros da última qualificada, a finlandesa Kristiina Makela. Caterine Ibarguen, Hanna Minenko, Kimberly Williams e Keturah Orji foram outras das qualificadas de um concurso que teve como registo mínimo de apuramento um 14,28.