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Ai estica, estica. Acordar os músculos, prevenir lesões e libertar o stress — como o stretching se tornou numa tendência

Este artigo tem mais de 3 anos

Conseguir fazer a espargata em dois meses e picos como Carolina Patrocínio? O sedentarismo da pandemia despertou a procura por aulas de stretching, amigos do bem estar corporal e alívio de tensões.

A B Body Lab é uma plataforma online que dá aulas de ballet fitness e potencia a flexibilidade e mobilidade ©DR
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A B Body Lab é uma plataforma online que dá aulas de ballet fitness e potencia a flexibilidade e mobilidade ©DR

A B Body Lab é uma plataforma online que dá aulas de ballet fitness e potencia a flexibilidade e mobilidade ©DR

É difícil justificar algo atualmente como não sendo fruto da pandemia, porque o que é certo é que muitos hábitos mudaram precisamente por termos transformado as nossas casas em tudo o que fazíamos lá fora — passaram a ser escritório, jardim, restaurante e até ginásio. Nos últimos tempos, muito fruto do aumento do sedentarismo pandémico, há uma maior procura por aulas e exercícios de stretching – alongamentos à séria – e de flexibilidade que fazem suar tanto como uma aula intensa de cardio. Além do efeito estético, os instrutores das modalidades comprovam que estes exercícios são um poço de virtudes a nível terapêutico e até emocional. Melhoram a postura, previnem lesões, libertam tensão e stress e alimentam o espírito competitivo daqueles que gostam de se superar.

É o caso, precisamente, de Carolina Patrocínio. Quem é ávido seguidor de alguns dos maiores influenciadores digitais em Portugal poderá já ter percebido que a apresentadora é fã deste tipo de modalidades que dão um boost jeitoso à flexibilidade e, por consequência, também à mobilidade do corpo. Carolina propôs-se ao desafio: conseguir fazer a espargata. Laura Lima, que trabalha numa escola de dança como preparadora física e fora disso é também personal trainer, deu-lhe a receita que, em dois meses e picos, foi executada com sucesso.

Carolina Patrocínio publicou no Instagram o resultado do treino com Laura Lima ©Carolina Patrocínio/Instagram

“Foi um grande objetivo e também muito específico a que ela se propôs. A Carolina nunca tinha alongado a sério e estes exercícios feitos numa base regular levam as pessoas a ultrapassarem o que achavam que não conseguiam. O foco dita tudo”, explica. “Aquilo que ela conseguiu fazer para a rigidez muscular dela, devido aos treinos de força, foi fantástico. Dava-lhe gozo conseguir atingir amplitudes articulares maiores”.

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A antiga ginasta dá aulas de stretching e afirma que “o corpo alongado é um corpo mais saudável”. Laura Lima aponta vantagens claras neste tipo de exercícios que ajudam a prevenir lesões e dores musculares regulares, dizendo que “ajudam a ter mais consciência corporal” e a melhorar a postura no dia a dia. “Ao aliviar tensões musculares, responsáveis por dores nas costas, pescoço, cabeça, as pessoas vão sentir-se muito mais soltas no dia a dia. Muita gente sente um grande alívio depois de começar a fazer estas aulas e é ótimo”, explica. “O corpo fica mais leve mas a cabeça também”.

Laura Lima dá aulas de stretching e de barra de chão

A juntar a estas aulas de stretching, leciona também barra de chão onde conjuga a força e o alongamento, numa aula feita apenas com o peso corporal e sem material. “São ótimas para a postura e flexibilidade e para fortalecer o corpo inteiro”, diz, explicando que para quem está a começar deve sempre iniciar-se com as aulas de alongamentos e só depois, e com motivação, procurarem as aulas de barra de chão.

Laura dá aulas há 12 anos e nota que a procura por este tipo de exercícios tem aumentado progressivamente, sobretudo durante a pandemia, até porque as pessoas percebem que o bem estar corporal que ganham com a prática de uma simples sessão de alongamentos pode mudar a forma até como se executam tarefas do quotidiano. “A base do meu trabalho é a harmonia do trabalho de força e flexibilidade conjugado”, explica. “Eu acho que é preciso quebrar mitos de que os alongamentos são só para mulheres ou que só o trabalho de força é que é importante e faz diferença. Nada disso é verdade. Todos podemos e devemos fazer estes exercícios, além de que traz muitos benefícios para quem pratica outro tipo de treinos”.

A professora de dança num dos seus exercícios ©Laura Lima/Instagram

Dá aulas de barra de chão (15 euros aula avulso; 40€/mês uma vez por semana) na Arcade Dance Center, em Benfica, mas para quem procura um acompanhamento mais intenso e personalizado pode contactar a professora pelo Instagram para aulas de personal trainer e planos acompanhados.

Outra das grandes defensoras deste tipo de exercícios é Sofia Bichão, fundadora do B Body Lab, um estúdio online que surgiu durante a quarentena em 2020 com aulas de condicionamento físico que utiliza posturas e posições de ballet para trabalhar a tonificação muscular, postura e flexibilidade — o ballet fitness. Mas quem ouve a palavra ballet “tende a fugir a sete pés”, conta-nos Sofia. “É a minha luta constante, é mostrar às pessoas que isto são aulas de condicionamento físico que utilizam posições e inspirações de ballet clássico e contemporâneo”. E desengane-se quem acha que precisa de ter praticado pontas para ingressar numa destas aulas, porque “a ideia não é mesmo essa e absolutamente qualquer pessoa com vontade de fazer exercício pode fazer ballet fitness”.

Licenciada em Dança, Sofia enveredou por esta vertente há cinco anos, apesar de já dar aulas de dança há uma década. “As pessoas muitas vezes não percebem a vantagem de fazerem este tipo de modalidades, em vez de se focarem só nos ginásios e naquilo que parece ser mais forçado”, diz. “Aqui, à base da repetição dos exercícios, começamos a trabalhar na tonificação dos músculos, à medida dos tempos em que estamos em determinada posição trabalhamos muito a flexibilidade, isto só traz vantagens ao nosso corpo”.

As posturas são inspiradas no ballet clássico e contemporâneo ©DR

As suas aulas, explica, são compostas pelo dito aquecimento que pode ser feito na barra ou no centro — que em casa são, respetivamente, uma cadeira e o colchão. “A pandemia e as aulas online também permitiram que mais pessoas fossem mais ativas em casa e procurassem novas forma de praticarem exercício”. Entre movimentos e posturas inspiradas no ballet, a modalidade foca-se sobretudo em aumentar a mobilidade, em tonificar os músculos e em aumentar a flexibilidade. Cada sessão termina com “uma parte de stretching como deve ser”, até porque Sofia traz na bagagem o alongamento de quem pratica dança profissionalmente. “Não é só para alongar glúteos e coxa, é um alongamento a sério, que muitas vezes as pessoas ignoram mas esquecem-se que é isso que permite o corpo adaptar-se aos exercícios, ganhar elasticidade de certa forma”, explica.

As aulas acabam por trabalhar, fundamentalmente, a postura, que acaba por se tornar numa “coisa natural”, diz Sofia. “Ombros para trás, pescoço comprido, barriga para dentro para respirar – é assim. Outro dos pontos muito importantes que este tipo de aulas ajuda é a respiração através do movimento”.

As aulas (14,99 euros por mês/129,80 euros por ano) são dadas via Zoom terças e quintas às 19h30 e quem subscreve no site acede ao link em “Live Classes” dentro da área de membros, minutos antes da mesma, para a aula em direto, tendo direito também às aulas gravas. Para além das aulas de grupo, há também quem recorra a aulas particulares com Sofia, com acompanhamento personalizado, basta contactar através do formulário do site ou mesmo no Instagram. Este acompanhamento é também dado a todos os membros do B Body Lab que recebem um plano de treinos com a opção de um, dois ou três dias de descanso, com base na condição física de cada um.

Em casa os alunos conseguem reproduzir os exercícios sem recurso a material profissional ©DR

A fundadora do B Body Lab, que ganhou um número generoso de alunos no primeiro confinamento que continuam a praticar e a convencer outros a experimentar, garante que as melhorias na postura corporal das pessoas são notórias ao fim de algumas aulas, sobretudo agora “em tempos de pandemia que as pessoas passam mais tempo sentadas e sem se mexerem muito”. Passa também por aumentar a mobilidade corporal, a já dita flexibilidade, a coordenação motora e a tonificação do corpo, não  apenas como uma questão estética mas como uma questão de prevenção de lesões quotidianas.

Se há restrições para quem pode ou não praticar? “Nenhumas. A minha mãe tem 63 anos e faz absolutamente todas as aulas”, atira. A professora de dança realça ainda o facto de, apesar de as aulas serem de grupo, acaba por adaptar cada exercício aos alunos que estiverem presentes, uma vez que a capacidade não será a mesma para todos. Sofia fala também no “bem-estar emocional” porque ajuda a descomprimir e a libertar o stress, por serem, muitas vezes exercícios que requerem alguma concentração.

A saúde mental ganha pontos pela necessidade de “consciência corporal”

“No cenário atual, este tipo de modalidades vai muito além do bem estar físico, há uma componente muito associada à saúde mental que se tornou fundamental olharmos para ela”, começa por dizer Gabriel Jorge, diretor técnico do ginásio Breathe Sport Fitness, no Porto, que tem uma secção de aulas de grupo apenas dedicada à mobilidade flow e ao stretching. “Estamos a falar de exercícios que têm tudo a ver com a mente, que proporcionam o afastamento daquilo que é a rotina diária, de stress e estímulos”.

Sobre as vantagens que este tipo de modalidades traz, Gabriel não hesita, de facto, a salientar que a saúde mental é fulcral para o equilíbrio do próprio corpo, e vice-versa. “Gosto sempre de recordar as pessoas que os atletas de alta competição começaram a fazer este tipo de exercícios de mobilidade pelo seu estado não só físico, mas também mental”.

O diretor técnico do ginásio do Porto aponta que a mobilidade é algo que se vai perdendo com o excesso de sedentarismo, e que a pandemia só veio fazer aumentar o número de pessoas que acabaram por se acomodar às quatro paredes e deixaram o exercício de lado. A mobilidade, explica, “é um fator intrínseco ao corpo humano”, contrariamente à flexibilidade que depende de fatores externos, neste caso as aulas que a potenciam.

O clube no Porto tem algumas aulas dadas ao ar livre ©Breathe/Instagram

“As pessoas não podem achar que isto são exercícios leves, não são. Não têm a mesma efusividade que uma aula de grupo cardio ou de força? Não, não têm, mas trabalham outros aspetos”, afirma. “Qualquer pessoa pode vir e melhorar a sua qualidade de vida através deste tipo de exercícios. Tenho um senhor de 84 anos a fazer as aulas, por exemplo, não há limites”.

Gabriel refere ainda que as pessoas acabam por ficam mais confiantes na sua estrutura muscular, sobretudo em tarefas do dia a dia, e que acaba por fortalecer também a estrutura óssea.

“Estamos a trabalhar tudo o que diz respeito a melhorias da condição física global com ganhos de mobilidade, vamos ganhar força, estabilidade e equilíbrio das articulações e, por isso, a nossa vida diária melhora, temos mais performance”, diz.

Na aula de Stretching do Breathe, quer-se que os alunos aumentem a mobilidade articular, proporcionando maior agilidade e prevenindo lesões musculares. Já na de mobilidade flow as aulas são mais descontraídas com exercícios simples e dinâmicos feitos em sua grande maioria de pé, surgindo aqui quase uma componente meditativa, que ativa e contribui para uma melhor postura.

No Breathe, existem três mensalidades de membro disponíveis, dando as três possibilidade a frequentar qualquer aula de grupo do ginásio, onde estão incluídas estas em particular (a partir de 42,50 euros). Cada inscrito tem contacto presencial com um instrutor que define à partida e enquanto o estado físico da pessoa e indica quais as melhores procedimentos a seguir. “Tirando doentes patológicos, não existe nenhum tipo de restrição objetiva à mobilidade articular. Mas claro que a mobilidade de um não é a mobilidade de outro. O princípio da individualidade está presente em todos os movimentos”, aponta. “O que é real para uma pessoa não será para outra, tirando a capacidade de cada um de se mexer”.

A vida virada ao contrário num “super-alongamento”

Rui Oliveira Costa, diretor técnico e proprietário da escola Jaya Aerial Lab, não deixa margem para dúvidas. “Há uma modalidade na nossa escola que é um super-alongamento, é inacreditável as potencialidades terapêuticas que o yoga suspenso tem”, garante, sendo ele também o fundador da prática da modalidade em Portugal por volta de 2012.  “Quando a pessoa fica suspensa no tecido cria mais amplitude articular e permite que o corpo inverta a lei da gravidade e ficando de cabeça para baixo e em vez de ter os músculos comprimidos o corpo vai alongar na totalidade e naturalmente”, afirma.

O yoga suspenso permite que o corpo alongue completamente ©Jaya Aerial Lab

Tiago Xavier

O instrutor explica que o corpo tem os músculos que envolvem a coluna quase sempre sob tensão e isso “compromete a flexibilidade das costas e região lombar”. Na Jayal Aerial Lab há ainda uma aula de yoga suspenso focado na flexibilidade, com outro tipo de técnicas. E flexibilidade é coisa que se trabalha também nesta escola numa aula com o mesmo nome, lecionadas por uma professora de dança “habituada a potenciar a mobilidade do corpo humano”. Nesta aula Flexibility o aluno aprende técnicas de treino de flexibilidade de forma adequada e segura, para que possam melhorar a sua amplitude articular prevenindo as tais possíveis lesões.

“As pessoas que praticam regularmente este tipo de exercícios têm uma série de vantagens que podem aplicar no quotidiano, porque se tornam pessoas muito mais ativas, com melhor postura, uma vez que os músculos deixam de estar atrofiados, sobretudo ao nível do tronco e na região lombar”, diz Rui.

A escola fica em Lisboa e as aulas podem ser frequentadas avulso (20 euros) ou através de mensalidades com direito a uma aula semanal (50 euros), duas vezes (70 euros) ou packs de cinco ou dez aulas (80-120 euros).

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