Enviado especial do Observador, em Tóquio

“Não acredito que exista um obstáculo e um número do azar mas foi o único obstáculo que não montei na perfeição, foi por isso que ele caiu. Não é por ser o número 13, foi porque faltou um pouco de precisão”.

O lutador de sumo não foi problema mas aquele obstáculo 13 com flores de cerejeira deu azar: Luciana Diniz acaba final no décimo lugar

Luciana Diniz, de 50 anos, não alinhou nas questões da sorte e do azar mas foi o 13 que impediu que fizesse, pelo menos, a melhor prestação de sempre em Jogos Olímpicos, após o 25.º lugar em Atenas-2004 pelo Brasil, do 17.º posto em Londres-2012 já por Portugal e da nona posição no Rio de Janeiro-2016. Pelo menos, na pior das hipóteses, ficaria com um top 6 certo, tendo em conta que foram seis os cavaleiros que discutiram de seguida a vitória na final de obstáculos no equestre que viria a ser ganha por Ben Maher com Explosion W, a ganhar no jump-off a Peder Fredricson com All In e a Michael van der Vleuten com Beauville Z.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“Ali tinha uma opção de cinco galões ou seis e como o tempo estava apertado e como na linha da prova todos acabaram por fazer seis e cinco no final, fui por essa opção porque era boa para o meu cavalo, que estava a saltar tão bem. No número 12 ele saltou muito alto e um pouco devagar, os cinco lances ficaram um pouco avançados e tive de avançar um pouco mais. É o que ele não gosta, teve de ser mas cometi uma falha, que foi minha. O erro foi da cavaleira, o cavalo estava perfeito. É isso que me motiva ainda mais”, explicou sobre o toque que acabou por colocar a dupla no décimo lugar, sem hipóteses que discutir as medalhas.

“Acho que o mais importante é vir para uns Jogos a acreditar que é possível, a acreditar que existe uma chance. Vim aqui para isso. Hoje é o dia da sorte, em que temos de fazer tudo perfeito. Dei o meu melhor, estou satisfeita. Tenho um cavalo maravilhoso. Estava a voar, o meu cavalo estava a fazer tudo perfeito e foi quase uma surpresa porque ali saiu um pouco da conexão. Devia ter reagido, fazer um galão a mais… Vertigo em Paris? Não sei, temos de ver… Ele tem 12 anos, em Paris terá 15 e em termos de idade pode fazer tudo mas nunca se sabe. Depende… A minha primeira participação numa prova por Portugal foi em 2006, o meu cavalo tinha 18 anos e fui à final. É como nós, depende de tudo, do cavalo, do carácter”, destacou.

O meu cavalo não olha a nada, é um cavalo muito sério, que está sempre focado, é incrível na verdade. Se esta é a camisa da sorte? Não, esta é a do Rio mas o culotte é que é o da sorte… Tenho o Vertigo desde 2019, ele não chegou nem como cavalo olímpico nem de reserva mas ela teve uma lesão e foi ele, um cavalo jovem, que nunca tinha saltado pistas grandes, a ter de se habituar e saltar para os Jogos. Foi um grande salto, excelente. Trabalhámos muito para conseguirmos esta qualificação e hoje em dia é um dos melhores cavalos do mundo.”

Luciana Diniz falou também do orgulho que tem em representar Portugal, de onde era o seu avô, e deixou reparos a algumas das mudanças feitas nas regras, seja na qualificação, seja no concurso da final.

“O meu coração sempre foi brasileiro e português. O meu avô, que está a ver lá em cima, é português e sempre foi um motivo de orgulho para ele ir aos Jogos por Portugal. Até estou arrepiada de dizer isto… Tenho a certeza que inspiro pessoas, em Portugal, no Brasil ou no mundo, porque eu amo o que eu faço. Tudo o que façam, façam com paixão, com determinação. O mais importante é nunca desistir dos nossos sonhos porque a felicidade vem no caminho dos nossos sonhos e isso é o relevante, o processo. Se o cavalo sente que errou? Ele sabe que fizemos alguma coisa não tão bem feita, sente porque toca no obstáculo e também percebe pela nossa expressão corporal. Somos nós que damos o comando, que passamos emoção ao cavalo”, contou.

“Para o individual, fica mais fácil. O que não acho bom é a final ser desempate. A final tem de ser no mínimo a passagem com dois rounds, com os dez melhores, 25% a passarem. Os Jogos têm de ser mais difíceis que o concurso normal e isso falhou na nova regra. Espero que mudem, isso e a qualificação. São muito distintas de país para país, tive de me matar em 2019 para me classificar, outros países fazem um concurso num dia e classificam. Podemos melhorar muita coisa neste desporto apaixonante. Equipa de Portugal? Falta construir os cavaleiros e manter os bons cavalos, como o do O’Connor que é português”, concluiu.