“Larguem-me! Larguem-me”! Com lágrimas na cara, era o que gritava Elisabeth Saraiva, mais conhecida por ‘Burlona do Amor’, quando foi detida, numa casa em Vilamoura, por agentes da Polícia Judiciária (PJ), naquele que foi o ponto final de uma operação policial que durou mais de sete horas e que envolveu o uso de força física por parte das autoridades.

Fugindo das autoridades há mais de um ano e condenada a dez anos de prisão, a ‘Burlona do Amor’ “fechava-se em casa” para não ser apanhada, contou fonte da PJ ao Observador. Só foi possível deter a mulher de 52 anos, quando o homem e proprietário com  que habitava permitiu que a polícia conseguisse entrar dentro da casa, após “várias negociações”.

Para ter deter a mulher, a PJ teve de desencadear uma intervenção policial “complexa e que deu muito trabalho”, reconhece a mesma fonte, que acrescenta que Elisabeth Saraiva “quando detetou que estariam agentes à entrada da casa da casa, não saía”. “Houve resistência e a detida não colaborou”, daí as autoridades terem sido obrigadas a utilizar “força física” para a colocar dentro do carro da PJ. A operação também foi “longa”: começou na quinta-feira à tarde e acabou apenas esta sexta-feira de madrugada.

Até esta sexta-feira, a Elizabeth conseguiu sempre arranjar maneira de fugir da polícia e até chegou a ir para Espanha — havendo mesmo a necessidade de ser emitido um mandato de detenção europeu pelas autoridades portuguesas. Além disso, conseguiu fintar a Justiça com vários recursos. Condenada originalmente a doze anos de prisão em 2016 pelo Tribunal de Setúbal, a mulher conseguiu em 2020 reduzir a pena para dez anos após deliberação do Supremo Tribunal de Justiça.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Acusada de burla qualificada, de falsificação de documentos e furto, Elisabeth Saraiva conseguiu burlar pelo menos nove vítimas, entre os quais bancários, empresários e até um agente da Polícia Marítima entre 2000 e 2011.

Fazendo passar-se por uma mulher de negócios que iria receberia uma quantia milionária na sequência de investimentos na África do Sul, a ‘Burlona do Amor’ pedia dinheiro emprestado às vítimas para supostos negócios na construção civil, mantendo ao mesmo tempo relações amorosas com alguns deles. Para manter a fraude credível, a mulher chegava a representar o papel de proprietária de terrenos (maioritariamente na zona de Setúbal), alegando que lhes pertenciam e que estavam abaixo do preço do mercado.

Segundo o DN, os homens com os quais se envolveu descreviam-na como uma mulher sedutora, eloquente e convincente — e também demonstrava ter conhecimentos do panorama empresarial da África do Sul, país no qual nasceu, o que ainda concedia mais credibilidade à fraude. Além disso, até envolvia o pai octogenário nas burlas — que subscrevia as fraudes da filha — e que acabou condenado a três anos de prisão.

Um empresário da construção civil de Palmela foi uma das vítimas do complô familiar e chegou a manter uma relação de um ano com Elisabeth Saraiva. Após se terem conhecido num concerto dos AC/DC em 2009, a mulher convenceu a vítima a emprestar-lhe 140 mil euros para a alegada construção de uma urbanização na Quinta do Mocho, em Palmela. A ‘Burlona do Amor’ alegava que iria receber 21 milhões de euros de negócios da África do Sul, versão que era confirmada pelo pai.

Só quando Elisabeth Saraiva mudou de casa e de lhe deixou de atender o telemóvel, o empresário entendeu que tinha sido burlado e apresentou queixa às autoridades. Era este o seu modus operandi: fugia e desaparecia quando tinha o dinheiro na mão. A técnica também foi usada com algum sucesso com a polícia — mas apenas até esta sexta-feira.