Construído em 1903, inaugurado em 1905, renovado em 1996 e 2015. Com quase 120 anos de história, Windsor Park teve de esperar por esta quarta-feira, um dia de agosto de 2021, para viver o ponto alto da sua trajetória. Em Belfast, na Irlanda do Norte, o estádio do Linfield recebia a Supertaça Europeia, o jogo mais importante alguma vez ali realizado — a única rivalidade, na verdade, eram as eliminatórias das qualificações internacionais da seleção norte-irlandesa e uma partida entre a Irlanda e Samoa no Mundial de râguebi de 2000.

Em Windsor Park, perante 13 mil adeptos que tiveram todos de testar negativo à Covid-19 antes de entrar no recinto, Chelsea e Villarreal disputavam o primeiro troféu europeu da época. Os ingleses, vencedores da Liga dos Campeões, defrontavam os espanhóis, vencedores da Liga Europa — e ambos, pelo menos até agora, mantiveram quase intactas as duas equipas que conquistaram os respetivos títulos.

Ficha de jogo

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Chelsea-Villarreal, 1-1 (6-5 após grandes penalidades)

Supertaça Europeia

Windsor Park, em Belfast (Irlanda do Norte)

Árbitro: Sergei Karasev (Rússia)

Chelsea: Mendy (Kepa, 119′), Zouma (Christensen, 65′), Chalobah, Rudiger, Callum Hudson-Odoi (Azpilicueta, 82′), Kanté (Jorginho, 65′), Kovacic, Marcos Alonso, Ziyech (Pulisic, 43′), Kai Havertz, Timo Werner (Mason Mount, 65′)

Suplentes não utilizados: Thiago Silva, Tammy Abraham, Loftus-Cheek, Ben Chilwell, Reece James, Emerson

Treinador: Thomas Tuchel

Villarreal: Sergio Asenjo, Juan Foyth, Raúl Albiol, Pau Torres, Alfonso Pedraza (Estupiñan, 58′), Yeremi Pino (Aïssa Mandi, 90′), Capoue (Mario Gaspar, 70′), Manu Trigueros (Moi Gómez, 70′), Alberto Moreno (Manu Morlanes, 85′), Gerard Moreno, Boulaye Dia (Dani Raba, 85′)

Suplentes não utilizados: Gerónimo Rulli, Paco Alcácer, Iborra, Jorge Cuenca, Rubén Peña, Fer Niño

Treinador: Unai Emery

Golos: Ziyech (27′), Gerard Moreno (73′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Rudiger (44′), a Yeremi Pino (61′), a Dani Raba (119′)

Do lado do Chelsea, para além de Thomas Tuchel se manter no comando técnico e dentro do habitual lote de convocados, só Giroud, Tomori e Billy Gilmour é que saíram — o avançado francês e o central inglês assinaram ambos pelo AC Milan e o jovem médio foi emprestado ao Norwich. Quanto a entradas e depois do poderoso investimento de mais de 200 milhões de euros na época passada, os blues ainda só contrataram os discretos Jayden Wareham e Marcus Bettinelli, um avançado e um guarda-redes que chegaram do Woking e do Fulham e ambos a custo zero. Até ao fim do mercado de transferências, porém, é praticamente certo que o Chelsea vai garantir o regresso de Lukaku, até porque o avançado belga aterrou precisamente esta quinta-feira em Londres para acertar os últimos detalhes, e ceder Tammy Abraham, que é pretendido pela Roma de José Mourinho.

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Do lado do Villarreal, e com Unai Emery a manter-se também enquanto treinador, as mudanças foram também muito reduzidas. O clube espanhol garantiu a contratação definitiva de Juan Foyth, central argentino que pertencia ao Tottenham e que já tinha estado emprestado na época passada, e ainda integrou Aïssa Mandi, defesa argelino que chegou do Betis a custo zero, e Boulaye Dia, avançado que esteve em bom plano no Stade Reims em 2020/21. À parte isso, o Villarreal limitou-se a colocar jogadores que regressaram de empréstimo — incluindo Mario González, que tinha estado cedido ao Tondela e foi transferido a título definitivo para o Sp. Braga — e a segurar os principais ativos, como Gerard Moreno, Paco Alcácer ou Dani Parejo.

Ora, esta quinta-feira, o Chelsea procurava começar da melhor maneira uma temporada em que pretende ser um candidato claro à conquista da Premier League e manter-se naturalmente competitivo na Liga dos Campeões. Já o Villarreal vai querer melhorar o modesto sétimo lugar no Campeonato, lutar pelos troféus internos e chegar o mais longe possível na liga milionária. Para ambos os lados, o pontapé de saída, assim como o primeiro termómetro ao momento dos dois conjuntos, acontecia com a Supertaça Europeia e em Windsor Park.

Nos ingleses, Tuchel deixava Mason Mount, Pulisic, Jorginho e Thiago Silva no banco e proporcionava a estreia do jovem Chalobah no trio defensivo, em conjunto com Rudiger e Zouma. Nos espanhóis, Emery lançava o reforço Boulaye Dia no ataque e apostava em Yeremi Pino e Gerard Moreno, com Paco Alcácer, Iborra e Estupiñan a começarem na condição de suplentes e Dani Parejo a não integrar a convocatória. O Chelsea não precisou de muito tempo para assumir uma expectável superioridade que teve a primeira consequência prática com um remate de Werner ao segundo poste, depois de um canto na direita, que Asenjo intercetou (7′).

Os blues apresentaram-se totalmente confortáveis na condição de timoneiros da partida e empurraram o Villarreal para o próprio meio-campo, obrigando jogadores como Gerard Moreno a recuarem para apoiar a transição defensiva e esvaziarem totalmente o eventual poderio ofensivo. A equipa de Thomas Tuchel movimentava-se principalmente através de passes longos de variação de flanco que fustigavam o adversário e encontrava espaços livres e trabalhava muito bem os cruzamentos tensos para a grande área, praticamente a partir da linha de fundo, depois de um dos alas ser lançado na profundidade. Com especial proeminência no corredor esquerdo, onde Marcos Alonso ia realizando uma exibição muito positiva, o Chelsea nem sequer precisava de acelerar muito para desmontar uma defesa espanhola que tinha dificuldades para acompanhar as desmarcações inglesas.

Ainda assim, o Villarreal foi conseguindo adiar o primeiro golo e até beneficiou de um período, sensivelmente dos 10 aos 20 minutos, em que afastou os blues da própria grande área e conseguiu respirar um pouco mais. No fim dessa fase, e com Kanté a assumir sempre o papel fulcral de pêndulo da equipa, Ziyech tornou-se um verdadeiro protagonista e deu cor ao marcador. O marroquino começou por tirar da cartola um cruzamento perfeito para o segundo poste, onde Chalobah atirou contra um adversário (24′), mas pouco depois desbloqueou mesmo o resultado: Alonso soltou Kavertz com um grande passe vertical, o alemão destacou-se na esquerda e cruzou atrasado para a grande área onde Ziyech, vindo da direita em velocidade, desviou de primeira para bater Asenjo (27′).

Depois do golo, de forma natural, a equipa de Unai Emery soltou-se e tentou chegar mais perto da baliza adversária — sempre através de transições rápidas ou bolas paradas, os únicos momentos em que o Chelsea era apanhado no meio de alguma desconcentração. Pino apareceu em boa posição para rematar mas atirou contra um defesa inglês (31′) e Dia, logo depois, aproveitou uma assistência perfeita de Foyth para surgir na cara de Mendy, com o guarda-redes francês a fazer a mancha e evitar o empate (33′). Os blues ainda poderiam ter aumentado a vantagem em duas ocasiões, com Alonso (35′) e Zouma (36′) a ficarem perto do golo numa fase em que o jogo estava algo partido e incaracterístico, e o Villarreal desperdiçou a melhor oportunidade que criou mesmo em cima do intervalo, com Alberto Moreno a atirar um pontapé fortíssimo contra a barra depois de um passe na direita (45+4′). Pelo meio, mesmo na ponta final da primeira parte, o Chelsea sofreu um duro revés: Ziyech, que tinha inaugurado o marcador e estava claramente a ser o melhor em campo, teve de ser substituído por Pulisic depois de um lance em que ficou a queixar-se no ombro direito, tendo mesmo acabado por usar o “apito verde” para receber um analgésico e suportar as dores.

A segunda parte começou sem alterações e com uma oportunidade para o Chelsea, já que Kai Havertz ficou muito perto de aumentar a vantagem com um remate na esquerda que acertou na malha lateral (48′). Ainda assim, os ingleses regressaram do balneário algo desconcentrados e sem o mesmo acerto, entre passes errados e disputas de bola muito displicentes. A prova disso mesmo foi o erro de Mendy, que escorregou na marcação de um pontapé de baliza e entregou a bola diretamente a um adversário; na sequência do lance, Gerard Moreno acabou por acertar no poste e desperdiçou outra enorme oportunidade para o Villarreal (52′).

Ciente de que o Chelsea havia tirado o pé do acelerador e estava a permitir mais investidas e a deixar mais espaços desprotegidos, Unai Emery tentou reforçar a transição ofensiva espanhola e trocou Alfonso Pedraza por Estupiñan ainda antes da hora de jogo. Thomas Tuchel respondeu com uma tripla alteração e tirou Zouma, Kanté e Werner para lançar Christensen, Jorginho e Mount — claramente com o objetivo de fortalecer o setor defensivo, recuperar o equilíbrio no meio-campo e procurar o segundo golo que deixaria a partida praticamente decidida. Mas não foi suficiente.

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Já depois de Emery colocar Mario Gaspar e Moi Gómez, o primeiro alcançou uma recuperação de bola exímia na zona do meio-campo e apanhou o Chelsea desprevenido. Gerard Moreno recolheu perto da grande área e combinou com Dia, que devolveu de calcanhar, e atirou certeiro para dentro da baliza (73′). A pouco mais de um quarto de hora do final da partida, o Villarreal empatava a Supertaça Europeia com todo o mérito e depois de ter aproveitado uma desconexão total do Chelsea durante a segunda parte.

A partir do empate e já com Azpilicueta em campo, por troca com Hudson-Odoi, o Chelsea recuperou o controlo do jogo e procurou ainda resolver a Supertaça Europeia dentro dos 90 minutos regulamentares. O Villarreal aguentou o empate, voltou a recuar no terreno, viu vários jogadores sofrerem com problemas físicos e foi para o prolongamento já com Manu Morlanes e Dani Raba em campo, sendo que Aïssa Mandi entrou no arranque do tempo adicional.

Na meia-hora extra, Pulisic e Mount foram quem ficou mais perto do golo, com um remate ao lado e outro para defesa de Asenjo (100′ e 108′), mas o resultado acabou por não ser desbloqueado, prolongando a Supertaça Europeia até à decisão por grandes penalidades — com Tuchel a lançar Kepa para o lugar de Mendy nos instantes finais já a pensar precisamente nos penáltis.

Aí e depois dos falhanços de Kai Havertz e Aïssa Mandi, foi preciso chegar à segunda série de grandes penalidades. Kepa, a grande aposta de Thomas Tuchel, defendeu o remate de Raúl Albiol e deu a Supertaça Europeia ao Chelsea, justificando por completo a alteração que o treinador alemão decidiu fazer no último minuto do prolongamento. Era um segredo que só Tuchel conhecia — no fim, valeu um troféu aos ingleses e pode muito bem ter sido um primeiro passo na recuperação da confiança do guarda-redes espanhol.