“Foi a decisão certa”, disse Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos da América, numa declaração esta segunda-feira ao país, a primeira após os talibãs voltarem a ter controlo do Afeganistão. “Sou o quarto presidente americano a presidir uma guerra no Afeganistão, não vou continuar e passar esta responsabilidade”, referiu, dizendo que acabou com “a guerra mais longa da América”.
Num discurso que começou com 15 minutos de atraso e não teve espaço para perguntas no final, Biden apontou ainda o dedo aos afegãos que não conseguiram “defender o seu futuro”. “Quantas gerações mais de filhas e filhos da América gostariam que mandasse para lutar na guerra civil do Afeganistão, quando as tropas afegãs não o farão?”, afirmou.
[Veja, no vídeo abaixo, a declaração de Joe Biden na íntegra]
“O que está a acontecer podia ter acontecido há cinco anos ou 15 anos no futuro”, apontou também o chefe de estado, recordando que o país é conhecido como “o cemitério dos impérios”. “A escolha que tive de fazer como seu Presidente foi seguir o acordo para retirar nossas forças”, defendeu-se, adiantando que a outra hipótese seria: “A escalada do conflito e o envio de milhares de soldados americanos de volta ao combate e avançando para a terceira década de conflito”.
Nunca foi um bom momento para a retirada”, disse Biden.
Apesar de defender a retirada das tropas americanas, o líder dos EUA voltou a assumir que o executivo foi apanhado de surpresa com o que está a acontecer no Afeganistão. “A verdade é que isto aconteceu mais rapidamente do que antecipámos”, afirmou. No entanto, justificou-se: “O que é que aconteceu? Os líderes afegãos abandonaram o país”, disse, dizendo que o governo “não acabou com a corrupção” e adiantado que “o exército também” abandonou, “às vezes sem combater”, os afegãos.
“A nossa missão no Afeganistão nunca era para ser a construção de uma nação”, continuou. “Defendi por muitos anos que a nossa missão no Afeganistão deveria ser contraterrorismo, não construir uma nação”, disse também Biden afirmando que o objetivo é o combater o terrorismo, algo que foi conseguido com a captura de Osama Bin-Laden.
Neste momento do discurso, Biden começou a apontar o dedo aos afegãos. “Gastámos mais de um bilião de dólares” num exército com que tem “mais força do que alguns dos nossos aliados da NATO”, referiu. “Demos-lhes todas as hipóteses para travarem o seu futuro”, continuou. Porém, apontou o dedo: “Não lhe pudemos dar a vontade de lutar por esse futuro”. “Os líderes políticos do Afeganistão não conseguiram lutar pelo futuro do seu povo”, acusou.
Não há prova de que mais um, cinco anos de tropas no terreno fossem dar resultados”, afirma Biden.
Biden justificou de forma clara a sua decisão “A Rússia e a China queriam que continuássemos a despender inúmeros recursos no Afeganistão”. Por isso, prometeu: “Não vou repetir os erros que fizemos no passado”. “No mínimo, os acontecimentos da semana passada reforçam que acabar com o envolvimento militar dos EUA no Afeganistão agora foi a decisão certa”, justificou. Biden disse ainda que tentou convencer os líderes afegãos em ações diplomáticas mas que os conselhos que deu foram “categoricamente recusados”.
Mesmo com justificações sobre a retirada, Biden não deixou de referir a operação que está a decorrer para proteger os norte-americanos e alguns afegãos que ajudaram os EUA e que ainda estão no Afeganistão. “Foi por isso que pedi ao Congresso para enviar seis mil tropas”, defendeu-se. E deixou um aviso ao talibãs: “Se atacarem os nossos funcionários [“personnel“], a resposta vai ser rápida e poderosa”. “Força devastadora, se necessário”, adiantou.