Lá por parte do país ter andado a banhos no verão, a edição de discos novos pelo mundo não parou. Se tradicionalmente os meses de julho e agosto costumam ser menos generosos na oferta de música nova (em parte, também devido às digressões e aos festivais da época), este ano o cenário parece diferente e há muita música nova para descobrir.
Como tem vindo a fazer desde o começo do ano — fizemo-lo para os meses de janeiro, fevereiro, março, abril, maio e junho —, o Observador selecionou os discos que mais nos captaram a atenção nos últimos tempos, agregando numa só playlist uma canção de cada álbum.
Na playlist referente à música nova que este verão trouxe, mais especificamente que os meses de julho e agosto trouxeram, é possível encontrar canções de discos muito distintos entre si.
Estes dois meses trouxeram-nos, por exemplo, edições póstumas com música nunca revelada de duas lendas da história da música: Prince (Welcome 2 America, coleção de esboços de canções gravados por Sua Alteza Púrpura — álbum ainda assim não tão interessante quanto Piano and a Microphone 1983, de 2018) e o antigo membro dos The Beatles George Harrison, relativamente ao qual foram editadas novas demos (das sessões de estúdio) e novas versões (com uma mistura de som distinta) das canções do seu disco mais elogiado, All Things Must Pass.
No universo do indie-rock, o álbum Mirror II, dos australianos The Goon Sax, será o disco merecedor de mais destaque, mas o verão trouxe também consigo The Apple Drop, disco dos Liars, Harmonizer, álbum editado sem aviso prévio por Ty Segall e Shiny’s Democracy, edição a solo do músico australiano Shiny Joe Ryan, que integra a banda de rock psicadélico Pond.
Também há música para dançar, mais pop e sintonizada com a leveza da estação — como a que se ouve nos discos Loving In Stereo, dos Jungle, e Private Space, dos Durand Jones & The Indications — e mais densa, notória em Spiral, álbum dos Darkside, e still slipping vol. 1, de Joy Orbison.
No espectro do cancioneiro mais clássico, destacamos Drama, disco de Rodrigo Amarante, Due North, álbum de estreia da revelação do indie Liam Kazar, e Happier Than Ever, álbum da jovem estrela da pop Billie Eilish.
No hip-hop, ouviram-se as novas batidas e rimas de Sam the Kid & Valete (Um Café e a Conta, recriação e manipulação inventiva de Sam the Kid das diferentes peças que compõem os puzzles de canções de Valete), Vince Staples (disco homónimo), Pink Siifu (no álbum GUMBO’!), Nas (King’s Disease II), Dave (We’re Alone In This Together), Ace & DJ Guze (Rua da Frente) e Benny The Butcher (no EP Pyrex Picasso).
A playlist inclui ainda música nova mais jazzística, de discos como Entre Paredes, imaginativa homenagem a Carlos Paredes feita pelo Sexteto Bernardo Moreira, a Yellow de Emma-Jean Thackray, passando ainda por Painters Winter do veterano William Parker. A música instrumental não se esgota porém no jazz, merecendo destaques os álbuns mais contemplativos, entre a música ambiental e new age, de Devendra Banhart com Noah Georgeson (Refuge) e Rachika Nayar (fragments).