Uma nova variante do SARS-CoV-2 foi detetada na África do Sul e em sete outros países, incluindo Portugal, segundo um novo estudo. A investigação concluiu que a nova estirpe — a C.1.2 — descendeu da C.1, “uma das linhagens que dominou a primeira onda” das infeções na África do Sul. Ao Observador, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) confirma que foi detetado um caso no início de julho, na Madeira. Mas nega que haja evidência de que a variante é mais infeciosa e/ou resistente às vacinas.

Segundo o estudo do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis da África do Sul e da Plataforma de Inovação em Investigação e Sequenciamento de KwaZulu-Natal (província sul-africana), citado pelo The Jerulasem Post, a nova estirpe tem uma taxa de mutação de cerca de 41,8 mutações por ano, quase o dobro da taxa global corrente das outras variantes. A investigação ainda aguarda revisão pelos pares, mas os cientistas associam a C.1.2 a uma maior transmissibilidade e resistência face às vacinas.

Em maio, a nova variante representava 0,2% de todos os genomas sequenciados na África do Sul, um valor que subiu para 1,6% em junho e 2% em julho — uma evolução semelhante à verificada nas variantes Beta e Delta nas suas fases iniciais. Publicada a 24 de agosto, a investigação explica que os cientistas detetaram pela primeira vez a C.1.2 na África do Sul, em maio de 2021, sendo que em junho já tinha chegado a Inglaterra e à China. E a 13 de agosto já tinha sido identificada na República Democrática do Congo, Maurícia, Nova Zelândia, Suíça e até Portugal.

Contactado pelo Observador, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge confirma a identificação desta variante em Portugal, sendo que apenas foi detetado um caso, já no início do mês de julho, na Madeira. Desde aí, não se verificou confirmação laboratorial de qualquer caso da variante “nas mais de 3 mil amostras entretanto analisadas”. Desta forma, não se conhecem cadeias de transmissão associadas a esta variante, “nem é de esperar que venha a existir uma evolução de crescimento da sua frequência“, esclarece o INSA.

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O INSA contraria, por sua vez, algumas das conclusões do estudo, negando existir “qualquer evidência” que permita aferir que a C.1.2 seja potencialmente mais infeciosa comparativamente às outras variantes do SARS-CoV-2. “Pelo contrário”, afirma o organismo, tendo em conta que, até ao momento, “apenas foram identificados cerca de 100 casos” em todo o mundo. O Instituto acrescenta igualmente que não há estudos que provem que “ofereça maior resistência às vacinas”, nem que origine casos de doença mais grave.

Segundo o estudo sul-africano, a nova variante “sofreu uma mutação substancial” em comparação com a C.1, distanciando-se cada vez mais do vírus original, identificado em Wuhan. Esta nova variante é mesmo, de todas as já identificadas, a que contém as mutações mais distantes do vírus detetado na China.

Vacina não chega para travar surgimento de novas variantes e até pode provocar linhagens mais fortes