Uma análise académica redigida pelo grupo de aconselhamento científico do Governo britânico diz que “é quase certo” que surja uma nova variante do SARS-CoV-2 que “conduza a uma falha das vacinas atuais”. Os cientistas notam que, como a erradicação deste vírus é “improvável”, os cientistas têm uma “alta confiança” em como vai haver “uma acumulação gradual ou pontual de variação antigénica que eventualmente leva à falha da vacina atual”.

O comité apela às farmacêuticas que continuem a trabalhar em novas vacinas que, não só evitem o desenvolvimento de quadros clínicos graves, como também “induzam níveis altos e duradouros de imunidade da mucosa” respiratória. Isso permitiria “reduzir a infeção e a transmissão a partir de indivíduos vacinados”, assim como “diminuir a possibilidade de seleção de variantes em indivíduos vacinados”.

Esta análise é uma pré-publicação que ainda não foi revista pelos pares, servindo para prestar dados céleres aos decisores políticos. Mas reitera o alerta que surge num estudo publicado na Nature Scientific Reports, onde se pode ler que “uma taxa rápida de vacinação diminui a probabilidade de surgimento de uma variante resistente”. No entanto, “quando um relaxamento das intervenções não-farmacológicas acontecia num momento em que a maioria dos indivíduos da população já havia sido vacinada, a probabilidade de surgimento de uma variante resistente aumentava muito“.

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A vacinação contra a Covid-19 não só é insuficiente para travar o surgimento de novas variantes do SARS-CoV-2, como pode motivar o aparecimento de linhagens mais capazes de escapar à proteção induzida por elas. É que o vírus vai continuar a sofrer mutações porque é essa a sua natureza, mas só as novas variantes que tiverem vantagem sobre as que já estão em circulação — nomeadamente a capacidade de evadir o sistema imunitário com mais eficiência, por exemplo — é que vingarão e se tornarão dominantes.

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Simon Rella é investigador do Instituto de Ciência e Tecnologia em Áustria e, em declarações aos jornalistas noticiadas pela CNN, reitera que, “quando a maioria das pessoas está vacinada, a variante resistente à vacina tem uma vantagem sobre a variante original“, o que a torna mais capaz de se espalhar pela população mais rapidamente quando a maioria das pessoas já foi inoculada. “Geralmente, quanto mais pessoas estiverem infetadas, maior a possibilidade de surgimento de resistência à vacina”, acrescenta Fyodor Kondrashov, outro investigador envolvido nas descobertas.

Os resultados deste estudo basearam-se nas previsões prestadas por um modelo matemático de medição de probabilidades e vão ao encontro de um conceito científico chamado “pressão seletiva”. De acordo com esta ferramenta, determinadas condicionantes do meio podem favorecer o aparecimento (ou o desaparecimento) de características genéticas que tornam os seres vivos — e também os vírus — mais propícios a sobreviver, uma vez que os tornam mais aptos para isso.