Duas das três listas concorrentes às eleições da Mutualista Montepio, além da incumbente, recusam totalmente a possibilidade de virem a ser apoiados pelo ex-líder do Montepio António Tomás Correia, que há poucos dias revelou que não apoia a lista institucional liderada pelo seu ex-colega de conselho de administração Virgílio Lima. Porém, questionada pelo Observador acerca desta matéria, exatamente nos mesmos termos que as outras listas concorrentes, a auto-intitulada “Lista de Quadros” (do grupo) não fez quaisquer comentários sobre se veria com bons olhos um apoio público de Tomás Correia. É a lista (agora) liderada por Pedro Alves, banqueiro que Tomás Correia escolheu para liderar o Banco Montepio, antes de sair – e com quem trabalhou no passado, numa época que levou o Banco de Portugal a investigar operações do Montepio.

Tomás Correia afirmou no final da semana passada, em declarações ao Jornal Económico, que “com base no acompanhamento que [faz] da vida da associação através da informação pública e das notícias da imprensa, [lamenta] não ter condições para dar o apoio à candidatura institucional”, ou seja, aquela que emerge do conselho de administração que se manteve em funções apesar da saída de Tomás Correia, no final de 2019.

O banqueiro, que desde que saiu do Montepio não mais apareceu a comentar ou a interferir publicamente nos destinos da associação, acrescentou: “Relativamente às outras candidaturas, não tenho informação suficiente que me permita vir a definir qualquer tipo de apoio”, afirmou o ex-presidente da Mutualista.

O Observador foi, então, perguntar às outras candidaturas se estariam disponíveis para municiar Tomás Correia com mais “informação” sobre os seus projetos, de modo a ajudar o ex-líder a decidir se poderá emprestar publicamente o seu apoio a uma das listas.

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“Não! Não temos nada em comum com Tomás Correia”, afirmou Pedro Corte Real, líder de uma das listas concorrentes, uma lista ainda sem “letra” (como nenhuma, ainda, tem) mas que se autodenomina “Reconstruir o Montepio”. “O seu apoio não seria bem-vindo e, caso venha a manifestar o seu apoio público, estamos seguros que nunca seria à nossa lista“, acrescentou, em respostas enviadas por e-mail, o académico que conta no seu currículo, por exemplo, com a presidência do Instituto de Informática da Segurança Social e, também, foi diretor no INE (Instituto Nacional de Estatística).

Pedro Corte Real encabeça lista ao Montepio, que inclui ex-administrador financeiro Miguel Coelho

A gestão atual falhou em toda a linha, na missão social, financeira, estratégica e humana. Prejudicou gravemente a solidez financeira da AMMG ao celebrar negócios ruinosos. Para além dos danos financeiros quantificáveis em milhões, temos ainda os danos reputacionais de valor incalculável”, afirma a lista liderada por Pedro Corte Real.

Esta lista reúne alguns dos nomes que já foram a eleições contra Tomás Correia no passado e que nos últimos anos estiveram unidas no protesto contra a atual administração. Chegado o momento de novas eleições, porém, não conseguiram formar lista única e existe, portanto, uma outra lista opositora liderada pelo economista Eugénio Rosa e que inclui alguns nomes mais jovens como Ana Drago, ex-deputada do BE, e Tiago Mota Saraiva, militante do PCP.

Montepio. Eugénio Rosa e Ana Drago em lista alternativa para a mutualista

Também esta lista afirma que não veria com bons olhos um apoio de Tomás Correia. “Não faria qualquer sentido, tendo em conta que a nossa lista é aquela que tem sido a mais crítica da gestão de Tomás Correia e dos seus herdeiros, prejudicial ao longo dos vários mandatos para a perda de valor do Montepio e o enfraquecimento da Associação Mutualista, apesar do esforço continuado pedido aos nossos associados”.

O Observador fez as mesmas perguntas à auto-intitulada “Lista de Quadros“, que esta segunda-feira foi notícia por ter sido noticiada a saída, por iniciativa própria, do homem que surgia no topo da lista de nomes entregues para avaliação prévia do supervisor ASF.

Com a saída de João Vicente do Passo Ribeiro, ascendeu ao topo da lista Pedro Gouveia Alves, atual presidente da Montepio Crédito e que, depois de ter trabalhado de perto com Tomás Correia no passado, em 2019 foi escolhido por Correia (e por Carlos Tavares) para a presidência executiva do Banco Montepio – acabando por desistir após o Observador noticiar que estava sob investigação por parte do Banco de Portugal.

Pedro Alves passou para candidato a presidente da associação mutualista, sem que a ASF tenha até ao momento dado qualquer indicação sobre se o seu nome será ou não aceite.

A “Lista de Quadros”, porém, não respondeu às questões enviadas pelo Observador ao início da tarde de terça-feira, 14 de setembro.

A mesma lista também não respondeu às questões sobre se está a colaborar com o atual administrador Luís Almeida, que se incompatibilizou com a administração à qual (ainda) pertence. É o administrador, aprovado pela ASF para estar no lugar onde está, que o Observador descreveu em janeiro de 2020 como o operacional de Tomás Correia que liderou as operações suspeitas que, nessa altura, levaram a buscas ao Montepio.

Caso Montepio. As “reviengas” de Luís Almeida, o pivô de Tomás Correia em Angola (que os supervisores aprovaram)

Quanto às outras duas listas, as respostas são semelhantes. “A nossa lista não desenvolveu contactos nem tem qualquer colaboração com Luís Almeida”, diz Pedro Corte Real – e “não vislumbramos a possibilidade” de vir a integrar o banqueiro nalguns dos órgãos sociais, caso vençam as eleições. Ainda mais perentória, a lista de Eugénio Rosa afirma que esse nome “nunca foi considerado, nem o será”.

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