Dada a popularidade dos SUV e crossover, sendo estes últimos uma versão menos volumosa e mais civilizada dos primeiros, é fácil antecipar que o Model Y poderá, a prazo, vir a ultrapassar o há muito líder de vendas entre os eléctricos, o Model 3, tanto em Portugal, como em toda a Europa. Com a chegada ao nosso país, em Setembro, das primeiras unidades do “irmão” mais pequeno do Model X, impõe-se conhecer os seus trunfos, vantagens e desvantagens e tentar especificar o tipo de clientes a quem se destina. Além de tentar perceber se possui as características necessárias para ultrapassar no ranking das vendas o Model 3, com o qual partilha plataforma e mecânicas.

À semelhança do que aconteceu com o Model X, que foi concebido sobre a base do Model S, a Tesla repetiu a receita ao conceber o Model Y utilizando tudo o que desenvolveu para o Model 3. O novo crossover, que era esperado em Portugal – e nos restantes países europeus – vindo da Alemanha, acabou por vir da China, uma vez que a Gigafactory europeia localizada em Berlim aguarda aprovação do germânicos, esperando-se que entre finalmente em funcionamento antes de final do ano, provavelmente a 9 de Outubro.

Um crossover maior do que parece

Desafiados a conduzir uma das primeiras unidades do novo Model Y em Portugal, durante um breve período, aproximámo-nos do mais recente modelo da gama com alguma curiosidade, uma vez que através das fotografias parecia-nos difícil de distinguir do Model 3. Porém, ao vivo, o Y é visivelmente mais comprido (com 4,751 m, tem mais 5,7 cm que o 3), mais largo (7,2 cm, com 1,921 m) e substancialmente mais alto (1,624 m, ou seja, mais 18,1 cm). Isto além de possuir também mais 1,5 cm na distância entre eixos.

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O estatuto de crossover é conseguido pelo Model Y à custa de discretas protecções nos guarda-lamas e nas embaladeiras, além das zonas inferiores dos pára-choques anterior e posterior. A que se junta uma altura ao solo superior, pois com 16,7 cm, o crossover da Tesla posiciona-se entre os SUV BMW iX3 e Mercedes EQC, modelos que também reivindicam comprimentos similares ao modelo norte-americano.

Nada de frentes agressivas, como se o modelo estivesse em vias de participar no Dakar, uma vez que o Model Y visa apenas estar mais à vontade em pisos escorregadios, sejam eles neve ou lama, podendo lidar com alguns obstáculos, para o qual conta com o modo de condução Assistência Todo-o-Terreno, que optimiza a tracção, ou o Arranque com Patinagem, porque às vezes é necessário escavar um pouco mais em busca de aderência.

Por dentro há mais espaço e maior versatilidade

A bordo, é fácil constatar que o crossover da Tesla recorre ao mesmo tablier de linhas clean e ecrã central de 15” que já conhecíamos do Model 3. Mas é no interior que as diferenças entre a berlina e o crossover são maiores e mais evidentes, a começar pela facilidade com que se entra bordo, pois não só a plataforma está a uma altura superior, como o habitáculo é mais alto e as portas são mais generosas.

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Uma vez sentado, nuns bancos que, à frente, parecem ser similares ao da berlina, descobre-se que a posição é mais confortável, por ser mais alta e assegurar melhores ângulos de conforto. Em vez de colocar as calhas dos assentos praticamente sobre a plataforma, a Tesla montou uns espaçadores sob as calhas – que esteticamente não impressionam – para elevar a posição de condução (e do passageiro) e permitir que quem se senta atrás tenha mais espaço para enfiar os pés debaixo dos bancos da frente.

O assento posterior explora a maior largura do modelo, permitindo instalar três adultos e até, se for o caso, o mesmo número de cadeirinhas de bebé. A altura ao tejadilho permite acomodar indivíduos de qualquer estatura, com as costas do assento a serem reguláveis em duas posições, para quem gosta de dormitar nas viagens.

Lá atrás surge a outra vantagem do Model Y, que se prende igualmente com a maior versatilidade. A mala, já somando os 117 litros da frunk, é gigantesca, oferecendo 854 litros (o Model 3 fica-se pelos 425 litros) para acolher bagagens, valor que é conseguido, em parte, devido à ausência dos tradicionais tapa-bagagens. Em vez disso, a Tesla monta vidros escurecidos, que não o parecem ser para quem vai lá dentro, mas que impedem que se veja quem ocupa o assento posterior, ou o que está na mala, o que pode ser igualmente útil quando o construtor começar a oferecer na Europa a versão com sete lugares.

Ao volante, dentro e fora de estrada

A versão do Model Y colocada à nossa disposição era um Long Range, não com os packs de baterias com “novos” 82 kWh úteis de capacidade, mas com os originais 75 kWh, como ainda é utilizado na China, uma vez que as unidades disponíveis na Europa são todas provenientes da Gigafactory Xangai. Porém, em termos de qualidade de construção e acabamentos, o Y asiático não perde em nada para os Model 3 americanos.

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Este Model Y Long Range, à semelhança da berlina, monta dois motores (um por eixo) que totalizam 351 cv, o que lhe assegura uma velocidade máxima de 217 km/h e ir de 0-100 km/h em 5,0 segundos. Com a mesma mecânica, a berlina atinge 233 km/h e chega a 100 km/h em 4,4 segundos. O peso superior e, sobretudo, a aerodinâmica menos eficiente, devido à maior superfície frontal, explicam a menor rapidez e a velocidade máxima mais reduzida, mas isto apenas em relação ao Model 3. Comparado com os rivais directos eléctricos, o Y goza de clara vantagem, com o iX3 a anunciar 180 km/h e 0-100 em 6,8 segundos, enquanto o EQC esgrime como argumentos 180 km/h e 5,1 segundos de 0-100 km/h.

Em cidade, a suspensão do crossover pareceu-nos ligeiramente mais desconfortável do que a que equipa a berlina. Mas, mesmo assim, o Y não emitiu ruídos parasitas. Num ritmo normal, seguindo o trânsito, rodámos com um consumo médio de 13,8 kWh/100 km, o que pode ser considerado um valor baixo para um modelo com estas dimensões, para mais equipado com pneus 255/40 em jantes de 20”. Em auto-estrada, a 90 km/h, o consumo não subiu muito (14,2 kWh/100 km), continuando a atingir valores próximos dos da berlina, tendo revelado um certo incremento quando o regime subiu para os 120 km/h (19,8 kWh/100 km), provavelmente por a esta velocidade a aerodinâmica começa a ter um peso superior.

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Rápido e veloz, apesar de não se tratar da versão Performance – que só deverá estar disponível quando Berlim começar a operar –, o crossover sente-se à vontade em estradas sinuosas, embora tenha o centro de gravidade mais elevado em relação ao Model 3. Como seria de esperar, não resistimos a levar o Y por maus caminhos, que é como quem diz, por estradas de terra. A maior altura ao solo permite-lhe não bater por baixo, onde uma berlina convencional poderia raspar, com as quatro rodas motrizes a garantirem a desejável tracção. Para subir pequenos obstáculos, o que deverá estar longe da utilização típica a que os condutores vão submeter os seus Model Y, optámos por activar o assistente de todo-o-terreno, que gere a tracção de forma a que o Tesla consiga avançar, mesmo quando apenas duas rodas estão em contacto com o solo – e funciona.

Em resumo: versatilidade versus eficiência

Tentando responder à questão com que abrimos este ensaio, o Model Y promete tornar-se um rival sério do Model 3. É mais pesado e menos aerodinâmico, o que o torna menos veloz e ligeiramente menos rápido nas acelerações. Consome também um pouco mais, pois os veículos eléctricos são muito sensíveis à aerodinâmica e um Model 3, com esta mesma bateria de 75 kWh, percorria 580 km entre recargas (com a nova de 82 kWh vai até aos 614 km), enquanto o Model Y anuncia 507 km de autonomia.

Porém, em tudo o resto, o crossover está uns degraus acima da berlina e isto mesmo antes de surgir a versão de sete lugares. É maior, mais confortável para viajar e se oferece a mesma capacidade na mala frontal, é muito mais generoso na bagageira posterior. E para que os que têm de rebocar rulotes ou barcos, o Y lida sem problemas com 1600 kg, contra os 1000 kg da berlina.

Proposto em Portugal por 65.000€, o Model Y Long Range exige um investimento superior em 7010€, valor que para muitos deverá surgir como uma proposta interessante, seja dentro da gama da Tesla, seja até mesmo em relação à concorrência, uma vez que o BMW iX3 e o Mercedes EQC são propostos por 73.600€ e 73.550€, respectivamente. E nenhum dos SUV alemães oferece de série o mesmo nível de equipamento do Model Y, com destaque para o Piloto Automático, o sistema de ajudas à condução mais avançado do mercado.