Para Marcelo Rebelo de Sousa, a reunião desta quinta-feira com peritos e políticos no Infarmed “representou o fechar de uma página, mas não a conclusão de um processo“. E, por isso, entre as mensagens de esperança e elogios, o Presidente da República deixou o aviso: não está descartada a hipótese de voltarem a ser instauradas restrições para travar a pandemia de Covid-19, caso seja necessário.
Se houver circunstâncias que obriguem à imposição de restrições, as restrições serão impostas. Se de repente houver agravamentos que exigem em grau diverso a tomada de medidas, serão tomadas”, disse.
O chefe de Estado defendeu que há duas situações — transportes coletivos e instituições com população de risco — em que “as regras têm de ser desde logo mais fortes“ e dois momentos em que o apelo para que não haja facilitismos tem de estar presente: o arranque do ano letivo e período do Natal e Passagem de Ano.
“O processo continua. Continua a haver doentes internados. Continua a haver doentes em cuidados intensivos. Continua a haver mortes”, lembrou Marcelo, acrescentando: “Não há facilitismo, há um adaptar daquilo que são os comportamentos a uma nova fase”. “O que cada um fizer repercute-se na saúde dos outros. Não é possível separar a saúde individual da saúde pública”, vincou.
“Só foi possível ter este processo de vacinação porque foi havendo vacinas”
Antes, no interior da sala onde decorreu a reunião, Marcelo Rebelo de Sousa contou que, na reunião internacional com representantes de 14 países europeus onde esteve esta semana, “Portugal era de longe o que tinha a taxa de vacinação mais elevada”.
“Havia países importantes na Europa a conhecerem, neste momento, um aumento da incidência e que achavam que havia uma correlação entre isso e a vacinação.” Nesses casos, o processo “tinha arrancado bem, tinha parado”, tinha seguido de forma intermitente, e as taxas eram claramente inferiores à nossa. “E estou a falar em países economicamente dos mais avançados na Europa.”
Esses mesmos países, frisou Marcelo, “olhavam para Portugal como exemplo daquilo que tinha sido a viragem, fruto de medidas de proteção com campanha intensa de vacinação num curto espaço de tempo”.
A segunda observação do Presidente é que “só foi possível ter este processo de vacinação porque foi havendo vacinas”. Para que isso fosse possível, diz ter testemunhado o esforço que o Governo “teve de fazer para obter vacinas nos sítios mais variados da Europa e fora da Europa. Foi uma corrida contra o tempo que fez a diferença.”
Em terceiro lugar, Marcelo diz ter sido excecional a colaboração entre a administração civil e as forças armadas. “Tenho visto colocar a tónica nas Forças Armadas. Não era possível o papel das Forças Armadas sem o papel do Ministério da Saúde, como não era possível o papel do Ministério da Saúde sem as Forças Armadas.”
Em quarto lugar, “é evidente que o papel das Forças Armadas teve um protagonista particularmente importante no seu vice-almirante”, mas, sublinha Marcelo, foi importante a colaboração que se estabeleceu com a ministra da Saúde e com a diretora geral de Saúde. “Houve aqui uma equipa e houve aqui liderança. Sem liderança não era possível, sem equipa não era possível.”
Marcelo aplaude ainda a resposta dos portugueses que não eram obrigados a vacinar-se. “A resposta dos portugueses é uma das chaves do sucesso” da vacinação. “O povo português votou e uma forma de voto foi vacinar-se. E votou aqui com uma maioria que nenhuma eleição até agora deu a ninguém. E é bom que isso seja retido”, rematou.
“Não vou falar de negacionistas”. Ferro pede explicação para mortes em idosos vacinados
Também o Presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, falou no final da reunião. “Vou fazer uma intervenção muito breve. Não vou falar de negacionistas”, disse numa referência aos insultos de que foi alvo por parte de negacionistas da pandemia e da vacinação e que estão agora a ser investigados, deixando uma “homenagem” ao vice-almirante Gouveia e Melo e ao “papel tão importante e corajoso” que teve.
Ferro Rodrigues insultado por dezenas de manifestantes negacionistas
“O processo de vacinação é um extraordinário êxito”, diz Ferro, acrescentando: “Estamos muito bem, com uma evolução muito boa, mas estamos ainda com muitos idosos vacinados a falecer depois das duas vacinas. Para não alimentar esses negacionismos, era muito bom que houvesse uma resposta para isto”.