Explicou durante e depois dos Jogos Olímpicos o que levou a que desistisse de quase todas as finais para as quais se tinha apurado (a exceção foi o cavalo, onde ganhou a medalha de bronze não sendo uma das suas especialidades), prestou depoimento no Senado contando como o FBI permitiu durante meses a fio que os abusos do antigo médico da seleção Larry Nassar continuassem sem que fossem investigados, mostrou que há vida para além do desporto com a participação em alguns dos maiores eventos públicos nos EUA.

Simone Biles desiste da final do all-around: “A sua coragem mostra, mais uma vez, o porquê de ser um exemplo para tantos”

De forma quase paradoxal mas percetível, Simone Biles tornou-se ainda mais menina queria no desporto norte-americano pela coragem que teve em dar um passo atrás do que talvez quando dava todos aqueles passos em frente que terminavam com medalhas. Com menos de um metro e meio, representa quase uma panóplia de assuntos, ideais ou conquistas. Ela é aquela que tem mais medalhas em Mundiais de ginástica. Ela é aquela que apresenta graus de dificuldade em prova como mais ninguém. Ela é aquela que mostra as exigências às vezes sobre-humanas que o desporto de alta competição exige. Ela é aquela que simboliza o escândalo que fez abanar os pilares mais básicos da ginástica dos EUA. Ela é aquela que mostra o poder que uma imagem pode ter na sociedade. Este ano, foi apenas humana. E acabou reconhecida por isso.

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Simone Biles cedeu. Se foi o corpo ou a cabeça, ninguém sabe, mas cedeu. E os EUA perderam (e foram o pior no solo)

Simone Biles foi considerada quase de forma natural como uma das 100 pessoas mais influentes do ano pela revista norte-americana Time, explicando à publicação tudo o que viveu em Tóquio. “É muito difícil para as mulheres e para as raparigas mais novas colocarem limites mas quando começas a dizer ‘não’ e a pôr limites nas coisas mais pequenas, então as coisas maiores já são vistas de uma forma diferente. A experiência dos Jogos Olímpicos foi definitivamente mais do que um desafio. Competir sem público, sem a minha família, ter estado em quarentena por causa da Covid-19 e saber que era a líder das ‘Sobreviventes’ sendo uma das que ainda se mantém em competição…”, começou por contextualizar a ginasta.

A sustentável leveza de um ser que é feliz a fazer o que mais gosta: o dia em que Simone voltou (e em que a medalha foi o menos importante)

“Quando estou no tatami é como se me sentisse só. Felizmente sinto que fiz um grande trabalho, mas é demasiado, é muita carga. Pensar muito nas coisas pode ajudar mas também pode ferir-nos às vezes. Penso que a maior parte do tempo beneficia-me mas torna-se doloroso. E então começo a pensar demasiado sobre as minhas habilidades, sobre as rotinas, sobre a minha confiança e a da equipa. Nos Jogos estava fora do lugar, não conseguia sincronizar a mente com o corpo. Decidir que não ia competir depois da prova de salto foi difícil. Nunca tinha estado de fora num Mundial ou nuns Jogos Olímpicos. Foi estranho porque sabia que não podia fazer os meus exercícios de forma segura. A única coisa que podia fazer era animar as outras atletas dentro e fora da competição, estar lá e mostrar que estava tudo bem, contou.

“Vou estimar esta experiência olímpica única para sempre”. Com mais duas medalhas, Simone Biles está feliz e já se despediu de Tóquio

“Quando vou a caminho de um supermercado ou quando vou a qualquer outra parte, as pessoas sempre me disseram ‘Parabéns’. Gostava de saber porque me estavam a dar os parabéns. Pelo meu aniversário, pela minha carreira profissional… só me davam os parabéns por ganhar. Agora é como se fosse humana, como se fosse vulnerável. Geralmente não digo isto mas é bonito que ainda me reconheçam pelo que fiz, pelo que estou a fazer e pelo que superei”, acrescentou ainda a ginasta norte-americana de 24 anos.

Simone Biles quer focar-se na sua saúde mental e avisa: “Não queremos sair daqui numa maca”