O emir governante do Qatar, cujo país tem desempenhado um papel fundamental no Afeganistão após a retirada militar norte-americana, instou esta terça-feira os líderes mundiais reunidos na ONU a não virarem costas aos talibãs no poder no país.

Falando na tribuna da Assembleia-Geral das Nações Unidas, o xeque Tamim bin Hamad Al-Thani sublinhou “a necessidade de continuar o diálogo com os talibãs, porque um boicote só leva a extremar posições e reações, ao passo que o diálogo poderá trazer resultados positivos”.

O seu alerta dirigiu-se aos muitos chefes de Estado que estão preocupados em estabelecer relações com os talibãs e reconhecer a sua tomada do poder no Afeganistão.

Até agora, nenhum país procedeu ainda a um reconhecimento formal da ascensão dos talibãs ao poder pela força no país ou do seu Governo exclusivamente masculino, repleto de figuras importantes que estiveram antes encarceradas na prisão norte-americana de Guantanamo, em Cuba, ou se encontram numa lista de sanções da ONU.

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O grupo islamita radical declarou que este Governo exclusivamente composto por talibãs é apenas interino, gerando expectativas de que um futuro executivo venha a ser mais “inclusivo”, como prometido.

O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que também discursou esta terça-feira na Assembleia das Nações Unidas, disse que ao fim das operações militares norte-americanas no Afeganistão, no mês passado, se seguirá “uma nova era de diplomacia inabalável” com o resto do mundo.

Nesse mesmo espírito da diplomacia, o xeque Tamim disse que o Qatar concordou há anos acolher a liderança talibã no exílio, por “estar confiante de que a guerra não oferece soluções e de que acabaria por haver diálogo”.

O Qatar é um aliado próximo dos Estados Unidos e acolhe no seu território a maior base militar norte-americana no Médio Oriente, mas o pequeno Estado do golfo arábico tem alguma influência junto dos talibãs. Por causa do seu papel único, o Qatar foi o anfitrião de conversações diretas entre os Estados Unidos e os talibãs sobre a retirada norte-americana do Afeganistão e ajudou a facilitar a retirada de civis de Cabul.

Agora, países como os Estados Unidos e o Japão deslocaram o seu pessoal diplomático no Afeganistão para o Qatar, para prosseguir o seu trabalho a partir dali. O Qatar também está a ajudar a facultar o acesso da muito necessária ajuda humanitária e com operações de retirada de civis no aeroporto de Cabul.

O xeque Tamim instou esta terça-feira a que não se repitam erros do passado no Afeganistão “para impor um sistema político de fora”.

“Independentemente das intenções, dos esforços feitos e do dinheiro investido, esta experiência no Afeganistão entrou em colapso ao fim de 20 anos”, sustentou.

O dirigente qatari, de 41 anos, afirmou que a comunidade internacional deve continuar a apoiar o Afeganistão nesta fase crítica e “a separar ajuda humanitária de divergências políticas”.

O Afeganistão é um dos países mais pobres do mundo e recebe anualmente milhões de dólares em ajuda externa, embora isso possa mudar, com o Governo apoiado pelos Estados Unidos fora do poder e os talibãs agora no comando.