Seis dias depois de os pais o terem dado como desaparecido — ou nove, desde que saiu da casa onde morava com eles e a namorada, Gabby Petito, em North Port, na Florida, para ir fazer uma caminhada —, polícia e FBI continuam sem fazer ideia do paradeiro de Brian Laundrie.
Às buscas, por terra e pelo ar, que decorrem desde a passada sexta-feira na Reserva Carlton, no condado de Sarasota, onde Laundrie terá dito aos pais que ia caminhar, juntaram-se entretanto mergulhadores, que esta quarta-feira vasculharam os lagos e linhas de água do parque natural — em vão. O parque natural, já avisou a imprensa local, é um local inóspito, onde as possibilidades de sobrevivência durante tanto tempo serão praticamente nulas: além de a vegetação não ser comestível e de não existir água potável, há ursos, coiotes, panteras, dois tipos diferentes de cascavéis e muitos aligatores.
Quando Brian Laundrie, de 23 anos, saiu de casa dos pais, entretanto revistada e considerada pelas autoridades um potencial “local de crime”, Gabby Petito, a namorada desde os tempos do liceu, com quem vivia em casa dos pais e de quem tinha ficado noivo há apenas um ano, ainda estava desaparecida. Entretanto, o corpo da jovem, de 22 anos, foi encontrado no Grand Teton National Park, no estado do Wyoming, uma das paragens da viagem de caravana que tencionavam fazer a dois durante 4 meses, entre julho e novembro.
A causa do crime, determinou o médico legista logo no relatório preliminar da autópsia, foi homicídio. Os novos factos a juntar ao comportamento suspeito de Laundrie, que no dia 1 de setembro voltou a casa dos pais sem a namorada e se recusou, desde então, a dizer o que tinha acontecido ou onde ela estava, concederam ao jovem um novo estatuto: novo inimigo público número 1 nos Estados Unidos.
Todos os anos centenas de milhares de pessoas são dadas como desaparecidas no país, contabiliza o New York Times, que esta quinta-feira se debruça sobre o fenómeno em que se transformou o caso do desaparecimento/assassinato de Gabby Petito, mas muito poucas de entre elas, se é que alguma, alcança tal mediatismo. No domingo, ainda o cadáver da jovem não tinha sido encontrado, o popular podcast “Crime-Junkie”, sobre crimes reais, chegou a fazer um episódio especial, algo que nunca antes tinha sido feito, sobre um caso ainda em aberto. “Em quase quatro anos a fazer este programa, nunca, quero dizer nunca, vos vi num frenesim como este”, disse a dada altura a apresentadora à audiência, que rapidamente colocou o episódio no top 5 do Spotify. “Os nossos e-mails estão inundados. A nossa caixa de mensagens diretas está inundada”.
Por existir muita informação disponível online — tanto Gabby como Brian eram bastante ativos em redes como Instagram e Youtube —, vários milhares de “detetives da internet” estão neste momento a conduzir uma espécie de investigação alternativa e, por seu turno, a assoberbar as linhas de informação do FBI.
As suas descobertas, partilhadas num grupo do Reddit que já tem mais de 117 mil membros, levantam um pouco mais o véu sobre a personalidade de Brian Laundrie, que também está a ser atacado nas redes sociais, por internautas que reagem com insultos e às fotografias que partilhou há largos meses com a namorada.
Há pouco mais de um ano, Brian Laundrie publicou uma fotografia no Instagram, sorridente, com Gabby Petito. “Foi um ano incrível, de longe o melhor da minha vida. Estive em tantos sítios lindos, tive tantas experiências incríveis, e tudo com a melhor parceira do mundo!”, escreveu na legenda, nesta que foi apenas mais uma das várias demonstrações de amor que partilhou ao longo do namoro. De acordo com os amigos do casal, a relação era mesmo assim: “Tinham altos muito altos e baixos muito baixos. Mas ela sempre disse que ele era um bom namorado”, contou Alyssa Chen, amiga de Gabby, à revista People. “Num momento estavam um em cima do outro, no outro estavam a discutir”, confirmou Ben Matula, amigo de Brian.
Outros amigos descreveram a relação como “tóxica” e “cheia de drama” — o que as imagens entretanto tornadas públicas do momento em que o casal foi abordado por uma patrulha em Moab, no Utah, a meio de uma discussão, já tinham feito antever. Na altura, a polícia chamada por uma testemunha, que viu o casal a discutir e Gabby a entrar na carrinha pela janela do passageiro, como se Brian a tivesse trancado lá fora, detalhou o Washington Post, encontrou a jovem a “chorar incontrolavelmente”. Gabby explicou que tinham passado a manhã a discutir por “problemas pessoais”, disse que sofria de transtorno obsessivo-compulsivo e que, por vezes, a necessidade que sentia de limpar e arrumar era incontrolável. Brian contou que os problemas tinham tido início nessa mesma manhã, depois de ter entrado para a carrinha com os pés sujos de terra — e confirmou que os arranhões que tinha no braço e na cara tinham sido feitos pela namorada.
No final, os agentes concluíram que Gabby tinha sido a agressora, mas deixaram escrito que não lhes parecia que a situação “pudesse escalar para o nível de uma agressão doméstica ou de uma crise de saúde mental”, portanto não apresentaram quaisquer acusações e limitaram-se a ordenar ao casal que passasse a noite afastado, Gaby na caravana, Brian num hotel.
Os planos para o casamento e outras descobertas via Pinterest
Depois de terem namorado no liceu onde ambos andavam, em Long Island, no estado de Nova Iorque, Gabby e Brian separaram-se em 2016 quando ele, um ano mais velho, acabou a escola. Quando voltaram a juntar-se, anos mais tarde, aproveitaram a mudança dos pais dele, para a Florida, para irem morar juntos. Estavam noivos desde 2020 mas, de acordo com os pais de Gabby, não havia planos no horizonte para casamento.
A conta de Pinterest de Brian, descobriram entretanto os detetives da internet, será prova do contrário: existe uma pasta, chamada “Objetivos de vida”, partilhada pelos namorados e pela mãe dele, em que estão reunidas várias ideias para festas de casamento — logo ao lado de outra com roupas de bebé. Apesar de estarem já a circular várias teorias que apontam para uma gravidez de Gabby, não há nada nas informações veiculadas por autoridades e médicos que o confirme.
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É nesta conta de Pinterest que os detetives alternativos mais se têm concentrado nos últimos dias para saber mais sobre Brian Laundrie — que continua a ser considerado “pessoa de interesse” no caso e não foi alvo de qualquer acusação. À primeira vista, dá para perceber que é fã de Beatles, Talking Heads, Rolling Stones, The Kinks e Neil Young. Para além de coleções de capas de álbuns, no Pinterest, Brian tem coleções de padrões florais, desenhos animados infantis, tatuagens e frases feitas. Também sabe desenhar e chegou a partilhar desenhos inspirados em personagens de Fight Club, filme entre os seus favoritos, de que fazem parte também vários outros romances de Chuck Palahniuk.
Para os internautas que se dedicaram a tentar resolver o caso, serão sinais de que Brian Laundrie, que alguns amigos de Gabby Petito descrevem como ciumento mas também carinhoso e atencioso, ao ponto de preparar o pequeno-almoço todos os dias para a namorada, terá uma mente negra e perturbada.
O Daily Mail reuniu uma súmula dos posts considerados mais “macabros”. Inclui uma tatuagem a dizer “Não ressuscitar”, “Doutor, quero morrer com dignidade”; outra a dizer “Eu sou o herói desta história. Não preciso de ser salvo”; e uma frase, retirada de Fight Club, “Só depois de perdermos tudo seremos livres para fazer qualquer coisa”. Também há uma imagem de uma caveira, com uma citação de uma música dos Radiohead, “You do it to yourself, you do, And that’s what really hurts”; e uma ilustração do artista irlandês Sacha Strange, onde por entre vários fantasmas e palhaços se vislumbra uma lápide, com a inscrição “my baby”. “Ela nunca encontrará um homem doce como eu. Deixa-a ir, deixa-a ir, Deus a abençoe, onde quer que ela esteja”, pode ler-se, em inglês, também entre as figuras do desenho.
A causa de morte de Gabby Petito ainda não foi revelada. Os pais de Brian Laundrie, que só o deram como desaparecido três dias depois de ele ter saído de mochila às costas, rumo à Reserva Carlton, estão a ser acusados por alguns vizinhos de ter em saído com a caravana, alegadamente para acampar, dias depois de o filho ter voltado a casa sozinho — justamente a 11 de setembro, dia em que, do outro lado do país, os pais de Petito comunicavam o desaparecimento da filha às autoridades.