No dia em que o Governo anuncia a extinção da task force, o Financial Times (FT) destacou, num artigo dedicado ao sucesso da campanha de vacinação portuguesa, o papel do vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, que se “tornou num herói discreto de Portugal na luta contra a Covid-19”, escreve o jornal, depois de um arranque “desfavorável” nas mãos do antigo coordenador.
A publicação começa por lembrar a visita de Gouveia e Melo a um centro de vacinação onde foi ovacionado, por jovens entre os 12 e 15 anos e respetivos pais, e se terá emocionado perante o cenário. “Não conseguiu evitar”, citam. “As pessoas estavam a dizer-me que estavam comigo, que me apoiavam.”
O jornal britânico escreve ainda sobre a visita do vice-almirante a um centro de vacinação em Odivelas onde foi recebido por um grupo de negacionistas, recordando que havia cartazes que o chamavam de “assassino”, e aos quais o coordenador da task force terá respondido com “o verdadeiro assassino é o vírus”.
Este tipo de protestos não decorreu com frequência em Portugal e a “resposta esmagadoramente positiva do público a Gouveia e Melo”, aponta o FT, foi “um dos vários fatores que fizeram do país um pioneiro” no processo de vacinação.
Portugal é o país no mundo com maior taxa de vacinação, cujo número avançado esta terça-feira aponta já para os 84,03% de pessoas totalmente vacinadas, tendo ultrapassado países que lideravam o processo no início, como é o caso de Israel e Reino Unido, aponta o FT.
“O que importa é vacinar pessoas suficientes para proteger todo o grupo”, afirmou Gouveia e Melo numa conferência este mês aqui salientado pelo jornal. “Ser o primeiro, segundo ou terceiro no mundo não é importante”. A publicação britânica afirma que o sucesso da vacinação do país se deve, segundo os peritos, à “cooperação construtiva entre médicos, militares e funcionários locais”.
O Financial Times dá conta também das palavras da ministra da saúde Marta Temido que falou ao jornal e afiançou que o Sistema Nacional de Saúde (SNS) sempre teve especial atenção nos cuidados de saúde primários. “Os nossos médicos e enfermeiros têm estado no centro de uma estratégia baseada em centros de vacinação de grande escala, nos quais o apoio dos militares e dos municípios tem sido vital”, disse Temido ao Financial Times.
Gouveia e Melo, “vice-almirante de barba grisalha”, foi nomeado no início de fevereiro deste ano como coordenador da task force para a vacinação e terá “incutido confiança num programa que começou de forma desfavorável meses antes”, escreve o FT, referindo-se à demissão de Francisco Ramos, que saiu do cargo após detetar irregularidades no processo de seleção para vacinação dos profissionais do hospital da Cruz Vermelha.