O agente da polícia que matou Sarah Everard apresentou o cartão de identificação profissional para lhe levar a crer que estava a ser interpelada no âmbito de uma operação para assegurar o cumprimento das medidas contra a Covid-19 impostas em Inglaterra.

Afirmando que a gestora de marketing estava a desrespeitar essas mesmas regras, Wayne Couzens deteve-a utilizando as algemas da polícia e veio a matá-la com recurso ao cinto que integrava a farda. Após ter queimado o corpo, colocou-o num saco e desfez-se dele em Hoad’s Wood, condado de Kent.

Os detalhes sobre o modo como Wayne Couzens se aproximou de Sarah Everard para a raptar, violar e matar entre 3 e 4 de março começaram a ser revelados esta quarta-feira, o primeiro de dois dias de audiências, pelo promotor público Tom Little e descritos pelo The Guardian.

Naquela noite, Wayne Couzens não estava em funções, nem estava totalmente fardado, e cruzou-se com Sarah Everard quando esta saía de um jantar com amigos para se dirigir para casa. Após uma chamada telefónica com o namorado, foi abordada pelo agente da polícia, que seguia no interior de um carro alugado.

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O primeiro contacto entre Wayne Couzens e Sarah Everard aconteceu pouco depois das 21h32, após a mulher de 33 anos ter sido filmada pelas câmaras de segurança de Poynders Road e pela câmara instalada num carro de patrulha. As imagens de videovigilância foram compiladas neste artigo da BBC.

Às 21h38, a vítima já tinha sido algemada e colocada dentro do carro. O momento da falsa detenção foi testemunhado por uma mulher na vizinhança, que julgou que Sarah Everard estava a ser detida por um agente à paisana por ter feito “alguma coisa errada”.

A seguir, Wayne Couzens conduziu para fora de Londres em direção a  Tilmanstone, onde chegou já de madrugada. Depois de se ter desfeito do corpo da vítima, o atacante passou por uma loja para comprar uma bebida e uma bakewell (uma tarte tipicamente inglesa). Devolveu o carro nesse mesmo dia, 4 de março.

De regresso ao trabalho, não tendo confessado os crimes, Wayne Couzens afirmou que se sentia psicologicamente mal por causa do stress e que não queria ser portador de uma arma. A 8 de março já não compareceu ao trabalho e disse que estava doente.

No dia seguinte aos crimes, o namorado de Sarah Everard deu o alerta às autoridades, estranhando o facto de a gestora de marketing não ter comparecido ao encontro marcado entre os dois. A investigação iniciou-se nesse dia e culminou com a detenção de Wayne Couzens a 9 de março.

O corpo foi encontrado no dia seguinte e identificado através de registos dentários. A violação de Sarah Everard foi confirmada porque as equipas legais detetaram a presença de sémen no cadáver e análises posteriores provaram que pertencia a Wayne Couzens.

Além disso, a investigação ao corpo declarou como causa de morte a compressão no pescoço com um objeto cujas marcas coincidem com o do cinto da farda do agente. Um fragmento do cartão SIM do telemóvel da vítima também foi recuperado do carro utilizado pelo polícia.

Antes de ser levado para a esquadra, Wayne Couzens recebeu a visita da equipa de agentes responsável pela investigação do desaparecimento de Sarah Everard e o encontro ficou registado em vídeo. As imagens, publicadas pela BBC, mostram o atacante sentado no sofá de sua casa, algemado, durante a entrevista.

Quando um dos investigadores lhe mostra uma fotografia da mulher e lhe questiona se conhece Sarah, Wayne Couzens: “Não, não conheço”. O investigador prossegue dizendo: “A Sarah desapareceu”, enquanto lhe exibe mais fotografias da mulher.

“A Sarah desapareceu na quarta-feira e os pais dela, obviamente, a família dela está muito preocupada com ela. O inquérito que realizámos até agora levou-nos a vir aqui e falar consigo e ver o que sabe sobre a Sarah”, contextualiza o agente.

Wayne Couzens limita-se a acenar com a cabeça, nega saber do paradeiro de Sarah Everard e afirma que tudo o que sabe sobre a vítima é o que tinha sido transmitido pela comunicação social. “Já a conheceu pessoalmente?”, questiona o investigador, ao que o atacante responde que não.

Quando o polícia insiste na pergunta, reformulando-a para: “Já teve alguma interação com ela, qualquer uma?”, Wayne Couzens responde com uma nova interrogação: “Não, porque é que eu havia de ter interações pessoais com ela?”.

O agente recusa-se a dar-lhe mais detalhes da investigação, defendendo que “esse não era o objetivo da entrevista”: “O objetivo é encontrá-la”. É então que Wayne Couzens, encarando a equipa da polícia, se defende: “Estou sentado, algemado, e vocês estão a questionar-me porque é que a conheço, por isso devem ter alguma coisa para dizerem que a conheço”. O agente admite então que o homem é suspeito de rapto.