Dois dias depois de ser anunciado por Telmo Correia como futuro membro da bancada centrista, Sebastião Bugalho manifestou a sua “indisponibilidade” ao próprio líder parlamentar do CDS para assumir o lugar de deputado. O antigo jornalista e comentador da TVI explica que, num primeiro momento, não recusou o lugar porque quis pensar sobre o assunto, mas que “após 48 horas de reflexão” decidiu declinar o convite porque “as circunstâncias políticas (do CDS) e profissionais (minhas) não só não são as mesmas” de quando lhe foi feito o convite como, ao mesmo tempo, “não se aparentam conciliáveis entre si”.

Após a renúncia de Ana Rita Bessa do lugar de deputada, o nome seguinte na lista era Isabel Galriça Neto, que encabeçou a lista mais votada à Assembleia Municipal de Lisboa nas eleições de domingo e rejeitou assumir o lugar no Parlamento. Seguia-se Sebastião Bugalho que agora diz que apesar do “respeito que tem pelos eleitores e pelo partido” não tomará posse na próxima semana. E reitera que foi convidado “noutra circunstância” e “com outra direção”.

Sebastião Bugalho foi convidado por Assunção Cristas e era o sexto na lista do círculo de Lisboa nas legislativas de 2019. Com as saídas da ex-líder do CDS, de João Gonçalves Pereira e agora de Ana Rita Bessa, o lugar que na noite eleitoral (desastrosa para o CDS) parecia ser inelegível tornou-se uma realidade.

Durante estas 48 horas de reflexão, Sebastião Bugalho foi alvo de várias críticas públicas, além de saber que o líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, era frontalmente contra que ocupasse o lugar de deputado (mesmo que nada pudesse fazer para o evitar).

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Margarida Bentes Penedo, membro da Comissão Política Nacional e próxima de Rodrigues dos Santos, fez duras críticas publicamente. Na quarta-feira, na sua página do Facebook, escreveu que “Sebastião Bugalho é um sub-produto da direção anterior do CDS, da irresponsabilidade política com que Assunção Cristas construiu as listas à Assembleia da República, fechadas e anunciadas antes das eleições europeias.”

Para Bentes Penedo este foi um “amadorismo, que a vocação genial de Adolfo Mesquita Nunes, na altura a caminho da Galp, não soube ou não quis contrariar” e que “trouxe para lugares decisivos uma série de pessoas sem qualquer preparação ou experiência política”. A dirigente centrista lembrava ainda que “Sebastião Bugalho está, pelo menos desde 2019, contra o CDS, e contra a direção do CDS, posição que tem expressado em público sempre que agarra uma oportunidade”. Acrescentou ainda que Bugalho “declarou que o presidente do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, se devia demitir”, dizendo que o facto de aceitar o lugar mostrava que Bugalho”é capaz de tudo, menos de viver discretamente”. E concluía: “Se o Diabo o convidasse, Sebastião Bugalho aceitava um lugar de deputado no Inferno.”

Também José Maria Seabra Duque, que saiu do gabinete de estudos do partido no final de janeiro deste ano, disse que seria incompreensível o comentador ter aceitado o lugar: “Não compreendo a aceitação por Sebastião Bugalho do lugar de deputado pelo CDS. De há dois anos para cá o seu caminho não tem sido claramente o do CDS. Já deixou claro que considera que o presidente do partido devia demitir-se. Prometeu há dois anos que no dia a seguir às eleições se tornaria militante do CDS, promessa que não cumpriu.” Seabra Duque questionava ainda: “O que o leva então ao parlamento, em representação de um partido do qual está cada vez mais distante? Vem apenas para acicatar a guerra interna? Para ter um palco onde pode defender a sua agenda pessoal? O orgulho?”