A economia portuguesa deverá crescer 4,8% em 2021, reiterou esta quarta-feira o Banco de Portugal na apresentação do Boletim Económico de outubro. A confirmar-se este crescimento, assinala o supervisor bancário, isso significará que o Produto Interno Bruto (PIB) se irá aproximar-se do nível pré-pandemia no final do ano. Por outro lado, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, indicou que vê com “tranquilidade” o impacto do fim das moratórias bancárias (em setembro) mas sublinhou que a economia portuguesa continua muito endividada e “isso deve preocupar-nos a todos”.
“A recuperação da atividade reflete o controlo da pandemia, através do processo de vacinação – com efeitos positivos na confiança dos agentes económicos – e a manutenção de políticas económicas expansionistas”, afirma o Banco de Portugal, antecipando, também, que a taxa de inflação irá situar-se em 0,9% em 2021, embora se reconheçam ser “claramente em alta” os riscos associados à subida dos preços, ou seja, são maiores os riscos de que a inflação seja maior do que o previsto do que menor.
Em conferência de imprensa, Mário Centeno, falou sobre os desafios que a economia enfrenta neste momento. Desde logo, “o país e as empresas, as famílias, saíram em setembro do período de moratórias bancárias. Esse é um desafio que todos estão a enfrentar neste momento e que eu gostava de sublinhar”.
Temos uma visão de que esse desafio vai ser vencido, no sentido de que vamos retomar o pagamento regular do serviço de dívida quer por empresas quer pelas famílias e, com as medidas que entretanto foram implementadas ou outras que possam surgir, vemos a questão com tranquilidade”, diz Mário Centeno.
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Sobre a dívida pública, Mário Centeno começou por dizer que “no período anterior à crise observámos uma redução muito significativa da dívida privada”, em concreto “no ano de 2019, pela primeira vez em muitos, a dívida privada em percentagem do PIB esteve abaixo da média da área do euro”. Nesta fase da pandemia, Centeno sublinha que “devemos retomar esta tendência, devemos preocupar-nos com o nível de endividamento quer público quer privado“.
O maior esforço de endividamento foi do Estado, em 2021, respondendo por 80% do aumento da dívida total. Esta é obviamente uma preocupação no quadro orçamental presente”, afirmou Centeno, acrescentando que “as políticas públicas, incluindo o saldo orçamental, devem ser as adequadas e redobrar atenção a eventos sistémicos”.
Outros riscos para a economia portuguesa no curto prazo estão ligados à possibilidade de deterioração da situação pandémica e, por outro lado, mais contrangimentos na oferta (de bens e serviços). Esses são fatores que podem pesar, por exemplo, num consumo privado que o Banco de Portugal reconhece ter sido “surpreendente” (pela positiva) à medida que as restrições sanitárias foram sendo levantadas ao longo do ano.
Este é um boletim económico trimestral que, nesta edição de outubro, como habitualmente, não inclui previsões novas para 2022. A previsão feita em junho para o próximo ano foi de 5,6%. Eis como estas previsões se comparam com as feitas em junho.
“No primeiro semestre, a queda da atividade e subsequente recuperação foram mais acentuadas nos serviços que envolvem maior contacto social. A despesa em serviços permanece abaixo do período pré-pandémico, dada a persistência de comportamentos de precaução, a recuperação lenta do turismo e um maior recurso ao teletrabalho”, afirma o Banco de Portugal. “Em contraste, a despesa em bens está já acima, embora condicionada pelas perturbações na oferta”, acrescenta o documento.
O consumo privado cresce 4,3% em 2021, acrescenta o supervisor, destacando os efeitos do “crescimento do rendimento disponível e a redução gradual da taxa de poupança”. “O crescimento do rendimento disponível em termos reais resulta da recuperação forte do emprego e do dinamismo dos salários nominais, sendo atenuado pelo aumento da inflação”, nota o Banco de Portugal.
O consumo público deverá crescer 5,2% em termos reais, após uma quase estabilização em 2020. O investimento aumenta 5,6%, sustentado pelas perspetivas de recuperação, pelos fundos europeus e pelo crédito a taxas de juro baixas e com garantia do Estado”, diz o Banco de Portugal.
Já as exportações de bens “crescem 10,7% em 2021, acompanhando o dinamismo da procura externa dirigida à economia portuguesa”, afirma o Banco de Portugal, notando que “as perturbações nas cadeias de abastecimento continuam a afetar a evolução deste agregado até ao final do ano”.
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Por outro lado, “as exportações de serviços continuam condicionadas pelo impacto da pandemia em 2021, crescendo 7%, após uma redução de 37,2% no ano anterior”. “No final do ano, as exportações de serviços situam-se cerca de 20% abaixo dos valores pré-pandemia”, remata o supervisor.