O diretor do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) alertou esta quinta-feira para um possível aumento de doença viral, com a retirada das máscaras, e defendeu que o seu uso tem de ser equilibrado.
“Há um medo que tenho, porque sou pneumologista, que se a retirada das máscaras for generalizada, vamos ter um aumento de doença viral difusa ao nível do país”, afirmou Salvato Feijó, também diretor clínico do CHL, que esta quinta-feira reuniu com o presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, devido à escassez de profissionais de saúde nas urgências do hospital de Leiria.
O especialista sublinhou, contudo, que não pode dizer para que o uso de máscara seja contínuo, pois “isso também representa um risco para a população”.
Se passarmos muito tempo sem exposição viral, a nossa capacidade imunitária também diminui. Portanto, isso tem de ser gerido de forma que haja um equilíbrio”, sublinhou.
Salvato Feijó acrescentou que “se isso acontecer no período do inverno”, irá “ter um aumento de afluência [nas urgências], que será muito comprometedora para uma estrutura que já está, muitas vezes, a jogar nos limites”, como é o caso do Serviço de Urgência do hospital de Leiria.
“Esperemos que isso não aconteça. Ninguém sabe bem, mas as máscaras quanto a mim vão ter um papel muito preponderante”, reforçou, recusando que a situação nas urgências do Hospital de Santo André seja “gravíssima”, como referiu o presidente da Secção Regional da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.
Para Salvato Feijó, trata-se de um “problema grave”. “Tivemos apenas um único episódio excecional em que não tivemos médicos ortopedistas durante um período de 12 horas. Estamos a colmatar isso com recurso a médicos contratados. Neste momento, estamos a conseguir gerir, não da maneira que gostaríamos, mas da maneira que é possível, neste momento”, acrescentou.
O diretor clínico lembrou ainda que a urgência de Leiria tem “uma área de influência de 400 mil habitantes, tem uma elevada procura, tem doentes muito graves e, portanto, não são aqueles que vêm com uma dor e vão embora”.
“São doentes mais complicados, cheios de comorbilidades, atendendo também ao envelhecimento da população desta região, e põem-nos certos problemas”, constatou, revelando que têm sido os médicos do quadro quem tem ajudado a completar a escala, quando os profissionais de saúde contratados a empresas externas não comparecem ao serviço.
O médico reconhece, contudo, que é um “esforço muito extra, porque já todos estão com horas extraordinárias em grande quantidade” e admitiu que é uma situação em que se “tapa de um lado e destapa do outro”.
Salvato Feijó revelou que a criação de uma equipa fixa para o serviço de urgência, em julho, melhorou o atendimento. “Contratámos 12 médicos generalistas e conseguimos ter uma mancha durante o dia, entre as oito da manhã e as oito da noite, aos dias de semana, completamente coberta e bem coberta. Só que aos fins de semana e durante a noite temos as fragilidades de que estávamos a falar. É aí que temos que optar por um esforço individual dos nossos médicos e que normalmente é um esforço individual e supletivo, com grande custo da sua vida familiar e pessoal”, constatou.
O diretor clínico afirmou ainda que o Ministério da Saúde “está a ter uma atenção particular a estes aspetos, até porque o sistema nacional de saúde está a mostrar algumas fraturas que são exemplo indicativo daquilo que poderá vir a ser cada vez mais grave, à medida que o envelhecimento também da população médica se vai dando”.