Aníbal Cavaco Silva responsabiliza o PS pelo empobrecimento do país e diz que o poder socialista usa “uma linguagem ameaçadora, rude e mesmo ofensiva com que ataca quem ouse criticar o Governo”. Há “muitos portugueses que têm medo de criticar” o Executivo por medo de perder o emprego ou serem “injustamente excluídos de oportunidades de realização pessoal ou de negócios”, aponta.

Num artigo de opinião publicado esta sexta-feira no jornal Expresso, o ex-Presidente da República deixa ainda críticas a Rui Rio: “Portugal tem uma oposição política débil e sem rumo” e aproveita para elogiar o governo de Passos Coelho.

Cavaco Silva considera que desde 1999, ano em que se inicia o segundo mandato de António Guterres, “tudo” mudou: “Portugal começara a atrasar-se em relação aos países e a desfazer-se a esperança de que atingisse o nível de desenvolvimento médio da UE por volta de 2010-2015”. O culpado? O governo socialista.

Passados 20 anos, o ex-primeiro-ministro salienta que os “traços marcantes da evolução da economia portuguesa” continuam a ser os mesmos: “a estagnação económica” e o “empobrecimento em relação aos outros países do grupo europeu”. E volta a culpabilizar o PS por Portugal já ter sido superado, em 16 anos, por países da União Europeia como a Estónia, a Eslovénia e a República Checa, que estiveram subjugados “a décadas de estatismo comunista”. 

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“Nas duas décadas do século XXI, a economia portuguesa cresceu à taxa média anual de apenas 0,5%. Segundo um estudo do Banco de Portugal, a produção por habitante de Portugal em 2018 era pior do que em 1995″, escreveu Cavaco Silva, que diz que o empobrecimento do país implica salários “baixos” e “insuficientes”, uma “classe média empobrecida” e fortes “desigualdades sociais”.

“Por tudo isto são responsáveis os governos do Partido Socialista”, culpabiliza mais uma vez.

Cavaco Silva analisou os governos de José Sócrates, dizendo que este “insistiu teimosamente em políticas económicas erradas”, que conduziram Portugal a uma “situação de bancarrota em que ao Estado faltava o dinheiro para pagar salários e pensões”. Por outro lado, elogia o executivo de Passos Coelho que “corrigiu os profundos desequilíbrios económicos e financeiros que o país acumulara” e “colocou-o numa trajetória de crescimento económico”.

Quanto a gerigonça, Cavaco Silva frisa que levou a Portugal a “crescer menos” e que “foi o reflexo de uma vitória dos partidos da extrema-esquerda” — o BE e o PCP —, que”explicitamente apoiam Governos de países onde impera a ditadura e a miséria”.

Bazuca não vai inverter “decadência relativa do país”

Sobre o Plano de Recuperação e Resiliência, Cavaco Silva não está confiante de que possa haver uma “inversão da decadência relativa do país”. “Sem uma clara mudança de rumo, Portugal continuará a decair para a cauda da zona euro em termos de riqueza produzida por habitante.” Será, por isso, para o antigo chefe de Estado, “penoso” ver o país perder uma “oportunidade de ouro” para se aproximar “do pelotão da frente da União Europeia”.

Cavaco culpa “oposição débil” e “subserviência” da comunicação social

O ex-líder do PSD considera que o empobrecimento do país se deve, também, à “oposição política débil e sem rumo”. Numa crítica direta a Rui Rio, Cavaco Silva diz que não existe uma “estratégia consistente de denúncia dos erros, omissões e atitudes eticamente reprováveis do Governo” por parte da direita.

Além disso, o ex-Presidente da República afirma que o PS controla o aparelho do Estado, “incluindo entidades da nossa democracia a quem é exigido distanciamento e independência em relação ao poder político” e que promovem “campanhas de descredibilização de partidos da oposição”.

E Cavaco Silva atira ainda farpas à comunicação social, cuja “subserviência” fez que houvesse um “silenciamento” da temática do empobrecimento, que devia estar a ser debatida na esfera pública.

“A aposta socialista no silenciamento do empobrecimento relativo do país é uma expressão da perda de qualidade da democracia portuguesa, a que se têm referido vários autores e relatórios internacionais, sublinhando que Portugal deixou de ser uma democracia plena”, destacou.