Uma criança de três anos do leste da República Democrática do Congo contraiu o vírus ébola, cinco meses após a declaração do fim oficial da 12.ª epidemia da doença no país, revelou na sexta-feira o Ministério da Saúde congolês.
“Este novo ressurgimento do vírus (…) ocorreu na zona sanitária de Beni”, na província de Kivu do Norte, disse o ministério em comunicado, sendo que o caso envolve “uma criança de três anos, do sexo masculino, que foi hospitalizada e que morreu a 6 de outubro”.
Uma amostra de sangue da criança foi enviada para análise em Goma, capital da província, tendo sido o resultado sido positiva em relação ao vírus ébola.
De acordo com o ministério da Saúde congolês, as equipas estão a “trabalhar arduamente” no terreno, nomeadamente para garantir “o rastreio e o seguimento de cerca de 100 contactos detetados até à data e a descontaminação das unidades de saúde”.
“Graças à experiência adquirida na gestão contra o vírus ébola em epidemias anteriores, temos a certeza de que as equipes de resposta (…) serão capazes de controlar esta epidemia o mais rápido possível”, lê-se no comunicado.
No início de maio, a RDC declarou o final da 12.ª epidemia de ébola no país, durante a qual foram registados 12 casos, dos quais seis das pessoas que contraíram o vírus morreram e centenas foram vacinadas.
A doença reapareceu em fevereiro numa área de Kivu do Norte, atingida entre agosto de 2018 e junho de 2020 pelo maior surto da história da RDC em termos da febre hemorrágica ébola (3.470 infeções, 2.287 mortos).
Identificado pela primeira vez em 1976 na RDC (antigo Zaire), o vírus ébola é transmitido ao homem por animais infetados.
A transmissão aos humanos ocorre através de fluidos corporais, tendo como principais sintomas febre, vómitos, sangramento e diarreia.
Os tratamentos já demonstraram alguma eficácia contra a febre hemorrágica, assim como as vacinas administradas num ambiente de casos positivos.
OMS colabora na investigação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) está a ajudar as autoridades da República Democrática do Congo (RDC) a investigar o ressurgimento do ébola, após a morte de uma criança infetada, anunciou a agência da ONU.
O novo caso vitimou uma criança de três anos no nordeste da RDC, cinco meses após a declaração oficial do fim da 12.ª epidemia da doença no país, revelou o Ministério da Saúde congolês na sexta-feira à noite.
A diretora da OMS para África, Matshidiso Moet, disse este sábado que a agência da ONU “está a apoiar as autoridades sanitárias na investigação do novo caso de ébola”.
“O Kivu do Norte foi atingido por surtos de ébola nos últimos anos, mas isto aumentou a perícia local e a consciência da comunidade, abrindo caminho para uma resposta rápida”, disse a médica do Botsuana, citada pela agência de notícias espanhola EFE.
Segundo a OMS, “não é raro que casos esporádicos ocorram após um surto importante, mas é demasiado cedo para dizer se este caso está ligado a surtos anteriores”.
Na sexta-feira, ao final do dia, o ministro da Saúde congolês, Jean-Jacques Mbungani, disse que o rapaz infetado morreu, na quarta-feira, num hospital na zona de Butsili no território do Beni, na província do Kivu Norte.
Mbungani referiu que as equipas de saúde estavam a “trabalhar intensamente no terreno para realizar atividades de resposta, em particular a listagem e acompanhamento de cerca de 100 contactos até à data e a descontaminação das instalações de saúde”.
“Graças à experiência adquirida na gestão da doença do vírus ébola em epidemias anteriores, estamos confiantes de que as equipas de resposta na província, apoiadas pela administração central, colocarão esta epidemia sob controlo o mais rapidamente possível”, disse o ministro na sexta-feira.
O novo caso foi revelado após o Ministério da Saúde ter declarado, em 3 de maio, o fim do 12.º surto de ébola na RDC, que causou 12 infeções, incluindo seis mortes, no Kivu do Norte.
O último surto foi declarado em 7 de fevereiro, e envolveu casos nas cidades de Butembo, Byena, Katwa e Musienene, todas na província.
Segundo a OMS, este surto esteve ligado ao que ocorreu nas províncias orientais do Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri entre 2018 e 2020, a décima epidemia de ébola na RDC, que causou 2.299 mortes, de acordo com dados da agência da ONU.
Esta epidemia foi a pior da história da RDC e a segunda mais grave do mundo, depois daquela que assolou a África Ocidental de 2014 a 2016, que provocou pelo menos 11.300 mortos em mais de 28.500 casos.
A doença do ébola, descoberta na República Democrática do Congo em 1976 – então chamada Zaire —, é transmitida por contacto direto com o sangue e fluidos corporais de pessoas ou animais infetados.
A febre causa hemorragias graves e pode ter uma taxa de mortalidade de 90%.
Os seus primeiros sintomas são febre alta súbita, fraqueza grave, dores musculares, dores de cabeça, dor de garganta e vómitos.